Fio pra vc ficar no ódio do agro. Vamos falar sobre terra no nosso continente? O estudo CERCAS DIGITAIS traz algumas informações fundamentais para pensar a questão agrária no nosso continente. Vamos lá: "1% dos proprietários rurais concentra 51% das terras agrícolas".+
A FAO identificava 2,8 bilhões de hectares de terras agricultáveis para expansão da fronteira agrícola no mundo em 2000. Este número caiu para 1,4 bilhão em 2012. 80% estava na América Latina e África Subsaariana. Ou seja, olha o quanto avançou o agro na década passada.+
5 zonas de expansão do agronegócio: a Orinoquia ou os Llanos Orientais (COL); o Matopiba no Cerrado (BRA); e as regiões da hidrovia Paraná-Paraguai, regiões de Santa Cruz de la Sierra e Beni nos bosques secos chiquitanos na Bolívia, o Chaco Seco (PAR) e o Chago (ARG).+
O que os pesquisadores acharam? (1) Alta concentração de terras, acima de 2mil ha (hectares). "40% das terras no Paraguai são controlados por 600 imóveis acima de 10 mil ha". Destaque desgraçado para o Cerrado do BR onde há propriedade com 1 milhão de ha no MT e BA. +
Para que são estas terras? (2) Pecuária e soja são o carro chefe e responsáveis pelo desmatamento destas regiões. "Dos 16,5 milhões de há convertidos pela agropecuária no Brasil nos últimos 10 anos, 12 milhões de ha foi com soja". +
A Bolívia desmatou mais de 12 milhões ha só em 2019. E aí a gente precisa lembrar que Evo só caiu no final do ano, tá? Estava se abraçando com o agronegócio e, que nem Dilma, tomou um tombo. Quem não ouve conselho, ouve coitado.+
O Chaco argentino no período de Macri foi se convertendo em pastagem e em produção agrícola de forma acelerada. Lembrando que o "liberal" chegou a tentar impedir o escoamento da produção de trigo para o mercado mundial no meio da crise. O setor se refestelou.+
E quem tá ganhando com tudo isso? Eis o ponto (3), são os estrangeiros. Por aquisição, contrato ou na logística, multinacionais como a Cargill é que estão na ponta do lucro. E sabe aqueles suspeitos, muito envolvidos em corrupção, fundos de pensão? Pois bem tão nisso até o talo.+
"A estrangeirização do controle sobre terras é especialmente relevante no Paraguai, estima- se que 35% de suas terras esteja sob controle direto ou indireto estrangeiro". E quem é o estrangeiro lá? É o BR, mesmo, acertô.+ oxfam.org.br/noticias/agron…
E as terras coletivas, como estão? Os caras tão usando a tecnologia pra sacanear. (4) Basicamente o georreferenciamento e a digitalização da governança tem ajudado a destinar as terras coletivas para o mercado fundiário. A tecnologia ajudando a piorar o bagulho.+
O diagnóstico (5) é que a reforma agrária e as titulações coletivas está em recuo. "Na região de Santa Cruz (BOL), 1,8 milhões de há das melhores terras foram excluídas da reforma agrária pelo cadastro de terras e posteriormente titulados em favor de empresas agropecuárias".+
E, por fim, (6) a atração de capital estrangeiro tem sido feito "tendo como lastro patrimônios rurais criados especificamente para garantia de dívidas, como a terra (ou frações dela), a safra futura ou mesmo os 'serviços ambientais'". + g1.globo.com/economia/agron…
Estas são as primeiras indicações genéricas sobre as 5 regiões. Vocês podem olhar o relatório para cada uma das regiões através no link abaixo. Vale muito a leitura e reflexão. Os golpes na América Latina estão associados à tomada de território aqui.+ grain.org/e/6531#.X2tVi0…
Por fim, ou a gente começa a observar que as potências estrangeiras vão tomar nossos territórios ou colocar capatazes brasileiros para administrá-los contra nós, ou vamos seguir acreditando que estamos apenas numa disputa política. Não é desenvolvimento, é guerra.+
E para lutar esta guerra, primeiro precisamo reconhecer que ela existe, que nós somos os povos invadidos e tratar de costurar alianças porque eles lá em cima estão bem articulados e com muito brasileiro desgraçado disposto a defendê-los em seu projeto de destruição. +
Tomemos, pois, consciência de nossa condição, ajustemos nosso foco para dar prioridade a questão da terra e percebamos: a natureza depende desta luta. Não sabemos se vamos conseguir sobreviver com tanta destruição. É uma tarefa histórica e está na nossa mão.
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Vou fazer 38 anos esse ano. Minha luta política começou há 20 anos. Fazem exatos 21 anos que se repete a ladainha que se a gente não apoiar o PT a direita volta. São duas décadas de obliteração da crítica. Mas detalhe: sem nenhuma propositura de caminho de transformação radical.+
Nem a esquerda obliterada de crítica conseguiu erguer um novo caminho, tampouco os gestores da miséria (governos progressistas) conseguiram criar uma experiência fortalecimento político da classe trabalhadora. Não estou falando de política pública, mas de politização da base.+
Nessas duas décadas nós vimos a direita se militarizar, se organizar, estruturar novos caminhos políticos, produzir seus conteúdos e seus intelectuais, aprofundar a ação política ao ponto de tentar golpe. Do nosso lado restou a defesa da ordem. Eis o imobilismo político.+
A cura no coletivo. Uma vez no ápice do processo persecutório do governo bolsonarista, eu falei aqui que se tivesse que fugir, fugiria pra dentro do Brasil. Cada vez mais próximo de nossa gente. Hoje eu queria falar um pouco de cura através do coletivo de luta.+
Nos últimos tempos no meio de um processo interno muito sofrido, acabei desenvolvendo uma paralisia facial parcial (chamada Paralisia de Bell) no lado direito do rosto. Doença esquisitíssima, chata de lidar e conviver, sem muitas certezas sobre o período de cura.+
Depois daquele leve desespero e da certeza de que embora grave seria possível lidar com ela, veja... eu tomei todos os cuidados médicos e fisioterapêuticos. Mas vim pra uma comunidade, um território, ajudar minha gente um pouco e receber seu carinho, afeto, seu cuidado.+
Essa violência de Israel e o clamor por direito e justiça da Palestina lembra muito que esse tipo de violação é muito comum aqui. Nós vimos inumeráveis vezes o Estado atacar comunidades e os mecanismos de justiça ignorar o clamor enquanto o povo seguia sendo assassinado.+
O chocante do caso israelense é a disposição ao extermínio palestino com todas as câmeras voltadas para si, à luz do dia. E, bem, sabemos que só faz isso quem tem muito poder, costas quentes, e ataca gente tão desvalorizada que não valeria o sangue de gente solidária.+
Disso sabemos bem. Desde que organizações pretas começaram a falar de genocídio preto nas periferias, os organismos de direitos humanos vai de um "não exagere" até um "deixe disso, não é o momento". Afinal, são pretos na periferia. E ali a punição coletiva é a regra.+
Saiu minha reflexão sobre junho de 2013 no lançamento do @alamedainst . Eu partir da marcha contra o genocídio preto feita pela @reajanasruas para mostrar que nem toda marcha foi difusa e não acumulou politicamente. A gente precisa ir para além da conjuntura.+
Para fazer essa reflexão eu mostro que invés de ensinar ao povo, temos que aprender com quem está na luta ao rés do chão. E para isso convoco a experiência do comando vital da Reaja, Dra. Andreia Beatriz, com quem podemos aprender grandes lições.+
Algumas ideias para anotarmos:
- nem toda marcha de 2013 foi dispersa, excessivamente plural e com riscos de captura pela direita.
Como a direita capturaria o debate sobre o genocídio do povo preto? Havia ali programa, organização e base social sólida.+
Boa parte das grandes lutas populares no Brasil tiveram componente de religiosidade popular. E para mim o componente religião não é o aspecto principal. Eu vejo na experiência espiritual e na formação de uma nova conduta ética o mourão que as sustentava. Mas como estudar isso? +
Como historiador dá para ver o quanto é muito difícil acessar o conteúdo espiritual dessas grandes lutas e rebeliões. Outro dia tinha historiador preto negando a existência de Maria Felipa só para provar que tinha retidão metodológica ou coisa que valha. É complicado.+
E aí só vivendo algumas coisas para a gente ter a noção desses aspectos. Só a gente conhecendo as pessoas para ouvir as memórias, conhecer as práticas e ver como essas histórias e uma conduta espiritual e ética de superação seguem vivas ali e acolá na luta popular.+
Um dos maiores erros políticos do debate da reivindicação das identidades ancestrais (que ocorre mais entre nós negros) é que a busca por um passado glorioso pré-escravidão atlântica não tem tardado a reivindicar contra-exemplos de libertação dos povos. +
O caso da reivindicação do Egito ou Kemet é o mais emblemático, mas não é o único. Qual é a necessidade política de demandar que uma ocupadora, usurpadora, colonizadora seja representada como negra? Criar um lugar de representatividade na violação, na violência?+
Os zapatistas dão uma importante lição à essa respeito: "Nós zapatistas NÃO queremos voltar a esse passado, nem só, nem muito menos de mãos dadas a quem quer semear o rancor racial e pretende alimentar seu nacionalismo tresnoitado com o suposto esplendor de um império, o asteca,+