Thread by @joaocezar1965

1. Em “O futuro de uma ilusão” (1927), Sigmund Freud propõe uma distinção conceitual que esclarece a importância da pesquisa de @MichelePradoBa sobre o avanço de ideias da extrema-direita no Brasil — um dos eixos da ascensão do bolsonarismo rumo ao Planalto.

2. Trata-se da distância entre o “erro” e a “ilusão”. Em princípio, é possível superar um erro pela demonstração do seu oposto, isto é, um acerto. Questão factual que, em tese, não admite tergiversação: basta manter os olhos livres. Outro mundo se abre com o fenômeno da ilusão.

3. Ora, “a própria ilusão dispensa a comprovação”, pois se trata de projetar o desejo num objeto qualquer. Agora, pouco importa se alguém provar que a projeção está factualmente equivocada, já que a ilusão pode resultar em delírio, cuja essência “é a contradição com a realidade”.

4. Chego ao livro de @MichelePradoBa , “Tempestade ideológica”, que mapeia o “delírio coletivo” também conhecido como bolsonarismo. Destaco três pontos. Em primeiro lugar, o ensaio pode ser lido como um exercício autobiográfico: a autora participou ativamente das redes sociais

desde os tempos do Orkut, em 2005. Não conheço outro texto que acompanhe de forma tão completa (e crítica) o avanço da direita e da extrema-direita, indissociável do universo digital.

5. Em segundo lugar, @MichelePradoBa identificou um movimento decisivo: a naturalização das

posições, inaceitáveis, da extrema-direita mundial foi obra, muitas vezes, de uma direita que se julga moderada e até anti-bolsonarista. Aqui, a pregação de Olavo de Carvalho foi o fiel da balança.

6. Por fim, @MichelePradoBa realiza um mapeamento de grande importância dos temas

e códigos dominantes da extrema-direita transnacional. A partir da leitura atenta de “Tempestade ideológica” não há mais espaço para “ilusão”: extrema-direita é sempre extrema-direita! No Brasil bolsonarista, a redundância se impõe — antes que seja tarde.