A Anarquia Relacional (AR), é um movimento surgido nos anos 2000 em encontros anarquistas do norte da Europa. Se espalhou pelo continente europeu, depois América do Norte e América Latina. Aqui no Brasil, tem semelhanças com os movimentos Relações Livres e Não Monogamia Política.
A AR tem esse diferencial de vir diretamente do anarquismo, que desde o seu surgimento se dedica tanto a questões sociais, políticas e econômicas mais amplas quanto às relações interpessoais e às comunidades.
O anarquismo sempre criticou tanto o estado e o capital quanto a família, o casamento, a moral burguesa, o patriarcado, o racismo, dentre outras mil estruturas de dominação social, chegando até mesmo a propor, experimentar e documentar formas não-monogâmicas de se relacionar.
Exemplos clássicos são Emile Armand, na Europa, e Giovanni Rossi na Colônia Cecília no Brasil, além da conhecida Emma Goldman.
O que a AR faz é trazer essas reflexões e experiências do anarquismo clássico e levá-las adiante. Chama a atenção para a hierarquia que coloca relações de amizade abaixo daquelas de consanguinidade e de formação da família nuclear.
Hierarquia sustentada culturalmente pelo ideal do amor romântico e institucionalmente pela legislação do estado que rege as práticas e relações sob o capitalismo).
"Tanto faz ser Monogamico ou Não-monogamico, não existe modelo melhor, o que importa é o que funciona para você".
Vamos analisar esse pensamento um pouco:
Primeiro, é importante entender que Monogamia não é um modelo e sim uma estrutura normativa. Você aprende a se relacionar dentro dessa estrutura. Ela molda suas escolhas morais, sexuais e afetivas, define hierarquias relacionais, diz quais corpos merecem afeto e etc...
Quando você coloca Monogamia e NM como modelos, você está fazendo uma falsa simetria, como se ambos fossem equiparados e se tratassem de uma simples questão de escolha individual.
A não-monogamia não é um formato. Como o próprio nome já diz, é um anti-formato, e mais ainda, anti-formatação. A monogamia é a formatadora de relações, de afetos e de desejo, então para termos mais liberdade e potência, precisamos afirmar o que é negado por ela.
A monogamia não é (só) "uma experiência", como disseram, é uma estrutura de opressão e normatização, um sistema, um pensamento dominante.