Ebola (1976), HIV-1 (~1981), HIV-2 (1986), Sin Nombre (1993), Hendra (1994), gripe aviária (1997), Nipah (1998), Nilo Ocidental (1999), SARS (2003), gripe suína (2009) e tomo a liberdade de adicionar o SARS-CoV-2 (2019)
O que esses eventos assustadores tem em comum? Vem de fio👇
Esse minifio é para a gente discutir um trecho extremamente interessante de um livro que tô lendo chamando "Contágio - Infecções de origem animal e a evoluçaõ das pandemias" de David Quammen que lista esses eventos e pergunta justamente isso ao leitor
Essas datas são relacionadas a primeira descrição/surto de alguns vírus de preocupação para a nossa espécie. Alguns deles são familiares, epidemias vividas recentemente pela sociedade. Mas outros podem causar estranheza e a princípio, não aparentar relações entre si
Algumas pessoas podem ainda cogitar que são acontecimentos lastimáveis tais quais terremotos, erupções vulcânicas, coisas acima do nosso controle. Mas David nos traz para uma outra perspectiva, a ligação que esses eventos tem entre si.
Muitos desses eventos são resultados de ações que estamos realizando com ecossistemas, com o planeta, ao longo dos anos, aprofundando nossa espécie numa constante crise que, como consequência, coloca nossa saúde em risco.
Senta que lá vem
Esses vírus acima citados apresentam um fator comum: "pularam" (fenômeno chamado de spillover) de uma espécie selvagem, por exemplo, para a espécie humana. E ao longo das últimas décadas, estamos vendo esse "pulo" em maior frequência.
Por quê?
Cada vez que a gente destrói uma área em que animais selvagens habitam, desmatamentos, deflorestamentos, ampliando a área urbana em detrimento dessa perturbação nos ecossistemas, tudo isso aproxima animais selvagens (e organismos que vivem neles) de nós
Os anos de 2019 e 2020 foram particularmente terríveis, nesse sentido, para o Brasil, em especial para a floresta Amazônica, mata atlântica entre outras áreas que sofrem com o desmatamento
Não podemos negar o impacto das atividades humanas na desintegração desses ecossistemas, num ritmo acelerado e caótico. A ampliação de áreas de pastagens, deflorestamentos para a atividade humana entre tantos outros fatores causam um desequilíbrio completo nesses locais
Nesses ecossistemas, vivem milhares de espécies, muitas delas ainda longe do nosso conhecimento, que podem abrigar microorganismos que, via de regra, não temos contato. Quando destruímos esses locais ou caçamos deliberadamente vida selvagem, estamos nos aproximando deles
Virus de RNA por exemplo são capazes de se adaptar com uma rapidez impressionante. Num mundo em que temos, cada vez mais, um crescimento populacional acelerado em paralelo a desintegração de ecossistemas, gerando essa proximidade, imagina o que acontece?
E ainda temos tanto a entender nessa jornada... quem são os reservatórios desses vírus? Por que alguns surgem em determinados momentos, desaparecem, e retornam a surgir? Perguntas relevantes que, sem investir em ciência, torna-se um desafio respondê-las.
Boa parte desses agentes infecciosos emergentes que nos preocupam são zoonóticos, ou seja, que tem como hospedeiros animais (frequentemente selvagens), e o numero desses eventos parece estar aumentando com o passar do tempo
Nesse artigo publicado pela Nature em 2017* os autores estabeleceram um mapa do risco de eventos zoonóticos por países. Quanto mais próximo do amarelo, maior o risco. Imagino como esse mapa estaria hoje, considerando o desmatamento no Brasil
O aumento da densidade populacional não só influencia no risco de eventos zoonóticos acontecerem, como também na transmissão desses agentes infecciosos. Até 2050, é esperado que iremos atingir 9,7 bilhões de pessoas no planeta un.org/development/de…
Como será nossa relação com o planeta nesse percurso? E nesse momento? Quando é o momento certo para discutirmos isso com seriedade? Quando daremos atenção às mudanças climáticas? Quando for tarde demais para evitar algo pior?
Sinceramente acho que já estamos um pouco atrasados
Mas não é (pelo menos por enquanto) o fim do mundo: temos múltiplos alertas e, atualmente, uma situação fruto da consequência real dessa nossa relação tóxica com o planeta, para nos tirar da zona de conforto: é preciso repensar nossa relação com nossa casa.
E isso começa na nossa microesfera, na forma como cada um de nós cuidamos o nosso consumo, repensamos nossas relações com o planeta, escolhemos lideranças que tem como pauta essas questões e nos apropriamos dessa responsabilidade - que é nossa pessoal. Ponto
E quanto mais cedo a gente se apropriar dessa responsabilidade, mais ações poderemos tomar para evitar cenários ainda piores. Quanto mais cedo aceitarmos a ciência como nossa aliada para entender e agir enquanto sociedade, mais evitaremos esses cenários piores
Isso funciona para resolver uma pandemia (e estamos batendo muito na tecla das medidas de enfrentamento, da vacinação...), para evitar futuras pandemias e desastres em todos os níveis.
Sem mais delongas: temos responsabilidade sobre nossa casa e sobre quem vive nela.
Um adendo: numa boa parte das vezes, esse salto vem da aproximação de espécies selvagens. Mas ali no caso da gripe avaria e suína, o salto foi a partir de espécies domésticas. Mas, de forma parecida, é justamente ele fruto desse nosso sistema incompatível com os ecossistemas.
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Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados
O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)
Alegações tem sido feitas por conta de um artigo recente, mas além de o artigo não comprovar a existência do risco, ele também tem tantos fatores de confusão que me surpreende ter sido publicado
Então respira, e vem de fio 🔻
O artigo utilizou dados de mais de 558 mil indivíduos de Seul 🇰🇷, divididos em dois grupos: vacinados e não vacinados
A ideia era analisar se há associação com o comprometimento cognitivo leve, que pode ser visto anterior ao desenvolvimento de demências, como Alzheimer
Os pesquisadores então analisaram os registros entre 2020 e 2021. Importante notar: as campanhas de vacinação em Seul começaram em 2021.
Isso faz com que o número de pessoas com 2 doses seja pequeno, comparado ao tamanho inicial da amostra
Li e tenho algumas questões importantes:
- Mesmo pessoas fora de grupos prioritários e até mesmo que tiveram Covid-19 leve, podem desenvolver sequelas pós-Covid;
- Sequelas pós-Covid podem ser duradouras, reduzirem a qualidade de vida e trazer riscos à saúde;
Nessa parte de um fio recente, trago alguns dados recentes quanto as informações sobre sequelas pós-Covid. Não só há um risco de morte permanecendo elevado, como há uma perda significativa da saúde como um todo.
Portanto, me preocupa não termos ainda uma construção de políticas públicas para a Covid longa. Sabendo dos seus riscos, da prevalência estimada em outros países, poderíamos já estar ao menos com políticas instituídas para reduzir riscos de contaminação com vírus respiratórios
Se tu passar por manchetes sugerindo que a vacinação contra Covid-19 ajudou a aumentar o excesso de óbitos, saiba que não é o que o estudo original sugere: o excesso de mortes “permanece elevado” APESAR do uso de vacinas (e outras medidas). Sem essas medidas, seria ainda maior🔻
O artigo original está no link abaixo e conclui: "o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a COVID-19."
O artigo tem limitações importantes e deixa de lado a quantidade de mortes que foram evitadas graças a vacinação. Ainda, a circulação persistentemente alta do vírus, pelo enfraquecimento das medidas mitigatórias, pode estar por trás desse excesso.
Casos de Oropouche em SC: pela primeira vez na história do estado, casos foram registrados em Botuverá (Vale do Itajaí).
A Febre do Oropouche é causada por um vírus (OROV), transmitida por mosquitos e é mais uma doença que pode estar sendo agravada por mudanças climáticas🔻
Três pacientes em Botuverá (entre 18 e 40 anos, sem histórico de deslocamento para fora do estado) foram confirmados até o momento.
A febre do Oropouche foi isolada pela 1ª vez no Brasil nos anos 60, com surto recente na região norte do país g1.globo.com/ac/acre/notici…
A transmissão ocorre pela picada de mosquitos infectados. Entre os vetores, o mosquito-pólvora ou maruim (Culicoides paraenses) é o principal, mas em centros urbanos, o Culex quinquefasciatus pode ser um potencial vetor
Covid-19 pode aumentar riscos por até um ano após a infecção para desfechos psiquiátricos como:
- transtornos psicóticos, de humor, de ansiedade, por uso de álcool e do sono
Riscos maiores em pessoas hospitalizadas, e menores entre vacinados 🔻
a Covid-19 pode também trazer um risco aumentado de o indivíduo precisar de prescrição de medicamentos psiquiátricos por conta dessas alterações persistentes, comparado com aqueles sem evidência de infecção mas que passaram por estressores parecidos relacionados à pandemia
Mesmo em quem teve Covid-19 leve, esses riscos estavam presentes. Apesar de riscos serem ainda maiores para quem teve Covid-19 mais séria, não se pode subestimar o impacto de uma infecção leve considerando as sequelas pós-Covid