O QUE AGOSTINHO PODE ENSINAR A EVANGÉLICOS SOBRE INERRÂNCIA - uma humilde 🧵 1. Todos nós no Ocidente fomos influenciados por Agostinho — pro bem ou pro mal. Vale a pena saber como ele via a veracidade das Escrituras — muito antes de modernismo, evolucionismo ou fundamentalismo.
2. "Admita no alto santuário da autoridade [bíblica] uma só afirmação falsa e não haverá uma única frase desses livros que, parecendo difícil de praticar ou crer, não será excluída pela mesma regra fatal, como uma afirmação em que o autor intencionalmente declarou uma inverdade"
3. Esta afirmação na Carta 28.3 sobre o comentário de Jerônimo em Gálatas encapsula muito do que viria séculos a frente: estudos bíblicos X teologia dogmática; crítica textual e histórica X consequências céticas para resto da fé; aparentes contradições no texto, etc.
4. Mas estou interessado em como Agostinho pode desafiar todas as posições atuais a partir de um contexto tão diferente. Por favor, tenha misericórdia se tenho que usar os rótulos de "apoiador" e "opositor".
5. Ao apoiador: distingua autoridade bíblica de inerrância bíblica. Agostinho dá o benefício da dúvida e a oportunidade para que Jerônimo esclareça como ele se justifica biblicamente. Deixe o irmão se explicar. Ele pode ter uma visão elevada da Bíblia também.
6. Ao opositor: distingua inerrância de hermenêutica "fundamentalista". O interesse de Agostinho (e de autores contemporâneos como John Webster) é que a Escritura possa continuar nos questionando — inclusive vacas sagradas como criacionismo, complementarismo e biblicismo.
7. Ao apoiador: distingua Bíblia e Cristo. Agostinho deixa claro que seu interesse é deixar a "Verdade encarnada" imaculada no testemunho bíblico. Como Dan Wallace argumenta, a inerrância deve ser a posteriori e uma consequência do testemunho cristocêntrico, e não um axioma
8. Ao opositor: distingua erro e forma encarnacional. Agostinho vê a Bíblia no contexto da subida da alma a Deus por meio da sabedoria do Deus que desceu até nós. Analogias cristológicas têm uso limitado e na obra do Espírito e "deificam" e transcendem limites cognitivos humanos
9. A todos: como Agostinho disse, "é um amigo mais verdadeiro o que pela censura me cura do que aquele que me bajula ungindo-me a cabeça". Não adianta criticar idolatria do texto ou do método histórico-crítico e ser orgulhoso epistemicamente. Caridade argumentativa é o caminho
10. A todos: a Bíblia precisa ser vista na economia trina da salvação e na espiritualidade humana que a responde. Agostinho desloca a discussão de erro para sabedoria justamente para acentuar nossa participação, junto com os autores bíblicos, da contemplação de Cristo...
..neste espelho da Bíblia, conhecemos em verdade que somos amados por Deus e assim a reordenar amores em cada aspecto da vida, até que conheçamos como somos conhecidos e vejamos Cristo, como no eschaton revelado na Transfiguração. "Este é o meu Filho amado, a ele ouvi"
Para mais detalhes: veja esta excelente tese de doutorado sobre a concepção de Agostinho de autoridade bíblica, bem melhor que meu pífio resumo aqui: curate.nd.edu/downloads/8k71…