Thread by @rrandres

Uma paralisação de caminhoneiros não representaria ameaça para o Brasil na década de 1950.

Pessoas continuariam se deslocando pelas cidades, o abastecimento de produtos seria mantido, não faltaria insumos em hospitais, escolas, postos de saúde. 🧶

Nem sempre fomos dependentes de estradas, asfalto, pneus e derivados de petróleo: nos tornamos uma república rodoviarista ao longo do século 20, a despeito da ampla malha ferroviária e do imenso potencial hidroviário que o país já teve.

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Em artigo na @piseagrama, @RegaldoFernanda narrou o desmonte da Rede Ferroviária Federal, que já foi a maior empresa pública do país. Nos anos 1950, os trens intermunicipais no Brasil transportavam 100 milhões de passageiros por ano.

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piseagrama.org/aguardando-des…

Hoje não circulam 2 milhões de pessoas por ano nos trens intermunicipais brasileiros. A história passa pela construção desenfreada de estradas, alavancada por JK e levada a cabo na ditadura militar, que arruinou nossas ferrovias. As que sobraram transportam commodities.

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“No afã privatizante do governo FHC, o sistema ferroviário do país foi completamente desmembrado e concedido à iniciativa privada, quase sem condicionantes de interesse público”, relembra a @RegaldoFernanda. Quase nada foi feito depois para reverter isso.

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Nas mãos de poucas empresas ligadas à mineração, nossa malha ferroviária restante ficou restrita à exportação de minério, grãos e biocombustíveis. E a maior parte do transporte de cargas e passageiros que estrutura a dinâmica interna do Brasil foi para as rodovias.

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O modelo onera a logística do país, produz impacto ambiental e milhares de mortes. Estima-se que caminhões gastam cerca de dez vezes mais energia que trens para transportar a mesma carga; e que mais de 10.000 pessoas morrem por ano no BR em acidentes envolvendo caminhões.

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As cidades seguiram na mesma toada. São Paulo, em 1950, tinha a mesma população (cerca de 2,4 milhões) e a mesma área territorial que Belo Horizonte em 2010. No entanto, SP tinha 70.000 veículos em 1950 e, BH, 1,4 milhão em 2010.

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O mesmo nº de pessoas vive e se desloca na mesma extensão territorial com 20 vezes menos carros. Como é possível? São Paulo tinha, em 1950, mais de 600 quilômetros de trilhos de bondes. Os ônibus enfrentavam menos trânsito de carros. Havia muitos problemas, mas movia-se.

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Com o espraiamento das cidades, que valoriza terras nas vizinhanças, a dependência petrolífera se acentuou cada vez mais. A produção de alimentos foi se distanciando dos polos de consumo, em grandes monoculturas, altamente dependentes do diesel (assim como de agrotóxicos).

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Tudo isso criou um país que, quando funciona a pleno vapor, gera poluição, doenças, mortes, mal-estar. Como economia e vida cotidiana formam a base da política, a força política dos caminhoneiros é herdeira do esquema. E o autoritarismo rodoviarista bolsonarista também.