Ontem eu tentei ler um trecho de um livro pouco comentado do Paulo Freire: Professora sim, Tia não. É um livro que traz uma polêmica já em seu título, principalmente para quem não passa dele. Paulo Freire não pretende com esse livro proibir as crianças de chamarem...+
...as Professoraa e Professores de tia/tio, mas algo que realmente é um problema. Freire aponta para a forma como os professores são vistos, nunca como profissionais, mas como alguém que só está ali porque ama aquilo, como um tio ou tia ama estar nessa posição. +
E mais, esse tratamento dado ao Professor acaba justamente por desvaloriza-lo. Já que ele é quase como um parente que está ali só a cuidar e brincar com as crianças com amor e carinho, não precisa de bons salários, boas estruturas, nada disso. +
Daí porque tantos políticos criticarem greves de professores recorrendo a frase "eles deveriam fazer isso por amor". Isso, em partes, também explica porque as aulas remotas não são vistas como aulas pelas coordenações e direções de colégios privados. +
Nós não estamos cumprindo a importante função de ficar com os filhos alheios. Não estou com isso defendendo o ensino remoto, que fique claro.
Mas nesse dia dos professores uma escola conseguiu se superar. É até inacreditável pensar que alguém achou isso legal. +
Uma escola aqui da minha Cidade revolveu mandar os professores visitarem seus alunos. Além de entregarem doces, tiraram fotos com as crianças, essas fotos foram postadas com os dizerem "neste dia dos professores, são os alunos que ganham o presente". +
Eram todas Professoras do fundamental I, segmento mais desvalorizado no Brasil. Todas estão num ritmo insano de aulas remotas desde março, no mínimo, todas provavelmente muito cansadas.
Mas, no dia em que elas poderiam descansar, foram obrigadas a participar desse circo. +
Ainda podemos perceber uma semelhança desse circo com aqueles casos que são narrados romanticamente pela grande mídia de professores que andam grandes distâncias para encontrar alunos que não possuem acesso a internet.
Tudo isso é alimentado justamente pela idéia de que não somos como outros profissionais, na verdade, nem somos profissionais, somos quase parentes dos alunos. Os tios e as tias doidões que passam dia ocupando aquelas crianças e adolescentes.
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