O caso da grávida de Taubaté: A mulher que enganou o Brasil.
Em janeiro de 2012, o Brasil ficou pasmo, encantado e comovido pela gravidez de Maria Verônica Aparecida. A pedagoga de, então, 25 anos, residente de Taubaté (SP), espantou a comunidade local ao aparecer com uma barriga enorme e alegar estar grávida de gêmeos.
Contudo, logo descobriu que se tratavam de quadrigêmeas – as “quatro Marias”: Maria Klara, Maria Eduarda, Maria Fernanda e Maria Vitória. O caso espantava por diversas razões. De início, o tamanho da barriga era abismante, razão pela qual a apelidaram de “supergrávida”.
Além disso, Kléber Eduardo Melo, marido de Maria e quem seria o pai das gêmeas, afirmou ter feito uma vasectomia anos antes; entretanto, reiterou sua confiança na companheira. Inclusive, decidiu não fazer um espermograma por estar certo de que era o genitor das meninas.
À época, Maria alegava estar na 34ª semana de gestação. O caso alegrou a família, que comemorou o crescimento da família. Os padrinhos já haviam sido escolhidos e uma cor foi designada para cada uma das meninas, para que não se confundisse os itens das gêmeas.
O enxoval das Marias foi um evento nacional e contínuo: fraldas, roupas e brinquedos foram enviados à casa do casal. Mesmo com a repercussão nacional, parte do público duvidava da veracidade da gravidez, apontando, por exemplo, que terceiros não podiam tocar o ventre.
Contudo, a grávida refutou as dúvidas ao apresentar o ultrassom mais recente das nascituras, evidenciando que seriam gêmeas univitelinas. Maria anunciou que o parto aconteceria na segunda quinzena de janeiro daquele ano; entretanto, a barriga não diminuiria com a saída de bebês.
A história passou a ser taxativamente desmentida com a manifestação do ginecologista Wilson Vieira de Souza. Ele informou ter submetido Maria a um exame de ultrassom em agosto de 2011, no qual ficou atestado, quando ela deveria estar no 4º mês de gestação, que não estava grávida.
O médico se pronunciou ao ser questionado por um repórter da Record. O jornalista foi a Taubaté a pedido da apresentadora Chris Flores, que suspeitava de uma fraude. Em entrevista, ela contou que estava receosa de fazer o programa por não acreditar na gravidez.
Para esclarecer a situação, Maria foi levada ao camarim de Flores, e a apresentadora disparou de pronto: “Eu acho que você não está grávida, eu preciso ver a sua barriga para saber que você está grávida”. O questionamento levou a pedagoga aos prantos.
A grávida “começou a gritar, a me humilhar”, explicou. Sem se abalar, reiterou seu ceticismo: “eu já fiquei grávida, eu sei como é uma mulher grávida. Você não está com o nariz inchado, pé inchado” e, em seguida, pediu que ela comprovasse a gravidez mostrando a barriga.
“Ela negou: 'Minha barriga está horrorosa, toda queimada, toda cheia de estria'. Eu já estava procurando um alfinete [para estourar a barriga falsa]”, disse a apresentadora em tom bem-humorado. Assim, depois do programa, Flores pediu que um colega desmentisse o caso.
Ademais, as imagens do ultrassom mostradas por Maria eram, na verdade, do bebê de Ana Paula Mückenberger, administradora e blogueira. A grávida manipulou a foto para criar quatro ultrassons distintos, conforme foi atestado por especialistas de edição de imagens.
Com as refutações emergentes, o casal deixou de fazer aparições públicas – era comum que aparecessem em reportagens e programas de auditório – e contratou um advogado para lidar com a imprensa. Enilson de Castro fez Boletim de Ocorrência contra a Record por perturbação de sossego
O BO não ocasionou efeitos relevantes. Com a farsa efetivamente comprovada, foi marcada uma entrevista coletiva para o dia 20 de janeiro daquele ano. Nela, o advogado do casal finalmente admitiu o que já era sabido: a grávida de Taubaté não estava grávida.
Castro esclareceu que a gravidez foi simulada com “uma barriga de silicone” com enchimentos. Adicionou que toda a família estava muito abalada, indicando que apenas Maria sabia da fraude, e que ela não havia desmentido o caso previamente por conta da repercussão nacional.
Por fim, apontou que sua cliente sofria de problemas psicológicos e que se prontificava a retornar as doações. Um inquérito policial já havia sido aberto, no qual foi analisado se a conduta da falsa grávida fora criminosa e se ela havia obtido vantagem econômicas com a fraude.
Maria se apresentou ao 2º Distrito Policial de Taubaté no dia 27 de janeiro. Ela alegou que sofria de graves problemas psicológicos e que forjara a gestação por sonhar ter uma filha, assim como para reaproximar sua família. Também afirmou que seu marido não sabia da simulação.
Kléber depôs alguns dias depois, e o casal foi eventualmente indiciado pelo crime de estelionato. O processo tramitou na 3ª Vara Criminal, sob segredo de Justiça. Ainda em 2012, o Ministério Público propôs um acordo para extinguir o processo mediante a cooperação dos réus.
O juiz do processo, Érico Di Prospero Gentil Leite, acolheu a proposta de suspensão condicional do processo. Se cumprissem as condições do acordo por 2 anos, o processo e, consequentemente, a punição, seriam extintos. Durante o período, os réus cumpriram os termos.
Assim, em dezembro de 2014, o processo e a punibilidade foram extintos e, o casal, liberado. A defesa dos dois anunciou que eles se mudaram para uma casa na mesma cidade, e que tiveram de vender a escola de sua propriedade pela dificuldade em atrair alunos em razão do caso.
Nos anos posteriores à conclusão da situação, Maria continuou a criar o filho, que possuía 4 anos à época dos eventos da falsa gravidez, e se devotou à religião. Ela se tornou pastora da Igreja Assembleia de Deus. Sua justificativa para o caso é que não estava em sã consciência.
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