Após longa discussão histórica, pardo ganha nova identidade: negro de pele clara
Para quem é pardo, ouvir a frase "Você nem é tão negro assim" faz parte do cotidiano. Mas como é estar em uma categoria racial "no meio"?
Vamos falar sobre isso? 👇
De onde vem o termo pardo?
"Pardo. Cor entre branco e negro. Próprio do pardal, dode parece lhe veyo o nome. Vid. Mulato." A definição está no dicionário "Vocabulario portuguez e latino", do século 18
"O termo pardo já trazia uma ambiguidade. Ele tanto afastava a pessoa da escravidão, porque a colocava como fruto de um processo de miscigenação, quanto a aproximava, pois denotava que você tinha um ascendente negro", explica Juliana Faria, professora-adjunta da Unilab
Como não há uma tabela de cor para dizer quem é negro, e o determinismo biológico ou genético tem, no fundo, cunho racista, o pardo também é fruto de uma construção social, e se transforma com o passar do tempo
Sem se enxergar de forma racializada, mulheres e homens negros de pele clara podem passar a vida inteira sem pertencimento racial.
"A pessoa de pele um pouco mais clara pode achar que está isenta de sofrer racismo. Só que se os pais, os avós tinham uma pele mais escura, já se atribui uma situação de dificuldade para que essa pessoa assuma uma ascensão social.", diz Dennis de Oliveira, professor da USP
Depois de uma discussão histórica sobre a mestiçagem, passando pelo estereótipo de "degenerado" e pela exaltação da mulata, culminando no mito da democracia racial, o pardo ganha a possibilidade de outra identidade: negro de pele clara, sem meio-termo
“Me identificar como mulher negra de pele clara foi um processo de aceitação. Me assumir parda não me satisfazia. Quando me coloco como negra de pele clara, sei que sofro menos racismo do que quem tem pele retinta. Mas a proposta é lutarmos juntos”, diz Natalia Bovolenta
“Meus pais me consideravam branco. Mas às vezes aconteciam episódios que só depois entendi como racismo, sobre tamanho e formato do meu nariz, textura do cabelo.” @chavosodausp
“Na escola, eu era a menina pobre. Então, antes de entender que era negra, compreendi a desigualdade de classe. Hoje, lembro de algumas insinuações sobre minha identidade racial”, Bianca Santana