Prometi um fio a respeito dos dados apresentados pela pesquisa INFÂNCIA E PANDEMIA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE desenvolvida pela Faculdade de Educação da UFMG. Lá vai:
1) A pesquisa foi coordenada por Isabel de Oliveira e Silva, Iza Rodrigues da Luz e Levindo Diniz Carvalho, pelo
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Infantil e Infância (NEPEI) da UFMG. Buscou compreender as formas pelas quais as crianças vivenciam a pandemia
2) Foram mais de 2 mil crianças de 8 a 12 anos de idade contatadas para responder um questionário de 21 questões e, depois, pouco mais de 30 delas selecionadas para uma entrevista em profundidade
3) As famílias contatadas residem em Belo Horizonte e de 32 municípios da Região Metropolitana de BH. Foi criado um site infanciaemtemposdepandemia.com.br
4) 64,4% das crianças respondentes frequentavam escolas públicas e 30,6% das crianças frequentavam escolas particulares.
5) Vamos aos resultados. A maioria das crianças, ou seja, 89% responderam estar cumprindo o isolamento social e, apenas 4% das crianças responderam não a esta questão. Apenas 10% delas estão isoladas porque acatam uma ordem de pais ou responsáveis
6) Mas 30% estão em isolamento porque têm consciência da importância de sua parte. Outros 30% compreendem o risco de estarem nas ruas
7) O grupo dos que não estão isolados afirma que acompanha os pais no trabalho ou porque ficam na casa de vizinhos quando os pais saem para trabalhar.
8) Mas, há os que não estão tolerando ficar isolados porque sua residência é muito pequena ou que necessitam socializar com a família e com amigos
9) Apenas 5% das crianças contestaram o isolamento social
10) Sobre tristezas e medos, apareceram três conjuntos de respostas: a) presença do medo da morte, do adoecimento, especialmente dos familiares; b) tristeza de não conviver com avós; c) ausência de brincadeiras
11) Sobre situações de alegria, destacam-se a possibilidade de estar junto com sua família
12) Sobre preocupações, destacam-se: a) adoecimento de familiares (93,3% das crianças); b) reencontro com os amigos (89,7%); c) adoecimento próprio (88,8%); d) pobreza e o desemprego de familiares (80%); e) falta de alimentos em casa e no supermercado (74%)
12) A preocupação com faltar comida em casa neste período pandêmico envolve mais crianças que se identificam como pretas
13) Sobre a convivência familiar, 93,3% informam que têm possibilidade de conversar com um adulto quando quisesse e 80,3% têm a possibilidade de companhia dos adultos nos momentos das refeições (ao redor de 20% não têm essa possibilidade)
14) A principal atividade desenvolvida nesse período é brincar virtualmente sozinho ou com amigos (63,2% dos respondentes). Apenas 20,7% citaram leitura não obrigatória
15) Muitos citaram que durante a pandemia aprenderam a ajudar nas tarefas domésticas. Contudo, as meninas ajudam mais nessas atividades que os meninos
16) As práticas machistas se perpetuam nas famílias. Quando perguntados sobre ajuda nas tarefas domésticas todos os dias e várias vezes ao dia, a diferença se amplia, observando-se que 78% das meninas responderam “sim” enquanto 48% dos meninos deram esta resposta.
17) Sobre retorno às aulas: 82,2% das crianças estavam preocupadas com a volta às aulas, como a fala desse menino de 11 anos:
“Sinto falta dos ensinamentos dos professores pois vejo que isso prejudicou muito o ensino desse ano, esse ano está praticamente perdido”
18) Já nessa fala de uma menina de também 11 anos, as aulas online são criticadas: “é muito mais complicado ter aulas online, é pior a concentração, muitas vezes eu tenho dor de cabeça de tanto olhar para tela, e para mim a pior coisa, é essa enorme saudade de andar pela escola"
19) A pesquisa realizada pela UFMG traduz esse impasse que vivemos na educação básica brasileira: não temos como retornar às aulas presenciais com o índice de contaminação e ritmo de vacinação. Contudo, o ensino remoto não está funcionando. (FIM)
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Bom dia. Venho alertando para um certo oba-oba que envolve o campo progressista brasileiro (em especial, a base social-militante do lulismo, que vai além do PT) com a denúncia da PGR contra Bolsonaro et caterva. O fio é sobre isso: uma explicação sobre este alerta.
1) Quanto ao julgamento pelo STF, a grande imprensa ventilou a possibilidade de tudo ser finalizado ainda neste semestre. Considero um desatino típico da linha editorial sensacionalista em busca de likes. O mais provável é a sentença ser proferida em setembro ou outubro.
2) Se minhas projeções são razoáveis quanto ao calendário de julgamento, teremos um longo intervalo de 7 a 8 meses de muita turbulência pela frente. Já se esboçam algumas frentes da ofensiva bolsonarista: uma de massas e outra política, além da jurídica.
Bom dia. Postarei um fio sobre o "equilíbrio dinâmico" da política nacional. A fala de Hugo Motta sobre o ato terrorista de 8 de janeiro gerou grande agitação nas redes sociais. Contudo, a intenção não parece ter sido muito além disso: agitação. Vamos ao fio:
1) Vou começar com a "régua ideológica" da política brasileira. Para tanto, começo diferenciando esquerda de direita e ambas do extremismo. Esquerda é denominada a força (ou forças) política que luta pela igualdade social.
2) Já a direita enfatiza a diferença entre indivíduos (forte de fracos, inteligentes de pouco inteligentes, ambiciosos de indolentes) que eles classificam como base da "liberdade individual". Por aí, direita justifica a desigualdade social como fundada na diferença.
Bom dia. Inicio um fio sobre o livro de Leonardo Weller e Fernando Limongi, “Democracia Negociada”, que trata do período que vai do final da ditadura militar à queda de Dilma Rousseff. Lá vai:
1) O livro se constitui numa ilustração da encruzilhada que vive a sociologia brasileira. No século passado, grande parte da produção sociológica voltava-se para a leitura dos pares. Já no século 21, ficou patente que ser reconhecido pelos pares não bastava.
2) Dada a banalização da carreira, sociólogos passaram a buscar o grande público, cortar os excessos em citações, adotar títulos e capas chamativas, para além dos muros das universidades e think tanks muito especializados.
Bom dia. Prometi um fio sobre os atos terroristas de 8 de janeiro. E, também, sobre a origem de certo descaso popular em relação aos riscos à nossa democracia. Acredito que a fonte para as duas situações é a mesma. Lá vai:
1) Acredito que o ponto de convergência é o legado de 300 anos de escravidão no Brasil. De um lado, forjou uma elite nacional socialmente insensível e politicamente violenta, sem qualquer traço de cultura democrática
2) Nosso empresariado é autoritário e autocrático, como demonstram tantos estudos acadêmicos. Além de majoritariamente com pouca instrução, nosso empresariado desdenha eleições e procura se impor pelos escaninhos dos parlamentos e governos
Bom ida. Começo o fio sobre o futuro presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Mais um que tem seu poder local pavimentado pelas emendas parlamentares, a base do poder do Centrão. Lá vai:
1) Alcolumbre tem 47 anos e nasceu em Macapá. Trabalhou no comércio da família. Se elegeu vereador pelo PDT em 2000. Foi secretário de obras do município e em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito por 2 vezes. Em 2006, foi para o DEM
2) Em 2014, conseguiu a proeza de se eleger senador pelo Amapá, até então, um quase-protetorado dos Sarney. Aí começa sua saga nacional. Em 2019 é eleito presidente do Senado Federal, se reelegendo em 2022.
Bom dia. Aqui vai o fio sobre Arthur Lira. Daqui um mês, Arthur Lira deixa a presidência da Câmara de Deputados. Ele foi mais um da sequência iniciada com Severino Cavalcanti que passou a assombrar o establishment desta casa parlamentar
1) Severino foi apenas um susto. Mas, logo depois, veio o bruxo que alteraria de vez não apenas a lógica de lideranças e poder na Câmara de Deputados, mas a relação com o governo federal: Eduardo Cunha.
2) Lira entra nesta sequência, dando mais um passo na direção da subversão da lógica entre os três poderes: avançou sobre os governos Bolsonaro e Lula, chantageou à céu aberto e enfrentou o STF.