Crimes Reais Profile picture
May 20, 2021 29 tweets 12 min read Read on X
O esquema de abuso sexual de menores realizado pelo fundador da Casas Bahia:
Samuel Klein nasceu na Polônia, em novembro de 1923. Em 1939, ele e sua família foram levados a campos de concentração. Ele conseguiu escapar em 1944 e emigrou com a esposa e filho para o Brasil em 1952. Em São Caetano do Sul (SP), trabalhou como mascate até fundar a Casas Bahia.
A vida do “rei do varejo” é lembrada saudosamente em solo brasileiro. Após sua morte, Klein recebeu homenagens de políticos, empresários, banqueiros e jornalistas. Seu nome foi usado no batismo de ruas, edifícios e até de um instituto de trabalho social junto a crianças.
Ainda, é celebrado por ter sido um homem trabalhador e generoso com comunidades e indivíduos mais carentes; contudo, esse filantropismo teria sido motivado pela lascívia sexual de Klein, particularmente dirigida a menores, conforme descrito por excelente artigo da Agência Pública
O primeiro artigo relatando o envolvimento de Klein com jovens “garotas de programa” foi publicado pelo UOL no fim de 2020. O post evidenciava que a Casas Bahia foi condenada em, pelo menos seis causas, ao pagamento de danos morais a funcionários constrangidos pelas moças.
Os empregados descreviam situações semelhantes: adultas e jovens “bonitas”, na faixa dos 16 e 17 anos, adentravam determinada filial e exigiam a entrega de dinheiro e/ou mercadorias, geralmente munidas de bilhetes com ordens de pagamento assinados pelo próprio Samuel.
Às vezes, nem mesmo um bilhete era mostrado. Em tais casos, era comum a alegação de que teriam autorização de Klein para despedir qualquer funcionário que não as atendesse. Elas chegavam a levar mais do que o salário dos empregados. Em um caso, foram retirados R$ 150 mil.
Mais de 35 fontes, incluindo mulheres que alegam ser vítimas de crimes sexuais, advogados que as representaram, seguranças, ex-funcionários, motoristas de táxi, assistentes pessoais de Samuel, vizinhos de prédio e lojistas, foram ouvidas para a formulação da reportagem da AP.
O esquema foi conduzido em diferentes localidades: na sede da empresa, em São Caetano do Sul; em apartamentos em Santos (SP) e São Vicente (SP); em casas de veraneio em Guarujá (SP) e em Angra dos Reis (RJ); e numa mansão no condomínio Alphaville, em Barueri (SP).
Era comum que um espaço fosse reservado para os abusos: na sede, havia um quarto anexo ao seu escritório; na casa do Guarujá, uma construção nos fundos apelidada de “motelzinho”; em Angra, um iate, no qual grupos de meninas embarcavam e eram violentadas em alto-mar.
O modus operandi do esquema envolvia o aliciamento de jovens mediante promessa de ou recompensa material imediata, na forma de dinheiro ou produtos. Um dos métodos era a distribuição de dinheiro em bairros populares, quando Klein apontava as de sua preferência.
Mais comum, entretanto, era que as próprias jovens o procurassem, geralmente por recomendação de amigas ou parentes próximas, que não compreendiam a gravidade da situação, mas sabiam que Klein presenteava as menores que o encontrassem pessoalmente.
Karina Lopes Carvalhal, de 40 anos, conta que sua irmã, à época com 12 anos, a contou que poderia ganhar um tênis novo se encontrasse Klein na sede. Ademais, lhe deu um aviso: “Ká, não se assuste porque ele vai te dar um beijinho”. Por não possuir calçados próprios, ela foi.
O “beijinho” se manifestou no acariciamento dos peitos de Karina, que tinha apenas 9 anos. Ela saiu aliviada, com dinheiro e um tênis novo. Ela retornou, na esperança de receber mais bens, mas foi submetida a sua primeira exploração sexual por Klein, que ficariam rotineiras.
O motivo de haver voltado era o mesmo que de muitas outras meninas: as recompensas. A maioria delas vinha de famílias pobres — algumas sustentavam as mães com o dinheiro que recebiam —, e Samuel se aproveitava dessa situação para mantê-las em seu ciclo de exploração.
As “meninas do Samuel” eram apelidadas de “samuquetes”. Ele priorizava a juventude: tinha fetiche por desvirginar mocinhas inocentes. “Quando ele pegava uma [...] virgenzinha mesmo, nossa, ele enlouquecia. Dava carro pra família, fazia qualquer coisa”, contou uma vítima.
Uma agenciadora de Klein, Káthia Lemos, apontada como uma das “aliciadoras de meninas”, confirmou a preferência do empresário por meninas mais novas: “Era a fantasia dele”, mas negou que menores de idade frequentavam os eventos promovidos pelo varejista.
Todavia, admitiu que Klein tentou abusá-la quando ela tinha 13/14 anos e já trabalhava para ele: “Eu nunca deitei com ele. Um dia ele tentou, mas falei: ‘Você nunca mais faz isso’. E ele nunca mais tentou nada”. Além disso, ela teria aliciado dezenas de meninas para uma festa.
Num vídeo de uma festa na casa do Guarujá, em 1994, Klein é filmado agradecendo Káthia pelo esforço em organizar “essa festa maravilhosa para 150 amigas minhas”. “Ô, ô, ô, o Samuca é o terror” era repetido por diversas adolescentes e crianças de biquíni e fantasiadas.
A demora para a repercussão das denúncias e processos judiciais contra Samuel Klein foi devida ao manejo dos casos pela defesa do empresário e pela morosidade da Polícia Civil e do Ministério Público (MP) de SP em mover os inquéritos e ações que apuravam as alegações.
As ações trabalhistas, ajuizadas em face das Casas Bahia, concluíram em indenizações de R$ 10 a R$ 15 mil aos funcionários constrangidos. Nas áreas penal e cível, por outro lado, nenhuma ação contra Samuel teve êxito, pelas razões supramencionadas e pela anuência de acordos.
Um advogado, representante de seis mulheres que alegaram terem sido abusadas por Klein enquanto menores, afirmou ter fechado um acordo judicial, com pacto de confidencialidade. As moças foram indenizadas, mas foi acordado que as provas apresentadas seriam destruídas.
Essa última condição foi devida à incontestabilidade do material, que continha vídeos explícitos dos abusos sexuais das menores, incluindo os termos humilhantes que Klein dirigia a elas, afirmou o advogado. Outros acordos foram firmados, tanto judicial quanto extrajudicialmente.
Em 2010, Karina e Vanessa Carvalhal, assim como outras duas vítimas de abuso por Klein, também foram indenizadas. As irmãs afirmaram que cada uma recebeu R$ 150 mil. Em 2002, a mesma prática de pagar as denunciantes antes que o processo passasse a tramitar foi empregada.
Além de os acordos, em muitos casos, o direito das jovens exploradas prescreveu. Em outros, a defesa de Klein empregou táticas para evitar a intimação para as oitivas até que se esgotasse o prazo para sua realização, sem ações mais enfáticas da Polícia Civil ou MP.
Em 2008, um inquérito criminal foi aberto para a investigação de crimes no Estatuto da Criança e do Adolescente cometidos por Klein. O caso foi arquivado em 2014, após sua morte. Atualmente, apenas um caso tramita judicialmente, mas que também poderá ser extinto por prescrição.
Associados e ex-advogados de Klein se negaram a prestar depoimento relativamente às acusações. João da Costa Faria, que representou Klein judicialmente, apenas acusou a autora da ação em trâmite de ser uma estelionatária, sem nada para fazer e que desrespeita a memória de Samuel.
O Instituto Samuel Klein, fundado em 2014 e focado — numa perversa ironia — na educação de crianças e ao fortalecimento de vínculos com a comunidade judaica, suspendeu suas atividades após a repercussão do escândalo, conforme nota publicada em sua página:
Créditos principais: @agenciapublica 👈
Acesse também o link direto para a matéria que foi utilizada como fonte: apublica.org/2021/04/as-acu….

• • •

Missing some Tweet in this thread? You can try to force a refresh
 

Keep Current with Crimes Reais

Crimes Reais Profile picture

Stay in touch and get notified when new unrolls are available from this author!

Read all threads

This Thread may be Removed Anytime!

PDF

Twitter may remove this content at anytime! Save it as PDF for later use!

Try unrolling a thread yourself!

how to unroll video
  1. Follow @ThreadReaderApp to mention us!

  2. From a Twitter thread mention us with a keyword "unroll"
@threadreaderapp unroll

Practice here first or read more on our help page!

More from @CrimesReais

Jun 29
Assassinato? Extraterrestres? Sobrenatural? Criatura mística? O que poderia ter acontecido o grupo de 9 estudantes que morreram de uma forma agressiva? Um dos casos mais misteriosos do mundo: Dyatlov Pass.
Image
Image
Em 1959, 9 estudantes com idades entre 20 e 24 anos, e um instrutor, de 38 anos do “Instituto Politécnico de Ural em Yekaterimburgo”, foram a uma expedição nos montes rurais, Rússia – que ainda pertencia a antiga União Soviética – que duraria 7 dias. Image
Todos os estudantes já faziam o mesmo caminho há anos, então não se preocuparam em se perder. Na época do ocorrido, todos eles queriam alcançar um patamar de elite no país, já que o governo valorizava atletas de elite durante a Guerra Fria. Image
Read 30 tweets
Jun 27
A professora pedofila que abusava de seus alunos de 12 anos.
Image
Image
Alyssa Ann Zinger, atualmente com 23 anos, residente de Tampa, Flórida - USA; Recentemente foi presa pela polícia americana após acusações de abuso a menores de idade
Alyssa usava o aplicativo Snapchat, onde nos Estados Unidos ainda é um aplicativo que muitos jovens e adultos fazem uso, para fazer suas vítimas.
Read 13 tweets
Jun 20
O assalto ao Banco Central, segundo maior roubo do Brasil:
Image
Image
Em agosto de 2005, uma quadrilha assaltou o Banco Central do Brasil, em Fortaleza, Ceará. O crime aconteceu durante um fim de semana, enquanto o banco estava fechado. O caso foi descoberto na segunda-feira, no início do expediente. Image
Três meses antes da ação, os criminosos alugaram uma casa, cerca de um quarteirão de distância da instituição financeira, e criaram uma empresa de fachada chamada Gramas Sintéticas. Lá, escavaram um túnel atravessando a Av. Dom Manuel, uma das mais movimentadas da cidade.
Image
Image
Read 27 tweets
Jun 18
O caso do homem que morreu após fazer peelling fenol:
Image
Image
Natalia Fabiana de Freitas Antonio, conhecida por Natalia Becker através das redes sociais, é uma influenciadora e dona de clínica de estética que está sendo acusada do crime de homicídio doloso, após a morte de um de seus [...]
pacientes, o empresário Henrique Chagas, de 27 anos. A vítima do caso morreu na segunda-feira.
Read 25 tweets
Jun 13
Pai abusa da própria filha enquanto ela estava internada na UTI. Image
O pai de uma adolescente de 17 anos foi preso por estupro de vulnerável após abusar sexualmente da própria filha, internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital em São Paulo, com uma traqueostomia.
Os vídeos foram gravados durante uma madrugada pela equipe de enfermagem, que desconfiou do comportamento do pai da menina. Sete funcionários foram ouvidos pela polícia, e relataram que, durante a noite, os sinais vitais da paciente ficavam alterados na presença do pai. Ele disse que queria que a filha saísse da UTI para ter mais privacidade com ela, e muitas vezes fechou a cortina do leito.
Read 8 tweets
Jun 12
Homem pede garota em namoro e ela dá uma pedrada na cabeça dele. Image
Um homem de 21 anos foi atingido por uma pedra na cabeça no bairro Rebouças, localizado em Curitiba, após pedir uma menina em namoro.
O jovem apenas pediu assistência na manhã do dia seguinte, no mesmo local onde ocorreu a agressão, em frente ao estádio Durival Britto, na Vila Capanema.
Read 7 tweets

Did Thread Reader help you today?

Support us! We are indie developers!


This site is made by just two indie developers on a laptop doing marketing, support and development! Read more about the story.

Become a Premium Member ($3/month or $30/year) and get exclusive features!

Become Premium

Don't want to be a Premium member but still want to support us?

Make a small donation by buying us coffee ($5) or help with server cost ($10)

Donate via Paypal

Or Donate anonymously using crypto!

Ethereum

0xfe58350B80634f60Fa6Dc149a72b4DFbc17D341E copy

Bitcoin

3ATGMxNzCUFzxpMCHL5sWSt4DVtS8UqXpi copy

Thank you for your support!

Follow Us!

:(