Dizem que o Antônio Maria foi visitar o Ary Barroso pouco antes desse morrer. Eram amigos, mas o Ary Barroso implicava com as músicas do Maria e, um notório vaidoso, tinha um pouco de ciúmes do sucesso do outro. Prostrado na cama, Ary pediu ao visitante, com voz sumida:
- Maria, canta “Aquarela do Brasil”.

O Antônio Maria olhou em volta embaraçado.

- O que é isso, Ary?

- Maria, canta “Aquarela do Brasil”.

Muito sem jeito, Antônio Maria começou a cantar. Afinal, era o pedido de um moribundo.
Cantou toda a música, acompanhando-se com uma discreta batucada de palmas.

O Ary ouviu tudo de olhos fechados, com a cabeça atirada pra trás. Quando Maria terminou, ainda de olhos fechados, disse:

- Maria, me pede pra cantar “Ninguém Me Ama”.

- Ora, Ary, não precisa.
- Maria - insistiu o Ary - me pede pra cantar “Ninguém me Ama”.

Constrangido, o Maria obedeceu. Pediu:

- Ary, canta “Ninguém Me Ama”.

E então o Ary levantou a cabeça do travesseiro, encarou o Maria e declarou:

- NÃO SEI!
História contada pelo Sergio Cabral, o pai, e lembrada pelo @MarceloDunlop #doarquivo #brasilianas #peçasíntimas

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15 Feb
Ele: tirolês. Ela: odalisca. Eram de culturas muito diferentes, não podia dar certo. Mas tinham só quatro anos e se entenderam. No mundo dos quatro anos todos se entendem, de um jeito ou de outro.
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