Bom dia. Hoje, estarei com Chico Alencar (PSOL) e Alexandre Vasilenskas (PCB) analisando as manifestações de ontem. Contudo, farei um pequeno fio sobre o tema, uma espécie de spoiler do meio-dia (ao menos, no que diz respeito à minha opinião). Lá vai
1) Segundo os organizadores das manifestações de maio para cá (ontem foi a quarta desta sequência), tivemos 600 mil pessoas em 509 atos realizados no Brasil e no exterior. Números impressionantes para um período de riscos pandêmicos e depois de um apagão na esquerda
2) Aqui no Twitter, algumas observações exageradas. Comecemos pelas comparações. Houve quem comparasse com a Campanha das Diretas !!!! A Campanha teve muito menos gente e somente no final chegou aos milhares. A cifra de 1 milhão foi questionável até pelos organizadores na época
3) Mais: a campanha das Diretas se concentrou em comícios com personalidades e artistas. Não se resumiu às passeatas. Poderíamos comparar com 2013. Foram 3 semanas consecutivos que foi num crescendo, até atingir seu ápice no final de junho.
4) Na penúltima manifestação de junho de 2013, o G1 publicou que foram mais de 1,25 milhão de pessoas participaram dos protestos em mais de 100 cidades brasileiras, tendo o Rio de Janeiro como destaque, com 300 mil pessoas. Mas, as condições eram de apoio da grande imprensa
5) 2013 tinha uma conjunção de variáveis a seu favor, a começar pela onda de protestos de mesmo tipo que envolveu Europa e EUA (Occupy), passando pela América Latina (Argentina, no início do século XXI). E havia uma convergência de interesses em jogo que ampliava o público.
6) O de número de pessoas nas ruas realmente não parece ser um indicador político significativo já que 600 mil pessoas protestando não é desprezível. O número de cidades é praticamente o mesmo de 2013, o que revela capilaridade do mote dos protestos. A questão é política.
7) O que tenho como relevante é se está se formando uma onda que atinge a base eleitoral do Congresso Nacional. Isso é mais relevante porque é aí que a jiripoca começa a piar. Também é relevante se a onda cria opinião pública, uma sensação de "massacre moral"
8) Pois bem, em termos de capilaridade, a resposta à primeira questão (manifestações atingem base eleitoral dos congressistas?) seria positiva, ao menos como onda, como processo, já atingindo 10% dos municípios brasileiros. Neste quesito, as manifestações estão crescendo.
9) Contudo, a segunda questão (as manifestações estão criando clima ou opinião pública?) não parece ter resposta tão auspiciosa. A contar justamente pelas dúvidas despejadas ontem aqui no Twitter. Se o próprio campo envolvido avalia que as manifestações foram menores....
10) Então, acredito que a fase atual da história política em nosso país, marcada pelo espetáculo e pelo jogo instantaneamente épico dos memes em redes sociais deve ser levada em conta. Sem algo espetacular, nada feito: fica parecendo déjà vu
11) O problema, neste caso, está em nós: com tanta informação e casos pessoais (como da deputada Joice) se misturando com políticos (caso da minirreforma) e bravatas (caso de Braga Netto), o olhar só é atraído por algo grandioso, fantástico.
12) Assim, acredito que o atual ciclo de manifestações bateu no teto. Não se trata de números de manifestantes, mas da plástica das manifestações.
13) Talvez, nesse mundo tão acelerado, as manifestações tenham que, a partir de agora, ser reformatadas. Adotar algo mais espetacular. Superar a plástica das procissões. Avançar politicamente. Ser temidas para serem respeitadas. O resto, discutiremos ao meio-dia no DCM. (FIM)
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Bom dia. Posto um fio sobre a caracterização do bolsonarismo como ideário fascista, subversivo à Ordem Democrática e que deve ser colocado na ilegalidade. Vou me basear no livro que publiquei sobre o fascismo brasileiro. Lá vai:
1) Com o indiciamento de Jair Bolsonaro e 25 militares, sendo 24 do Exército (8 generais, 6 tenentes-coronéis, 7 coronéis, 1 capitão, 1 subtenente e 2 majores) na trama do golpe de Estado, o cenário de risco e a fonte de ameaça à democracia brasileira já está nítido.
2) Os líderes do bolsonarismo se autodeclaram de direita. A direita sustenta que a espécie humana possui distinções comportamentais: alguns são mais esforçados que outros; alguns mais inteligentes ou mais ambiciosos ou mais bem preparados.
Bom dia. Comprei o livro de Byung-Chul Han sobre o conceito de esperança num mundo de multicrise (o palavrão é dele). Vou comentar brevemente num fio. Lá vai:
1) Byung-Chul Han é possivelmente o filósofo mais profícuo do mundo. Não consigo nem acompanhar a produção dele. Acreditei que o seu livro “O Espírito da Esperança” seria o último, mas o livreiro me alertou que era o penúltimo. Mas, isso pouco importa.
2) O que importa é que “O Espírito da Esperança” debulha o trigo que Paulo Freire plantou. Esperançar se tornou o verbo mais citado por educadores brasileiros. Freire empregou a palavra para chamar para a ação.
Bom dia. As eleições municipais que acabaram ontem completaram o círculo vicioso do baixo clero. Este é o fio de hoje. Vamos a ele:
1) As eleições de 2024 foram uma volta ao passado político do Brasil. Uma enorme derrota para a esquerda, mas também uma quebra nas expectativas inflamadas da extrema-direita.
2) Não ter a polarização recente como vitoriosa não significou a vitória da tal terceira via, um modelito repaginado do liberalismo sem sentido em nosso país. Não há espaço para liberalismo no mais desigual dos 10 mais ricos do planeta.
Mais uma vez, me assusto com o envelhecimento do PT. Embora tenha eleito jovens para Câmaras Municipais, o comando e a base do partido envelhecem rapidamente. Vamos aos dados:
1) Segundo dados do TSE de 2022, homens de meia idade são o principal perfil dos filiados a partidos. O PT não foge à regra: 19% dos filiados são homens de 45 a 59 anos de idade, índice similar ao do PCdoB. O índice cai para 14% no caso do PSOL. PSTU vai a 24%
2) Mulheres de 18 a 24 anos não chegam a 1% dos filiados do PT. Já os homens nesta faixa etária não perfazem mais que 0,5% dos filiados petistas. Quase 42% dos homens filiados petistas têm entre 35 a 69 anos (17% dos filiados homens têm de 60 a 74 anos).
Bom dia. Enquanto o mundo continua existindo por aqui, cumpro minha promessa e posto o fio sobre Darcy Ribeiro e suas propostas para a educação brasileira. Lá vai:
1) Darcy Ribeiro, sociólogo e antropólogo, foi defensor da escola pública e da educação integral. Costumava dizer que “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”, referindo-se às estruturas sociais segregacionistas presentes no Brasil
2) Sua concepção também foi influenciada pelo movimento Escola Nova, assim como Anísio Teixeira. A idealização dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), a partir da experiência da Escola Parque, vem desta filiação.
Bom dia. Ontem, perguntei aqui se deveria continuar os fios sobre educadores e, se sim, quais. Vários sugeriram fazer um mix de teóricos. Então, farei um fio sobre Anísio Teixeira e, mais adiante, sobre Darcy Ribeiro e outros. Começando agora.
1) Anísio Teixeira foi o educador com maior influência política no Brasil. Tanto que seu nome está inscrito no mais importante instituto que realiza exames educacionais, o INEP.
2) O educador baiano seguia o liberal igualitarista John Dewey, pedagogo dos EUA que defendia a democracia e a liberdade de pensamento como elementos para a maturação emocional e intelectual das crianças. Dewey imaginava a educação como base central da formação do cidadão.