A capacidade dos humanos de dissipar calor permitiu-nos ocupar todos os continentes, mas uma temperatura de bolbo húmido de 35°C marca o nosso limite fisiológico superior. Aguentamos calor seco, mas combinado com humidade alta, torna-se impossível sobreviver, mesmo à sombra e
com água. Antes considerava-se impossível atingir esta situação, mas actualmente, os modelos climáticos projectam as primeiras ocorrências de 35°C de bolbo húmido em meados do século XXI. A ciência é, por método, conservadora. Esta situação já foi atingida no Golfo Pérsico
e no Paquistão no ano passado, durante uma ou duas horas. Só vai piorar. Quando as pessoas perguntam se a crise climática é grave não percebem como ela significa que sítios onde vivem centenas de milhões de pessoas não serão habitáveis. Se esta temperatura não permite a
sobrevivência humana mais do que alguns minutos, tem efeito semelhante em outros mamíferos, animais e plantas. Os locais tornam-se inabitáveis, improdutivos e biologicamente debilitados e simplificados. As pessoas vão abandonar os locais porque... não podem lá ficar. Se não
travarmos as emissões de gases com efeito se estufa, se não enterrarmos o capitalismo fóssil na próxima década e mudarmos fundamentalmente a maneira de produzir e viver, os locais inabitáveis tornar-se-ão cada vez mais e maiores. O bolbo húmido de 35 graus não é de maneira
alguma o único problema associado à crise climática, só mais um exemplo da nova normalidade. Os sítios que continuarão a ser viáveis também vão ter condições muito mais frágeis, com climas mais violentos e fenómenos climáticos extremos. Este sistema miserável a que chamamos
capitalismo não vai conseguir gerir nenhumas das novas e fortes tensões produzidas, e portanto cairá no seu confortável autoritarismo e violência sobre os mais fracos, que serão cada vez mais. Já vivemos no planeta B. Quem criou, conscientemente, a crise climática, quem gere
o capitalismo hoje é criminalmente responsável por recusar-se em travar a crise climática. O novo rol de políticas públicas aprovadas após as mobilizações globais de 2018/2019 é inequivocamente insuficiente, inventando datas avulsas e cortes de emissões arbitrários, além de terem
usado todos os truques para evitar os cortes, como toda a conversa sobre emissões net zero e compensação de emissões em vez de cortes. São apenas o esquema de fraude como gestão que aplicam diariamente para enganar quem trabalha e o conjunto da sociedade, continuando a servir as
empresas privadas e olear a acumulação de riqueza dos capitalistas. O que noutros casos provoca sofrimento, injustiça, violência e saque sobre povos e comunidades, no caos da crise climática significa condenar a Humanidade à inviabilidade crescente, à destruição do nosso
património comum, muitas vezes de forma irreversível. Não é só crime, é o maior crime da História da Humanidade. Ou mudamos tudo sobre a nossa sociedade ou o clima mudará tudo, contra nós. O capitalismo tem de ser travado. #systemchangenotclimatechange

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