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Jun 29, 2021 18 tweets 10 min read Read on X
Hoje foi noticiado um estudo com a CoronaVac, apresentando dados de segurança e de resposta imunológica induzida pela vacina (imunogenicidade) em crianças e adolescentes de 3-17 anos!

Vamos conferir e entender melhor isso 🧶👇
Bem, todo mundo lembra que a CoronaVa é uma vacina que usa vírus inativado em sua composição. A imagem abaixo é do @EstadaoSaude e resume um pouco como é seu mecanismo de indução de resposta

saude.estadao.com.br/noticias/geral…
Sabendo disso, o estudo realizado foi do randomizado, controlado por placebo e tipo duplo-cego (nem os participantes, nem os aplicadores da vacina sabiam se estavam recebendo/aplicando o imunizante ou o placebo)
👥Fase 2: 460 participantes de 3-17 anos de Hebei, China 🇨🇳
Por que esse estudo é importante?

Ele levanta as primeiras evidências de segurança e de imunogenicidade nessa população mais jovem, mas devemos entender que não é um estudo de fase 3, e sim de fase 1/2.

O de fase 3 está por vir, e com esse, teremos dados de eficácia (proteção)
Os grupos foram divididos de acordo com faixas etárias, sendo eles:
👥3-5 anos
👥6-11 anos
👥12-17 anos

Recebendo uma dose mais baixa (1,5 μg) ou mais alta (3,0 μg) do imunizante
A idade média dos participantes do estudo foi de 9,2 anos na fase 2:
👥119 (25%) de 479 participantes com idades entre 3-5 anos
👥180 (38%) com idades entre 6-11 anos
👥180 (38 %) com idade entre 12-17 anos
💉O intervalo de doses foi de 28 dias para a 1ª e 2ª dose

Na tabela abaixo, vemos os dados de segurança. A maioria das reações adversas ocorreram em 7 dias após a vacinação e os participantes se recuperaram em 48 horas, leves a moderadas.
As reações mais comuns foram dor no local da injeção 13% dos participantes) e febre (5%), demonstrando um perfil favorável de segurança, com reações controladas e autolimitadas
Nessa tabela, vemos o dado de soroconversão, ou seja, da % de participantes que após a administração do imunizante, desenvolveu uma resposta imunológica detectável.

Na fase 2, a média foi de 96,8% de soroconversão entre os participantes no dia 28 após a 2ª dose
Nessa imagem, vemos a "quantidade" (títulos) de anticorpos neutralizantes para SARS-CoV-2 induzidos após 2 doses de CoronaVac. Maiores taxas foram vistas no regime de maior dose de 3,0 μg
Em resumo:
🔹Primeiro estudo investigando segurança e imunogenicidade em 3-17 anos da CoronaVac
🔹Tanto a menor quanto a maior dose foram seguras e bem toleradas
🔹Soroconversão em crianças e adolescentes foi superior a 96% após a vacinação com 2 doses
Limitações do estudo
🔹Não avaliaram resposta celular, mas comentam do estudo do Chile, o qual detectou a presença dessa resposta nos participantes
🔹Os autores também comentam que, no estudo da Covaxin, outra vacina de vírus inativado desenvolvida pelo Inst. Bharat Biotec, a presença de resposta celular também foi detectada no estudo de fase 2

thelancet.com/journals/lanin…
🔹O tamanho da amostra é pequeno! Portanto, é um estudo inicial que deve ser continuado para a 3ª fase, que observará, também, a eficácia nessa população
🔹Ainda não temos dados da duração dessa resposta, mas isso também estará sendo investigado
🔹Os autores deixam claro que os dados aqui são iniciais e que não devemos utilizá-los, nesse momento, para tomar decisões quanto a saúde pública. É necessário mais dados para poder eventualmente incluir uma população + jovem para a vacinação com a CoronaVac
Porém é um bom indicativo e tô ansiosa para ver os dados de fase 3. Já temos aqui no Brasil a aprovação da Pfizer para 12-17 anos, com estudos dessa vacina para populações + jovens. Sem dúvida, dando tudo certo, poderá ser uma boa soma na estratégia
E antes que eu me esqueça: viva a ciência ❤️

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Jul 16
É uma questão de tempo até um surto maior ocorrer.

O @CDCgov confirmou, essa semana, 4 casos humanos de gripe aviária (H5N1) no Colorado🇺🇸, com a possibilidade de um 5º caso que ainda será confirmado, após exposição a aves infectadas em granja 🔻
Segundo o @CDCgov "todos os trabalhadores que testaram positivo relataram doença leve. Os trabalhadores relataram conjuntivite e lacrimejamento, além de sintomas mais típicos da gripe, como febre, calafrios, tosse e dor de garganta/coriza"

Porém, H5N1 é um vírus perigoso...
Primeiro, a partir dos dados que temos dos últimos anos, sua letalidade é alta.

Segundo, o H5N1 é capaz de infectar o encéfalo🧠 e parece fazer isso com mais frequência que outros influenza

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Jul 11
Gripe aviária: novos dados apontam que o vírus H5N1 responsável pelo surto em bovinos nos EUA apresenta adaptações capazes de facilitar a infecção e transmissão em mamíferos.

Já passou da hora de reconhecermos o crescente risco pra saúde pública dessa doença - fio🔻Image
RESUMO DOS ACHADOS:
1⃣a cepa de H5N1 que infectou bovinos (🐄-H5N1) pode induzir doença grave após ingestão oral ou infecção respiratória;
2⃣em ambos os casos, pode levar à disseminação sistêmica do vírus para diferentes tecidos do corpo
3⃣🐄-H5N1 pode ser transmitido de roedoras lactantes para seus filhotes, mas não para animais adultos com os quais tenham contato direto
4⃣uma possível explicação: em furões, o ➡️🐄-H5N1 não foi capaz de se transmitir de forma eficiente pela via respiratória (gotículas)
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Jul 6
Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados

O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻Image
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde

ecdc.europa.eu/en/dengue-mont…
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)
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Jun 25
Vacinas trazem risco pra Alzheimer?

Alegações tem sido feitas por conta de um artigo recente, mas além de o artigo não comprovar a existência do risco, ele também tem tantos fatores de confusão que me surpreende ter sido publicado

Então respira, e vem de fio 🔻 Image
O artigo utilizou dados de mais de 558 mil indivíduos de Seul 🇰🇷, divididos em dois grupos: vacinados e não vacinados

A ideia era analisar se há associação com o comprometimento cognitivo leve, que pode ser visto anterior ao desenvolvimento de demências, como Alzheimer
Os pesquisadores então analisaram os registros entre 2020 e 2021. Importante notar: as campanhas de vacinação em Seul começaram em 2021.

Isso faz com que o número de pessoas com 2 doses seja pequeno, comparado ao tamanho inicial da amostra


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Jun 18
Li e tenho algumas questões importantes:
- Mesmo pessoas fora de grupos prioritários e até mesmo que tiveram Covid-19 leve, podem desenvolver sequelas pós-Covid;
- Sequelas pós-Covid podem ser duradouras, reduzirem a qualidade de vida e trazer riscos à saúde;

Tem mais🔻
Nessa parte de um fio recente, trago alguns dados recentes quanto as informações sobre sequelas pós-Covid. Não só há um risco de morte permanecendo elevado, como há uma perda significativa da saúde como um todo.
Portanto, me preocupa não termos ainda uma construção de políticas públicas para a Covid longa. Sabendo dos seus riscos, da prevalência estimada em outros países, poderíamos já estar ao menos com políticas instituídas para reduzir riscos de contaminação com vírus respiratórios
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Jun 6
Se tu passar por manchetes sugerindo que a vacinação contra Covid-19 ajudou a aumentar o excesso de óbitos, saiba que não é o que o estudo original sugere: o excesso de mortes “permanece elevado” APESAR do uso de vacinas (e outras medidas). Sem essas medidas, seria ainda maior🔻
O artigo original está no link abaixo e conclui: "o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a COVID-19."

bmjpublichealth.bmj.com/content/2/1/e0…
O artigo tem limitações importantes e deixa de lado a quantidade de mortes que foram evitadas graças a vacinação. Ainda, a circulação persistentemente alta do vírus, pelo enfraquecimento das medidas mitigatórias, pode estar por trás desse excesso.
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