Este é o primeiro estudo que descreve e analisa as REAÇÕES ADVERSAS A MEDICAMENTOS (RAM) utilizados nos protocolos de tratamento para a COVID19, em escala nacional. Segue o fio que eu conto os principais achados e faço algumas reflexões:
#1 Antes de mais nada, cabe explicar que a coleta de dados foi feita em cima dos relatórios de segurança de casos individuais, encaminhados ao Centro Nacional de Monitorização de Medicamentos, da @anvisa_oficial, vindos do Sistema Brasileiro de Farmacovigilância (mar a ago/2021);
#2 Limpando os dados a partir dos critérios de inclusão/exclusão, de 1.138 relatórios, foram analisados 402 relatórios individuais, com 499 medicamentos suspeitos e 631 RAM nos pacientes com COVID-19;
#3 Os farmacêuticos foram os profissionais que mais notificaram (81,8%). Já os médicos, (0,8% ou 3 casos). Aqui uma análise: isso mostra a importância dos farmacêuticos que atuam clinicamente e o quanto os médicos precisam melhorar sua atuação sobre a segurança do paciente;
#4 53,3% dos pacientes já possuíam outras doenças/FR, como hipertensão (31,1%), diabetes (21,4%), e outras doenças cardiovasculares (12,9%), já em uso de 1-4 medicamentos concomitantemente (81,6%).
#5 Dos suspeitos de provocar RAM e/ou interações medicamentosas, hidroxicloroquina (59,5%), azitromicina (9,8%), cloroquina (5,2%) e ceftriaxona (3,2%) foram os que apresentaram maior ocorrência;
#6 Do total dos fármacos suspeitos e com interação (n = 499), 319 (64%) foram suspensos da terapia, 17 (3,4%) tiveram a redução da dose administrada e em 107 (21,4%) a equipe médica manteve o medicamento sem a alteração da dose
#7 RAM cardíacas (38,8%) foram as mais frequentes. Destas, 33,7% foram relacionadas ao aumento do intervalo QT, sendo provocadas pela HQC (+ 512 ms), CQ (+ 505,4 ms) e AZI (+ 511,7 ms). Aumento de 500 ms já é considerada RAM grave. Desse total, 11 foram casos fatais;
#8 Quanto a desfechos fatais/óbito, foram 30 casos. No entanto, não foi possível estabelecer relação de causalidade com destes óbitos com os RAM, ficando como suspeitos.
#9 Pacientes que usaram HQC registraram quase 2x mais chances de apresentar RAM grave e os que fizeram o uso da CQ registraram quase 6x mais chances de apresentar RAM grave, comparados aos que não usaram estes medicamentos;
#10 Há de se lembrar que tais efeitos sobre o intervalo QT foram demonstrados como dose-dependentes e que, para a tentativa de tratamento da COVID19 com a HCQ/CQ, as doses empregadas geralmente são maiores do que as investigadas para malária, porfiria, lúpus e artrite reumatoide;
#11 RAM gastrintestinais (14,4%), dermatológicas (12,2%), hepatobiliares (8,9%) foram as que aparecem como mais frequentes, sem casos fatais e com baixa frequência de formas graves.
#12 Apesar de sua limitações, é um estudo em escala nacional, deve ser utilizado como ferramenta de educação em saúde para mostrar que SIM, MEDICAMENTOS PODEM FAZER DANO e que não se deve tomar qualquer medicamento sem orientação/prescrição de um médico ou farmacêutico.