Bom dia. Farei um fio sobre o que, até aqui, as eleições em BH e SP podem estar sugerindo em relação ao perfil das candidaturas de esquerda. Segue o fio.
1) A pesquisa IBOPE realizada em Belo Horizonte indicou que os candidatos do PT e PSOL somados atingiram 5% da intenção de voto na capital mineira. Na eleição de 2016, PT teve mais de 7% e PSOL, mais de 4%. Em 2012, PT obteve 40% dos votos e PSOL, 4%.
2) Já em São Paulo, o IBOPE indica PSOL com 8% (em terceiro lugar na intenção de voto) e PT com 1%. Em 2008, PT obteve 32% dos votos e PSOL, menos de 1%. Em 2012, PT obteve 28% dos votos e PSOL, 1%.
3) Poderíamos dizer que PSOL, em Belo Horizonte, mantém sua marca histórica que é inferior a 4%. Em São Paulo, até aqui, obtém uma extraordinária performance, aumentando seu potencial em 8 vezes. Contudo, em 2012, PSOL chegou a 10% no início da campanha do primeiro turno
4) Esta é uma eleição de tiro curto. Temos pouco mais de 6 semanas de campanha. O que poderíamos tirar de hipóteses deste desempenho dos dois mais importantes partidos de esquerda do Brasil?
5) Minha hipótese é que, no sudeste, o PT revela o esgotamento de sua primeira geração de lideranças. Soma-se a esta hipótese os erros das gestões Fernando Pimentel (ex-governador de MG) e Fernando Haddad (prefeito de São Paulo).
6) PT vem tendo dificuldades internas para dar espaço para novas lideranças. No caso mineiro, a liderança mais popular é a da deputada Bia Cerqueira, ex-dirigente do maior sindicato de trabalhadores de MG, o SindUTE. No caso de São Paulo, a burocracia do PT é uma barreira
7) Já o PSOL, parece viver uma situação inversa à do PT: vive uma profusão de novas lideranças e não tem lastro negativo de gestões passadas. Uma vantagem que também carrega dificuldades: não gera muita segurança no eleitor e vive uma dança das cadeiras entre candidatos
8) Contudo, Guilherme Boulos se apresentou como candidato à Presidência da República e, na sua chapa, tem como vice uma ex-prefeita da capital paulista. Ambos são queridos por movimentos sociais e igreja progressista de São Paulo.
9) No caso de Belo Horizonte, além do evidente esgotamento da primeira geração petista (talvez, a única exceção seja de Patrus Ananias), PSOL revela como o identitarismo tem dificuldades para sair da bolha.
10) Lideranças identitárias se saem bem nas eleições proporcionais porque sua bolha sustenta a representação. Contudo, eleição majoritária exige discurso e projetos mais universais. E é aí que identitário patina.
11) Há fatores específicos que envolvem as duas capitais que escolhi como recorte de análise. Em Belo Horizonte, a gestão segura de Alexandre Kalil, não cedendo à direita e empresariado durante a pandemia, atraiu o eleitorado, incluindo o progressista
12) No caso de São Paulo, a onda de direita antipetista foi enfrentada de maneira defensiva e despolitizada pelo partido de Lula. Aliás, esta é uma tônica do petismo paulista: recuar, sempre. Sempre avaliam que a correlação de forças é desfavorável e alteram símbolos do PT
13) Minha hipótese é que PT vive uma encruzilhada histórica na região sudeste: se não se renovar, poderá reduzir paulatinamente sua importância política nesta região. No caso do PSOL, começa a revelar que pode ocupar, ainda que timidamente, este vácuo deixado pelo PT
14) Política é empolgante por este motivo: nada é definitivo, nada é conclusivo. Nem mesmo esta hipótese que apresento. (FIM)
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Bom dia. Prometi um fio sobre os atos terroristas de 8 de janeiro. E, também, sobre a origem de certo descaso popular em relação aos riscos à nossa democracia. Acredito que a fonte para as duas situações é a mesma. Lá vai:
1) Acredito que o ponto de convergência é o legado de 300 anos de escravidão no Brasil. De um lado, forjou uma elite nacional socialmente insensível e politicamente violenta, sem qualquer traço de cultura democrática
2) Nosso empresariado é autoritário e autocrático, como demonstram tantos estudos acadêmicos. Além de majoritariamente com pouca instrução, nosso empresariado desdenha eleições e procura se impor pelos escaninhos dos parlamentos e governos
Bom ida. Começo o fio sobre o futuro presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Mais um que tem seu poder local pavimentado pelas emendas parlamentares, a base do poder do Centrão. Lá vai:
1) Alcolumbre tem 47 anos e nasceu em Macapá. Trabalhou no comércio da família. Se elegeu vereador pelo PDT em 2000. Foi secretário de obras do município e em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito por 2 vezes. Em 2006, foi para o DEM
2) Em 2014, conseguiu a proeza de se eleger senador pelo Amapá, até então, um quase-protetorado dos Sarney. Aí começa sua saga nacional. Em 2019 é eleito presidente do Senado Federal, se reelegendo em 2022.
Bom dia. Aqui vai o fio sobre Arthur Lira. Daqui um mês, Arthur Lira deixa a presidência da Câmara de Deputados. Ele foi mais um da sequência iniciada com Severino Cavalcanti que passou a assombrar o establishment desta casa parlamentar
1) Severino foi apenas um susto. Mas, logo depois, veio o bruxo que alteraria de vez não apenas a lógica de lideranças e poder na Câmara de Deputados, mas a relação com o governo federal: Eduardo Cunha.
2) Lira entra nesta sequência, dando mais um passo na direção da subversão da lógica entre os três poderes: avançou sobre os governos Bolsonaro e Lula, chantageou à céu aberto e enfrentou o STF.
Boa tarde. Prometi um fio sobre a entrevista de Zé Dirceu em que cita o período contrarrevolucionário que estaríamos vivendo. ZD foi entrevistado pelo Breno Altman no “20 Minutos”, quadro do Opera Mundi (ver ).
1) Logo no início da entrevista, Breno pergunta qual a principal contradição na conjuntura mundial. Zé Dirceu descarta a hipótese de ser a disputa entre democracia e autoritarismo, que levaria à necessidade de uma ampla aliança. Esta não é uma resposta à toa
2) Zé Dirceu sugere que a principal contradição é a decadência relativa dos EUA. A decadência geraria um embate direto entre a maior potência mundial e seus rivais diretos que, na visão de ZD, seriam China e Rússia, seguidos pela Índia.
A guinada lulista está obrigando a esquerda (incluindo a petista) a se reposicionar perante ao governo. A deputada do PT RN, Natália Bonavides acaba de publicar artigo explicando sua votação contra o pacote de Haddad. Vou destacar alguns trechos:
1) Trecho 1: "os debates sobre o pacote de medidas envolveram posições (...) sobre qual será o impacto político das medidas na construção de um horizonte de país que rume à redução das desigualdades"
2) Trecho 2: "longe da visão despolitizada que acusa os votos de esquerda contra o pacote de serem votos fáceis e para "jogar para a galera" (...) a posição contrária aponta uma divergência de linha política profunda. Existe um desacordo de análise. "
Bom dia. Posto um fio sobre a caracterização do bolsonarismo como ideário fascista, subversivo à Ordem Democrática e que deve ser colocado na ilegalidade. Vou me basear no livro que publiquei sobre o fascismo brasileiro. Lá vai:
1) Com o indiciamento de Jair Bolsonaro e 25 militares, sendo 24 do Exército (8 generais, 6 tenentes-coronéis, 7 coronéis, 1 capitão, 1 subtenente e 2 majores) na trama do golpe de Estado, o cenário de risco e a fonte de ameaça à democracia brasileira já está nítido.
2) Os líderes do bolsonarismo se autodeclaram de direita. A direita sustenta que a espécie humana possui distinções comportamentais: alguns são mais esforçados que outros; alguns mais inteligentes ou mais ambiciosos ou mais bem preparados.