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Por que especialistas são praticamente unânimes em dizer que não existe tratamento precoce para covid-19?

Drogas como a hidroxicloroquina e a azitromicina já se mostraram ineficazes para combater o vírus.

Vem no FIO entender a dificuldade em descobrir remédios contra a covid👇

Antes de analisarmos os remédios contra a covid-19, vamos entender como funciona a criação de um novo medicamento do zero.

Você sabia que esse processo demora cerca de 12 anos e custa 2,6 bilhões de dólares? De cada 5 mil moléculas estudadas, apenas uma chega às farmácias.

É claro que, durante a pandemia, não dá pra esperar esses 12 anos. Para acelerar o processo, os cientistas tentaram o chamado “reposicionamento farmacológico”.

Em resumo, eles pegaram drogas já aprovadas para outras doenças e verificam se elas funcionavam contra a covid-19.

Foi assim que hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e outros remédios entraram na história.

Ainda no primeiro semestre de 2020, elas foram testadas em amostras de células, na bancada dos laboratórios, e mostraram um efeito promissor.

Mas aí vem o grande X da questão: o fato de elas funcionarem em experimentos menores, com células ou cobaias, não significa que elas terão efeito nos seres humanos.

Muitos medicamentos vão super bem nessas fases preliminares e depois fracassam nos testes maiores e mais rígidos.

A hidroxicloroquina e a azitromicina são exemplos disso. Estudos publicados a partir de junho de 2020 mostraram que elas são ineficazes contra a covid-19 nos quadros leves, moderados ou severos.

Já a ivermectina ainda está sob investigação e, por enquanto, não tem sua eficácia comprovada. É por isso que os especialistas pedem cautela e contra-indicam seu uso atualmente.

Apesar da pouca evidência científica, a ideia do tratamento precoce foi adotada com entusiasmo por alguns líderes mundiais. O primeiro deles foi o então presidente americano Donald Trump.

No Brasil, Jair Bolsonaro fez diversas demonstrações públicas de apoio ao “kit-covid”.

O Ministério da Saúde fez campanhas a favor do tratamento precoce e chegou a ter uma mensagem que fazia alusão ao tema apagada do Twitter.

Dias antes de Manaus entrar em colapso, o ministro Eduardo Pazuello cobrou o uso desses remédios nas fases iniciais da doença por lá.

Enquanto isso, entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Anvisa, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos e da Europa e até a Organização Mundial da Saúde não reconhecem e chegam a contra-indicar esse tratamento precoce.

“Ah, mas eu conheço pessoas que tomaram esses remédios e melhoraram”. Esse é um dos argumentos mais usados para defender o kit-covid.

A questão é que 80% dos casos de covid-19 são leves e melhoram em alguns dias, independentemente se a pessoa fizer algum tratamento ou não.

(para entender mais sobre a falha desse argumento, dá uma olhadinha nesta reportagem que publicamos em agosto do ano passado) bbc.com/portuguese/ger…

“Então eu não devo fazer nada e só procurar o médico quando a situação está grave demais?”.

Para os quadros leves de covid-19, a recomendação é ficar em isolamento, fazer repouso, manter a hidratação e tomar remédios para amenizar sintomas como febre e dor de cabeça.

Se possível, vale medir a oxigenação no sangue com um oxímetro. Se a taxa estiver abaixo de 94%, é hora de ir ao hospital.

Outros sintomas que exigem uma visita ao pronto-socorro são falta de ar e uma piora nos incômodos, como febre alta, muita dor no corpo e tosse persistente.

Lembrando que a ciência está em constante evolução e, portanto, um tratamento precoce contra a covid-19 pode surgir nas próximas semanas ou meses. Nós aqui da @bbcbrasil estamos de olho nas novidades e vamos sempre trazer notícias e análises sobre os últimos avanços.

Quer saber mais sobre toda essa discussão sobre o tratamento precoce e por que tantas entidades contra-indicam o uso desses remédios? Leia nossa reportagem:

bbc.com/portuguese/bra…