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Sep 13, 2021 13 tweets 5 min read Read on X
Nessa nova temporada do futebol turco, um clube tem chamado a atenção, tanto pela sua movimentação no mercado quanto pelo retorno à 1ª divisão após décadas:

O Adana Demirspor, clube de raízes históricas políticas de esquerda e hoje com ligações com o governo Erdoğan. Imagem da torcida do Adana Demirspor, contendo várias pesso
Ao todo, foram 26 anos longe da 1ª divisão.

O que não quer dizer que o Adana Demirspor não seja um clube tradicional, com uma torcida fiel: fundada em 1940, a equipe tem hoje a 10ª maior torcida de toda a Turquia, mesmo com anos de sofrimento nas divisões inferiores. Imagens da festa da torcida do Adana Demirspor mostra vário
Adana é a 6ª maior cidade turca, distante de centros como Istambul e Ancara.

O clube foi fundado por operários ferroviários, razão pela qual sua torcida historicamente se identificou com pautas de esquerda, mantendo amizades com torcedores de clubes como St. Pauli e Livorno. Imagem coloca lado a lado os símbolos de Livorno, da Itáli
Nas arquibancadas de Adana, há bandeiras com rostos como os de Che Guevara e de Deniz Gezmiş, revolucionário turco executado nos anos 70 por suas ações de guerrilha no país.

Mas hoje, o clube é presidido por um empresário aliado ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan. Túmulo de Deniz Gezmiş é adornado com um cachecol do Adan
Erdoğan, acusado de autoritarismo pela oposição, comanda a Turquia desde 2002, com diferentes manobras pra se manter no poder desde então.

Entre suas políticas controversas, está a interferência na guerra civil na Síria. Desde o início, o grupo de mídia Star apoia essas ações. O presidente da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, sentado em uma
O Star é presidido por Ethem Sancak. Seu sobrinho, Murat, sofreu um atentado em Istambul em 2015, supostamente feito por membros do Estado Islâmico. Sobreviveu.

Murat garantiu que a política editorial do grupo não mudaria, mesmo após o atentado, nem que ele fosse assassinado. O empresário turco Murat Sancak é fotografado em frente a
Hoje, Murat Sancak é apontado pela oposição a Erdoğan como homem-chave na relação entre a Turquia e a província fronteiriça síria de Idlib.

Em tese desmilitarizada, ela é comandada por grupos jihadistas, entre os quais está a Al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria. Militante da Al-Nusra carrega bandeira do grupo na provínci
Murat seria fornecedor de vários produtos à região, de chá a carros usados, além de combustível. Ele nega.

Seu tio Ethem, por sua vez, é acionista da BMC, empresa que fabrica veículos blindados - vários deles justamente usados para a intervenção turca no conflito sírio. Crianças brincam em destroços de construção na região d
Em 2018, Sancak chegou à presidência do Adana Demirspor, um clube com o qual não tinha ligações históricas, numa manobra que o permitiu concorrer sem oponentes.

Desde então, o dinheiro começou a fluir na direção do clube de torcida tradicionalmente esquerdista. Murat Sancak discursa diante de uma bandeira do Adana Demirs
Pra se ter uma ideia, o Adana Demirspor não conseguia subir de divisão antes disso: foram 9 playoffs de acesso perdidos em 14 anos.

O drama era tamanho que, em 2010, o então presidente do clube, Bekir Çinar, tinha se endividado tanto em busca do acesso que decidiu se suicidar. O presidente Bekir Çinar é fotografado em comemoração co
Mas, com Sancak e um empurrãozinho da influência de Erdoğan, vieram estrelas como Anderson (aquele revelado no Grêmio, ex-Manchester United) e até um novo estádio público em Adana, inaugurado em fevereiro.

Depois de muitos anos longe da elite, o clube está de volta ao topo. Murat Sancak aperta a mão de Anderson, em foto de 2019. O e
Pra jogar a 1ª divisão, a equipe atual tem rostos bastante conhecidos, como o italiano Mario Balotelli, o marroquino Belhanda, o suíço Inler e o argentino Matías Vargas. O técnico também é famoso: Vincenzo Montella, ídolo da Roma.

Em 4 rodadas, porém, o clube ainda não venceu. Balotelli aperta a mão de Murat Sancak após sua contrataç
O Copa Além da Copa fala de esporte, política, história, cultura e sociedade.

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May 31
6 de junho de 2015.

Após a vitória do seu Barcelona sobre a Juventus, o técnico Luis Enrique comemora no campo ao lado de sua filha, que agita uma bandeira do clube catalão. Eram os campeões da Europa.

10 anos depois, ele quer repetir a cena. Mas sua filha não está mais aqui. Luis Enrique e sua filha Xana em campo. A menina balança uma bandeira do Barcelona. Só estão os dois no gramado
Xana tinha apenas 9 anos quando faleceu, em 29 de agosto de 2019, devido a uma forma rara de câncer ósseo.

Ele e sua esposa, Elena Cullell, a mãe de Xana, montaram uma fundação com o nome dela após sua morte, para dar apoio a crianças com câncer e às suas famílias. Luis Enrique carrega a pequena Xana nos braços após conquistar o título da Champions League de 2015
A vida de Xana coincide um pouco com a carreira de técnico de Luis Enrique, que começou nas categorias de base do Barça, passou pela Roma, pelo Celta, até chegar ao profissional do gigante catalão.

Com ele, o Barça formou o ataque com Messi, Suárez e Neymar e ganhou a Champions. O ataque do Barcelona em 2015, com Suárez, Neymar e Messi abraçados
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May 8
Um feito histórico no Irã: pela 1ª vez, um clube azeri (azerbaijano) é campeão nacional.

O Tractor, para orgulho dessa que é a maior minoria étnica do país, conquistou o título local.

Nos últimos anos, ele tem sido válvula de escape de uma minoria perseguida pelo governo. Pôster oficial de comemoração do Tractor, campeão iraniano de 2024/2025
É comum que se pense no Irã como um lar só dos persas, mas o país é um caldeirão étnico. Existem curdos, árabes, baluchis e, sim, azeris.

Estima-se que esses últimos sejam em torno de 20% da população do país, ou algo entre 12 a 20 milhões de pessoas.

Mas a questão é delicada. Mapa do Irã ao lado de um gráfico que mostra as etnias no país, inclusive sua distribuição geográfica
A dinastia Pahlavi, que ascendeu ao poder há 100 anos, instaurou políticas de nacionalismo étnico, buscando "persificar" todo o Irã, perseguindo manifestações de identidade azeri.

Ela foi derrubada pela Revolução Islâmica de 1979 com ajuda dos azeris, mas eles se decepcionaram. Manifestação no Irã em 1979, em apoio ao aiatolá Khomeini, na época exilado em Paris
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Apr 28
"O time de mais sucesso na Inglaterra não é inglês. É scouse".

O Liverpool levantou o título da Premier League e a Nike aproveitou e reforçou uma identidade que clube e cidade adoram promover.

Mas afinal, o que é scouse, e por que há uma certa polêmica com o uso do termo? Imagem é a campanha da Nike mostrando Virgil van Dijk com a camisa do Liverpool, trazendo a logomarca da empresa e a frase "o time de mais sucesso na Inglaterra não é inglês, é scouse".
Liverpool é uma cidade portuária no oeste da Inglaterra. Distante da capital Londres, tem características que não combinam com a aristocracia que marca o país.

Desde o século XVIII, é também um caldeirão cultural. Imagem é um mapa da Grã-Bretanha e Irlanda com destaque para a localização de Liverpool.
Pela sua localização, recebia marinheiros principalmente de Gales, da Irlanda e da Escandinávia. A mistura dessas pessoas que chegavam à cidade gerou um sotaque único.

Além disso, o porto foi local de surgimento de um prato típico. Imagem é uma representação do porto de Liverpool no século XVIII.
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Apr 22
Em 1998, o clube argentino San Lorenzo atravessava uma crise.

Para contorná-la, contratou o técnico Alfio "Coco" Basile, que estrearia em partida contra o Platense.

Pra começar a mudar as coisas, ele expulsaria uma pessoa do vestiário: Jorge Bergoglio, o futuro papa Francisco. O então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, com uma flâmula do San Lorenzo em meio a crianças na missa
A história, relembrada por Basile em mais de uma entrevista nesses 12 anos em que Francisco foi papa, dá conta de que ele chegou ao vestiário pra sua partida de estreia acompanhado de Fernando Miele, presidente do San Lorenzo.

Aí, levou um susto: havia um padre por lá. O treinador Coco Basile com o agasalho do San Lorenzo apontando pra alguém fora de quadro
Basile diz ter perguntado pra Miele quem era essa figura, e o presidente respondeu: "é um torcedor do San Lorenzo que está sempre aí, benzendo os jogadores".

Ao que o técnico disse: "você me contratou porque vocês não ganham de ninguém. Seja lá o que ele faz, não funciona". Coco Basile gesticula com o dedo indicador pra alguém em campo durante treino do San Lorenzo
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Apr 1
Um ex-jogador venezuelano que migrou para os EUA por se opor a Maduro foi detido e enviado a uma prisão em El Salvador por agentes do governo Trump, suspeito de pertencer a uma gangue.

A prova de que Jerce Reyes Barrios seria criminoso é uma tatuagem em homenagem ao Real Madrid. Detalhe no braço de Jerce Reyes Barrios, venezuelano detido nos EUA e deportado como criminoso
O caso é mais um das milhares de deportações arbitrárias sendo levadas a cabo durante o novo governo de Donald Trump.

Barrios foi goleiro profissional na Venezuela e atuou nas duas principais divisões do país, além de ter trabalhado como professor numa escolinha de futebol. O ex-goleiro Jerce Reyes Barrios tirando uma selfie com seu celular
Segundo o El País, ele participou de duas manifestações contra o governo Maduro em 2024, tendo sido preso e torturado. Pouco depois, fugiu para o México, com o objetivo de pedir asilo político nos EUA.

Sua advogada diz que ele cruzou a fronteira legalmente no governo Biden. Protesto contra Maduro em Caracas, com várias bandeiras e faixas
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Mar 27
"Não podem escalar um trio chileno", explodiu Paolo Guerrero após a derrota do Peru para a Venezuela por 1 a 0, num jogo marcado por polêmicas de arbitragem.

O Chile ter ido parar no meio da discussão só acrescentou mais pimenta ao jogo mais político da rodada da Conmebol.
A entrevista indignada de Guerrero após o jogo ocorreu especialmente por dois lances: um pênalti polêmico que decidiu a partida, não revisado no VAR, e a anulação de um gol peruano na sequência.

A partida tinha arbitragem chilena, comandada pelo juiz Cristian Garay. Garay volta do VAR anulando gol peruano contra Venezuela. Soteldo comemora
"Somos idiotas", desabafou Guerrero sobre permitir que um árbitro chileno atuasse na partida. "Tinham que colocar argentinos ou uruguaios, tão de sacanagem."

Chile e Peru são rivais históricos, com a Guerra do Pacífico no século XIX tendo sido o ápice dessa má relação. Ilustração de guerra marítima entre um barco peruano e um barco chileno na Guerra do Pacífico
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