[1/20] Notas Sobre o Bolsonarismo - 2020.12.15

Existe um grande equívoco por parte de alguns quanto ao conceito de "militância bolsonarista".

O aspecto ideológico, na política, representa apenas um ideal orientador, o qual jamais pode, (...)
[2/20] por si só, promover ações concretas, a não ser através de agentes reais de carne e osso, os quais, além disso, dependem sobretudo da disponibilidade de meios de ação que determinem se esses agentes conduzirão suas ações de fato por esse caminho ideal, (...)
[3/20] ou simplesmente estagnarão numa função de símbolo unificador daquele ideal, como é o caso do Bolsonaro, sem jamais ir adiante de forma efetiva em um caminho político bem definido; de modo que não se pode falar em "militância conservadora", (...)
[4/20] sem que haja uma liderança conservadora. Não faz sentido algum se falar em "apoio" a um caminho conservador, a não ser no sentido metonímico do apoio a ALGUÉM que não só se proponha a percorrê-lo, mas que de fato saiba COMO percorrê-lo (...)
[5/20] e que tenha os meios de percorrê-lo.

Bolsonaro, embora fosse esse homem de carne e osso, apenas REPRESENTAVA um ideal, e foi eleito menos por PERSEGUIR esse ideal através de ações concretas, do que por REPRESENTÁ-LO. (...)
[6/20] De fato, as ações concretas de Bolsonaro limitaram-se, neste sentido, à sua própria eleição. Ele, nas eleições, representava unicamente a vontade popular difusa, cuja unidade se reconhecia mais pela expressão de uma insatisfação geral, (...)
[7/20] do que por algo que poderia ser definido como um MOVIMENTO POLÍTICO ORGANIZADO.

Dado este beco sem saída, o bolsonarismo se transformou não simplesmente numa pseudomilitância, mas numa antimilitância, que repudia cobranças pontuais objetivas, (...)
[8/20] no instante mesmo em que faz uma cobrança infinitamente maior, visto que o bolsonarismo consiste na aposta de todas as fichas numa solução política para problemas que transcendem, e muito, a camada meramente política.
[9/20] Militância bolsonarista não é um fã-clube bolsonarista, o qual, este sim, ao transformar o Presidente ele mesmo numa idéia, atribui a esta um valor fundamental; nem muito menos é uma torcida bolsonarista, que entende como prova mesma de coragem e fidelidade (...)
[10/20] assisti-lo euforicamente da arquibancada, esperando que ele, isolado de todos, consiga resolver todos os problemas, ao mesmo tempo em que acusa de traição e covardia aqueles poucos que, por arriscarem a própria vida na defesa do Governo, (...)
[11/20] apenas exigem a satisfação moral da gratidão, como é o caso dos que foram presos.

Ou seja, se uma real militância bolsonarista tem, não o direito, mas o dever de exigir do Presidente que ele enxergue o apoio civil daqueles que sacrificam a si mesmos pelo governo, (...)
[12/20] e que ele escolha melhor aqueles que irão fazer o trabalho desde dentro do sistema, por outro, essa militância, no entanto, não pode agir como bolsonaristas histéricos, que, ao contrário, empurram-no para o fronte de batalha como um soldado, (...)
[13/20] e não como um capitão, exigindo dele a personificação de um exército de um homem só, sem dar-lhe nenhum apoio substancial. Neste sentido, e não no sentido do apoio irrestrito ao indivíduo isolado chamado Bolsonaro, é que a proposta de militância bolsonarista, (...)
[14/20] portanto, deve existir.

Partindo-se destas amostras da realidade, e confrontando-as com os princípios expostos acima, fica claro que a eleição de Bolsonaro não terminaria de outra forma que não na assimilação dele pelo próprio sistema, (...)
[15/20] que o engoliria e o neutralizaria na figura daquilo que ele poderia ter sido, e não foi.

Conclui-se, disto, que não pode haver militância nem agentes políticos -- do baixo ao alto escalão -- soltos no ar, (...)
[16/20] sem uma base intelectual e ideológica que os fundamente, e que a síntese deste problema reside na URGÊNCIA PACIENTE DE UMA INTELECTUALIDADE CONSERVADORA.
[17/20] Nota - 2021.04.11

Esperou-se, do Bolsonaro, uma atuação para além daquilo que se esperaria de um símbolo unificador do sentimento comum a uma massa difusa, e isto, para além do discurso poético da "direita inteligente", cujo caráter simbólico seria, aliás, (...)
[18/20] a única razão para chamá-lo, agora com razão, de Mito ou Messias, sintetizou-se, substancialmente, na sua condenação à função de mito fundador de uma nova era às avessas, mediante o seu sacrifício ao ser posto ele sozinho para dar conta (...)
[19/20] de um problema civilizacional de longo prazo. Aqueles que acreditam abandoná-lo agora, já o fizeram ao colocá-lo nesta situação.

Digo "nova era às avessas", pois a facilidade com que o estamento derrubar o Presidente (...)
[20/20] será igual à dificuldade que a direita encontrará, desta vez pior do que antes, não só para emplacar qualquer cargo que seja, na política, mas também para ganhar território intelectual e cultural. Será como uma recaída fatal.

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