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Rodrigo da Silva

Jan 4, 2021 • 14 tweets • 5 min read • Read on X

Ele é um dos homens mais ricos do mundo e está há dois meses desaparecido, desde que criticou o governo da China.

Essa é a sua história:

Você deve ter lido sobre esse cara em algum lugar.

Seu nome é Jack Ma e ele é um ex-professor de inglês que fundou a Alibaba, maior varejista do mundo e 3ª marca chinesa com maior presença global.

Em julho de 2020, Ma foi o 20º homem mais rico do mundo. forbes.com/china-billiona…

Além de fundar uma das maiores empresas do planeta, Jack Ma também controla a fintech Ant Group, controladora do serviço de pagamentos Alipay - a startup de tecnologia mais valiosa do mundo (mais usada que cartão de crédito na China).

Nada mal!

Em 2020, o Ant Group projetou levantar pelo menos US$ 34,4 bilhões em capital na maior oferta pública inicial de ações já realizada na história.

Seria o maior IPO do mundo, não fosse por um detalhe: Jack Ma.
www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/1…

Em outubro, discursando em Shangai pra uma plateia influente, Ma lançou um ataque público aos bancos e reguladores financeiros do país.

O rosto mais conhecido da ascensão econômica chinesa defendeu a necessidade de uma ampla reforma do sistema financeiro. hk.appledaily.com/opinion/202011…

Para Jack Ma, o sistema regulatório chinês estava sufocando a inovação, e os bancos do país tinham uma mentalidade tão atrasada que ainda se comportavam como "casas de penhores".
scmp.com/economy/china-…

Pequim reagiu com fúria.

Em novembro, Ma foi convocado pelas autoridades para um interrogatório.

Seu IPO, que antes havia recebido sinal verde do governo, foi rejeitado pelo órgão fiscalizador de títulos da China.

E esse era apenas o início do pesadelo. ft.com/content/eb0746…

Na véspera do Natal, há poucos dias, as autoridades de Pequim ordenaram uma investigação sobre as alegações de “práticas monopolistas” pelo Alibaba.

theguardian.com/business/2020/…

Os reguladores também instruíram o Ant Group a reestruturar suas operações para aderir às novas "regras anti-monopólio", reduzindo bilhões de dólares de seu valor de mercado.

O Banco Central da China acusou sua governança de não ser sólida. theguardian.com/business/2020/…

No final da semana passada, Ma foi substituído por outro executivo do Alibaba no episódio final de um reality show de negócios que ele mesmo dirigia.

A sua foto também foi apagada da galeria dos jurados dos programa. thesun.co.uk/news/13629201/…

Em 2020, a fortuna de Jack Ma chegou a US$ 61,7 bilhões, segundo a Bloomberg (US$ 65,6 bilhões, segundo a Forbes).

Desde as críticas a Pequim, seu patrimônio caiu para US$ 50,9 bilhões.

Nesses dois meses, Ma perdeu quase US$ 11 bilhões. bloomberg.com/news/articles/…

Hoje, os jornais noticiam que há dois meses Jack Ma não é mais visto em público e que está aparentemente desaparecido.

Ma deixou de ser um símbolo do sucesso econômico chinês para se transformar em uma ameaça ao governo central.
br.reuters.com/article/idUSKB…

A China vive numa encruzilhada.

Enquanto concentra o maior número de bilionários do planeta, cada vez mais poderosos e indispensáveis para o sucesso econômico do país, abriga também a liderança política mais autoritária desde a morte de Mao, em 1976.

A fritura pública de Jack Ma é um recado de Pequim ao mundo. Quem ousar questionar a autoridade de sua burocracia será limado.

O fundador do Alibaba e do Alipay descobriu isso da pior maneira possível.

A China tem dono. E seu nome é Xi Jinping.

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Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Feb 25

Parece que nem faz tanto tempo que a Rússia invadiu a Ucrânia para tentar anexar seu território.

Mas o evento previsto para durar dois dias completou dois anos nesse final de semana.

Isso foi o que aconteceu nesse período:

- Segundo a ONU, 6,5 milhões de ucranianos vivem nesse momento como refugiados em outros países (mais da metade são mulheres e 1/3 são menores de idade). A Guerra da Rússia na Ucrânia gerou o maior número de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Apenas para efeito de comparação, desde 1947 até hoje, o conflito Israel-Palestina gerou 5,9 milhões de refugiados palestinos registrados.

unrefugees.org/emergencies/uk…
unrwa.org/palestine-refu…

- A ONU diz que, nesse momento, 3,7 milhões de ucranianos estão vivendo fora de suas casas, mas permanecem na Ucrânia. Em maio, um estudo do Banco Mundial revelou que 74% dos deslocados internos têm crianças nos seus agregados familiares. Apenas para efeito de comparação, algo em torno de 700 mil palestinos foram deslocados de suas casas em 1948, durante a guerra árabe-israelense.

unrefugees.org/emergencies/uk…
reliefweb.int/report/ukraine…
news.un.org/en/story/2023/…

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Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Feb 20

Nos últimos dias, alguns tweets antissemitas viralizaram nessa rede diminuindo a dor e o protagonismo dos judeus no Holocausto. Houve até quem dissesse que o mundo só se importa com esse episódio porque "judeus são ricos".

O antissemitismo é intolerável porque causou isso aqui:

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Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Feb 9

Bolsonaro liderou uma tentativa de golpe de Estado no Brasil?

O que aconteceria se um golpe fosse bem-sucedido em nosso país?

Quais as chances disso acontecer?

E o STF? E a imprensa?

Preparei uma longa thread falando sobre isso tudo aqui embaixo:

Ontem, se você não estava em coma, leu que a Polícia Federal realizou uma operação que investiga a participação de membros do governo Bolsonaro em uma tentativa de golpe de Estado.

Mas antes de tocar nesse assunto, acho que essa é uma boa oportunidade para falar sobre como funcionam os golpes de Estado.

Será muito mais fácil analisarmos o momento em que o Brasil atravessa se entendermos quais são os incentivos que colaboram para isso.

Mas já adianto: essa é a maior thread que já publiquei por aqui. A leitura será longa. Se serve de consolo, prometo tentar fazê-la o menos maçante possível.

1. Democracias imaturas são fábricas de golpes de Estado.

Dá para dizer que golpes de Estado são fenômenos muito mais raros nas democracias liberais consolidadas (Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia) do que nas ditaduras.

Nos últimos 70 anos, exceto por alguns episódios isolados, essas democracias experimentaram transições políticas muito mais estáveis que o resto do mundo.

Mas apesar disso, também dá para dizer que a ameaça de um golpe de Estado é bem alta nos países que experimentam a democracia há pouco tempo, e que ainda não desenvolveram uma cultura de governança civil e democrática para os militares.

As tentativas de golpes de Estado nestas democracias têm duas vezes mais probabilidade de sucesso do que as que ocorrem nas ditaduras.

Só na última década, governantes eleitos democraticamente na Bolívia, no Egito, em Honduras e na Tailândia foram destituídos do poder através de golpes de Estado. O que esses países têm em comum? Todos são democracias imaturas.journals.sagepub.com/doi/abs/10.117…

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Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Feb 5

Neste domingo, Nayib Bukele foi reeleito presidente de El Salvador com mais de 80% dos votos.

Afinal, Bukele é um sujeito autoritário? O que explica a sua popularidade? Por que ele diz que é o "ditador mais cool do mundo"?

Conto aqui embaixo:

Se não apontar no mapa, você dificilmente conseguirá detectar. Mas este é El Salvador, o único país da América Central sem acesso ao Mar do Caribe.

Esta é uma nação com uma área menor que o Sergipe, o menor estado brasileiro.

Aqui vivem pouco mais de 6 milhões de pessoas.

Não dá pra dizer que esse é um país desenvolvido. O IDH de El Salvador é menor que o da Bolívia. A cada 5 salvadorenhos, 1 vive abaixo da linha da pobreza.

Também não dá pra dizer que este é um lugar influente. Você provavelmente não conhece um monumento, um prato típico ou uma música daqui.

El Salvador nunca ganhou uma medalha olímpica e há mais de 40 anos não participa de uma Copa do Mundo (foram apenas duas em sua história).

Mas apesar do amplo desconhecimento internacional, o mundo vem prestando mais atenção nesse lugar nos últimos cinco anos. E a razão tem nome e sobrenome: Nayib Armando Bukele Ortez.

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Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Jan 23

A América Latina tem inúmeros defeitos, mas há um ramo de atividade que somos realmente muito talentosos: produção de cocaína.

Como os nossos governos estão envolvidos nessa história?

Há mais políticos de direita ou de esquerda ligados a essa indústria?

Conto aqui embaixo:

20 milhões de pessoas usam cocaína no mundo.

Os europeus são obcecados por cocaína. Os americanos também.

Mas apesar do interesse dos países ricos por ela, a cocaína é um dos poucos produtos bem sucedidos que são cultivados, processados e distribuídos na América Latina.

A cocaína é produzida em três processos químicos separados: primeiro a coca é convertida em pasta de coca, depois em base de coca antes de finalmente virar cocaína.

O químico alemão Albert Niemann foi a primeira pessoa a conseguir isolar a cocaína da planta de coca, em 1859.

A receita não é tão simples.

Depois que as folhas de coca são colhidas, elas são transportadas para um laboratório – geralmente um barraco escondido na selva financiado por cartéis de drogas. Nesse espaço, elas são encharcadas num solvente – como gasolina ou acetona – por 12 horas, até formar uma pasta de coca.

Depois essa gasolina é drenada até gerar uma base seca de cocaína. O resultado desse processo é o que os químicos chamam de cloridrato de cocaína.

Para aumentar os lucros, os revendedores diluem esse produto, puro, com substâncias como amido de milho, talco, farinha ou bicarbonato de sódio. Esses enchimentos chegam a representar até 80% da cocaína que alcançará os consumidores finais.

Read 20 tweets

Rodrigo da Silva

@rodrigodasilva

Jan 9

O Equador está pegando fogo.

E aqui embaixo conto como essa história chegou até aqui:

Essa história nasce aqui: no acordo de paz do governo da Colômbia com as FARC, em 2016.

Graças a esse acordo, Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, ganhou um Nobel da Paz.

Mas se essa decisão trouxe certa estabilidade para a Colômbia, teve o impacto oposto no Equador.

As FARC tinham o monopólio das rotas de tráfico de cocaína do sul da Colômbia para os portos do Equador.

A desmobilização do grupo abriu um vácuo de poder que foi rapidamente preenchido pelos cartéis mexicanos de Sinaloa (CDS) e Jalisco Nueva Generación (CJNG).