Já se destrinchou aspectos interessantes da campanha digital do Guilherme Boulos (PSOL), mas tem outro ponto que vale a pena ser falado.
Boulos parece ter entendido que, para ter chance, precisaria falar além da própria bolha. Isso fica claro na estratégia para YouTube. 1/N
Com um canal pequeno, a saída foi usar a audiência de canais maiores, ainda que isso significasse dialogar com quem era claramente contrário e anos antes da disputa pela Prefeitura.
Um dado antes: no YouTube, o canal oficial de Boulos tem 143 mil seguidores. 2/N
No início da campanha, eram ~56k. Vem crescendo, mas a audiência é minúscula se comparada à da direita.
Segundo monitoramento que a @novelodata faz dos canais de extrema direita, os 143k seguidores posicionariam Boulos como o 97º (!) canal de direita com maior audiência do BR
Boulos criou seu canal oficial há 2 anos. Bruno Covas (PSDB) tem um desde 2008, com intervalos de divulgação de vídeos. A última grande investida foi qnd assumiu a Prefeitura de SP youtube.com/user/deputadob…
Sem uma audiência enorme, a saída foi usar a audiência dos outros, principalmente de canais de perfil contrário às ideias do candidato.
E lá foi o Boulos sentar na bancada do Pânico e do Morning Show da Jovem Pan, por exemplo, para ter uma forma de atingir o público maior.
O problema: é difícil discutir ideias quando tem muita gritaria, mas pouco debate.
Para resolver isso, Boulos tem se aproximado desde 2018 de outros canais onde é possível ter debate, ainda que com quem pense contrário, como Rafinha Bastos, Mauricio Meireles e Luiz Felipe Pondé
Em jun2019, Meirelles publicou entrevista com Boulos em que, se aproveitando da semelhança física, ambos trocam de papel.
Por trás do humor (algo inédito para a esquerda sempre tão sisuda), o discurso político tá lá, + azeitado para o público jovem.
Aí, durante a campanha, Boulos faz 2 golaços.
O 1º foi participar do Flow, hoje o podcast + popular do Brasil. Lá, Boulos atingiu um público com quem não tinha contato direto.
Alguns dos comentários + curtidos são categóricos sobre o efeito que a entrevista teve em sua imagem
Entre os políticos convidados, o episódio só não foi mais popular do que o com Arthur do Val, cuja campanha tem um apelo enorme nesse perfil demográfico de gamers/youtubers.
Ficaram para trás Kim Kataguiri, Celso Russomano e o rival Bruno Covas.
O 2º foi jogar Among Us com influenciadores de esquerda relevantes, como Meteoro, Normose e Nath Finanças.
De novo, Boulos usou a audiência alheia, agora entre apoiadores.
Em termos numéricos, não foi enorme, mas serviu como trampolim para algo maior
Um mês depois, Boulos repetiu o Among Us com Felipe Neto, o maior Youtuber do Brasil. Resultado: 3,4 milhões de views e um alcance muito além da cidade de São Paulo. O vídeo com Felipe Neto é o 2º quando se busca “Guilherme Boulos” no YouTube.
O resultado dessa estratégia de usar a audiência alheia é que a busca pelos vídeos mais populares contendo “Guilherme Boulos” no YouTube mudou. Os vídeos a partir de 2019 são menos virulentos e ajudam a “limpar” a imagem construída de Boulos online.
A Jovem Pan e os canais de extrema direita hoje disputam espaço com Roda Viva, Flow, Podpah, debates da Prefeitura e do próprio canal de Boulos.
Vencendo ou perdendo amanhã, o candidato do PSOL mostrou um caminho de comunicação digital para a esquerda, aparentemente perdida na internet desde a derrota acachapante em 2018.
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