Nas primeiras semanas das minhas aulas de comunicação política ensino aos meninos que, na propaganda, há que se considerar sempre que tem "o nosso lado", os aliados, o adversário (às vezes, inimigo) e os neutros. E que nunca, nunca se deve esquecer de diferenciar entre os 4
Mas os gênios da militância política de esquerda online se convenceram de que não são 4 grupos, mas 2. Eles traçam um círculo, "nós" estamos do lado de dentro, e tudo que nos circunda é inimigo. Ninguém é neutro e aliado ou é igual a nós ou é contra nós.
Ensino também que, geralmente, não dá para enfrentar o adversário se não se garante o maior número possível de aliados e se não se garante que terceiros não virem nossos adversários. É preciso cultivar a amizade dos neutros pra gente não ter mais inimigos do que dá conta.
Mas os gênios da militância digital de esquerda se esmeram em excomungar aliados (não são iguais a nós, não podemos confiar) e a fazer tudo o que for possível para que os neutros ("não existem") virem nossos inimigos e se juntem ao adversário. E a Tabata, heim? E o Felipe Neto?
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Já coletamos os dados do cancelamento de Ludmilla. Por que tão cedo? Porque a única questão agora é saber quando Ludmilla vai capitular, apagar o post em que se justifica e refuta as acusações e pedir desculpas de joelhos. Lilia Schwarcz aguentou um dia, Porchat, uma semana.
O fato é que ninguém aguenta mais de uma semana de processo e torturas da Santa Inquisição Identitária. Não importa quão sabido, gente boa, inteligente e celebridade você seja. A pressão dos patrocinadores e do público, os cancelamentos de contratos, o declínio dos convites
Não tem esse que aguente, num mundo em que as certificações identitárias são um capital social importante, ser tratado como um pária racista, ___fóbico, misógino, etc. e banido do convívio com os santos. E não importa se as acusações são verdadeiras ou falsas.
Lendo os comentários do corredor polonês das vestais morais à explicação de Ludmilla, frequentado por guerreiros da virtude da dimensão de uma Flávia Oliveira ou Erika Hilton, noto que se compartilham algumas crenças fundamentais e indiscutíveis: +
1) Um plano q dura uma fração de segundo num doc politicamente corretíssimo tem o condão de "incentivar", "reforçar" e "difundir" racismo religioso e violência contra templos de religiões de matrizes africanas. A indiscutível estimativa de dano desse plano é uma coisa espantosa
2) Por essa razão, Ludmilla se torna imediata e inequivocamente responsabilizável pela violência que sofrem as religiões de matrizes africanas nas favelas do Brasil. Essa fração de segundos foi um ato político que anula todo o resto do doc e condena Ludmilla inexoravelmente.
Racismo é um tipo de preconceito social que, supondo que os humanos se dividem em raça, como outros bichos, considera que pelo menos uma delas é composta por humanos inferiores. Me parece banal, não? Acho que esta é mais ou menos a compreensão comum de racismo. E bem sensata.
Os identitários e os complacentes q os cercam tomaram há alguns anos a decisão de que, não, racismo não era mais isso. E criaram um conceito alternativo com 2 objetivos: dar uma excludente de ilicitude para membros de certos grupos e atribuir o monopólio do racismo a outro grupo
Há alguns dia pedi que me desse um fundamento racional para o dogma segundo o qual é impossível a qualquer outro grupo, exceto os brancos, ser racista e agir com racismo. Em suma, pedi que conceito de racismo é esse em que só um tipo de humano pode praticar e o outro, sofrer.
Uma colega foi acusada de transfobia e racismo pq "errou os pronomes" de uma aluna trans que estava vendo pela 1ª vez, pq não tinha aparecido até ontem. Acusada, julgada pelo coletivo, condenada e já punida (humilhada, xingada, manifestação, demissão solicitada) em menos de 24 h
A justiça-trans é o processo judicial mais célere e simplificado do mundo. Quem acusa ao mesmo tempo julga, condena, expede a sentença e se encarrega da punição. Na verdade, a acusação = condenação pois uma pessoa trans ñ se engana nunca e devido processo é coisa de cis colonial
O lugar mais insalubre para se trabalhar hoje, por razões de envenenamento ideológico, são as universidades. Ao menor interesse contrariado, à menor reivindicação de hierarquia pedagógica, à mera indicação de bibliografia pode corresponder uma acusação de crime identitário.
Analisando aqui o que me dizem os apoiadores da investida do governo e do STF contra Google e Telegram, fico desconcertado com algumas constatações. 1) Muita, mas muita gente mesmo, está adotando um conceito de fake news/desinformação completamente insustentável. +
Opiniões, mesmo erradas ou desagradáveis, não são FN. FNsão falsos relatos de fatos, geralmente com propósito de atacar a imagem e a reputação dos envolvidos. "O PL autoriza a censura à versículos bíblicos" é FN. "O PL traz sérias ameaças à liberdade de expressão" (Google), não.
2) "Ah, coitadinho do Google" ou "A disparidade de forças entre as plataformas e o outro lado do lobby é imensa" não são argumentos válidos. Leis não são para proteger ou regulamentar coitadinhos. Ou poderosos. Todo mundo merece ser protegido, todo mundo tem obrigações.
E cisca, e simboliza, e "pela primeira vez na história desse país", e homenageia, e vai... Tudo bem, ainda é mais espuma que qualquer coisa, mas, vem cá, esse governo vai levar a sério a transformação digital da governança, da prestação de serviços públicos e da democracia? +
Sim, pq país avançava a passos largos até o governo Dilma I em democracia e governo digitais, em governo aberto e em transparência digital. De lá pra cá só retrocesso. Com Temer, ainda teve o projeto de Governo Digital (que no governo Bozo foi parar na Economia). +
Com Bozo houve apagão até do governo e da democracia propriamente ditos, quanto mais da transformação digital do governo e da democracia. O descompasso com o mundo ficou enorme. Esperava-se que o governo Lula enfrentasse isso como o fez com outras áreas prioritárias. Mas não.