Então vamos continuar falando sobre o Evola e seu pensamento. Vamos explorar a questão dos yugas e das castas do pensamento antiliberal, anticomunista e fascista do autor italiano
Evola advoga pela existência de um "mundo metafísico superior", isso junto com uma grande valorização de hierarquias e cultura hindu, levou Evola a apoiar sistemas de castas. Inclusive uma concepção do tempo como dividida em castas, ou Yugas
O primeiro Yuga é a Era de Ouro, Satya Yuga, governada pela "casta superior" de sacerdotes. A partir da “degenerações”, como chama Evola, a Era de Ouro dá lugar a outras Yugas.
A segunda Yuga, Tetrâ Yuga, seria o governo de militares, uma casta inferior a sacerdotes. A terceira Yuga, Dvâpara Yuga, seria o governo pela classe mercante, uma forma ainda mais “degenerada” de governo.
E, por fim, o Yuga atual, o Kali Yuga, o governo popular, uma era de trevas segundo Evola. Essa demonização de um governo popular revela o carácter profundamente antidemocrático do pensamento de Evola
Essa ideia de Yugas, porém, não é pensamento original de Evola, ele se utiliza de conceitos presentes no pensamento hindu para basear suas ideias antidemocráticas e elitistas.
O conceito de tempo de Evola, além de profundamente reacionário, é um conceito cíclico do tempo. Um Yuga invariavelmente sucederia o outro, a única coisa que alguém que vive num tempo de Kali Yuga pode fazer é sobreviver até a chegada da Satya Yuga, a Era de Ouro
Um exemplo de civilização que viveu a Era de Ouro, segundo Evola, é o Império Romano porque entendia o Império como uma “entidade metafísica”. O pensamento de Evola, então, frequentemente exalta esse período da história.
Essa valorização faz coro com a rememoração politicamente interessada que o governo fascista de Mussolini fazia também da época do Império Romano, de um passado idílico italiano
A segunda Yuga, Tetrâ Yuga, seria a Era Medieval, onde reis guerreiros governam.
Além disso, ele acreditava que mitos sobre esse período eram de grande importância, mais do que a historiografia, pelo seu poder de agitação sobre “as massas”
Pelo seu pensamento, “massas” são inferiores e precisam ser mobilizadas por coisas simples, como mitos. Como alguém que era próximo a Mussolini, Evola dava grande importância à centralidade de mitos para o fascismo italiano.
Essa valorização dos mitos no nazifascismo é mostrada por Garsha. O autor mostra como o medievalismo era central nos filmes e propagandas dos regimes, que se baseavam em reimaginar o passado
Assim como Evola reimaginava o Império Romano como uma “Era de Ouro” ou a período medieval como um período hierarquicamente superior ao período atual.
Outro autor que mostra a valorização do passado feito por regimes fascista é Lavansky, que mostra como a reimaginação do período medieval era feito na Itália fascista a partir de festivais, que celebravam um nacionalismo hereditário, nostálgico.
Pela valorização da hierarquia, Evola entendia valores igualitários como absurdos. Para ele, era necessário existir castas superiores, que seriam para proteção e liderança, e castas inferiores, que seriam os servos.
Essa valorização do sistema de casa é chamado por alguns autores de “racismo espiritual”. Evola criticava o “racismo pseudo-científico” do regime nazista, apesar de defender alianças entre o povo germânico e italiano
acreditava que a hierarquia social deveria ser a partir de valores espirituais, as castas.
Sheeran mostra como o ressurgimento do pensamento de Evola se deu na chamada “União da Nova Direita” na Itália em 1976 e liga esse ressurgimento a uma série de atentados violentos em 1980 pela Europa.
Segundo o autor, a mitologia da violência do neofascismo de 76 se dá pela justificativa que o pensamento evolista confere a esse tipo de ato.
A leitura desse autor por grupelhos neofascistas brasileiros é extremamente preocupante, considerando seu carácter altamente reacionário e antidemocrático
Referência:
GARSHA, J - DICTATING THE PAST: THE CAPTURE OF MEDIEvALI5M IN NAZI CINEMATIC PROPAGANDA AND THE ROOTS OF THE HOLOCAUS history.sfsu.edu/sites/default/…
Lasansky, D - Tableau and memory: The fascist revival of the medieval/renaissance festival in Italy tandfonline.com/doi/abs/10.108…
Sheraan, T - Myth and Violence: The Fascism of Julius Evola and Alain de Benoist jstor.org/stable/40970798
Fontes de extrema direita consultadas não serão referenciadas. Contamos com a sua compreensão
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Para falar de monarquismo no Brasil, precisamos falar da Tradição, Família e Propriedade (TFP)
Luiz e Bertrand também pertenceram a uma organização civil de inspiração católica fundada na década de 60 por Plinio Corrêa de Oliveira conhecida como Tradição, Família e Propriedade (TFP).
Segundo Quadros, ambos mantinham laços estreitos com correntes conservadoras do catolicismo e não se contrapõem à corrente reversionista.
A TFP propagava 3 principais discursos: oposição à esquerda, denúncia da "instabilidade da república” e defesa de valores católicos.
Vamos continuar o papo sobre a Atomwaffen (AWD), tendo em vista as recentes ações de neonazistas em São Paulo e a tentativa recente do grupo no Brasil.
Falaremos sobre a histórico de crimes desse grupo, que é recente mas tem muito BO na conta.
TW: assassinato (muitos)
Fundada em 2015 por um estadunidense num fórum neonazista, a AWD nunca foi um grupo regional. A facilidade de acesso ao fórum e aos textos do grupo, todos em inglês, caracterizaram o grupo como um grupo que atua através de células em rede transnacional.
Em 2017, o fórum Iron March foi fechado e seu criador, Alexander Slavros, lançou um livro/manifesto direcionado a Alt-Right estadunidenses e neonazistas que coabitam esse ecossistema.
Atomwaffen Division (AWD) é parte de uma constelação de grupos neonazista e aceleracionistas que foi fundada pelo estadunidense Brandon Russel em julho de 2015 no fórum neonazista Iron March.
O fórum Iron March, segundo o Southern Poverty Law Center, tem relação com mais de 100 assassinatos e era um porto seguro para neonazistas online se encontrarem e propagarem suas ideias.