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Sep 15, 2021 43 tweets 19 min read Read on X
Será que as vacinas, além de proteger contra as formas mais sérias da COVID-19, também protege/gera um impacto na transmissão? SIM💉!

Revisão publicada por @dariusdariusdar @VirusesImmunity na @TheLancetInfDis e que vou comentar um pouco abaixo! 👇🧶
As 💉 contra a COVID-19 podem reduzir a transmissão do SARS-CoV-2 (vírus) atuando em 4 principais pontos:
1⃣Infecção
2⃣Replicação viral
3⃣Limiar para a transmissão 🧍-🧍
4⃣Grau de intensidade dos sintomas

O que define esses pontos?
1⃣Quando o vírus entra nas células-alvo no local de exposição
2⃣Quando o SARS-CoV-2 prolifera dentro das células infectadas
3⃣Se o vírus se replicar em níveis altos o suficiente em seu hospedeiro, passamos um "limiar" em que poderá ocorrer a transmissão de 🧍para 🧍
Ainda, as vacinas podem reduzir ainda mais o grau de transmissibilidade, 4⃣diminuindo a sintomaticidade (por exemplo, tosse e espirros).

Existe uma relação entre a carga viral e um risco para sintomas mais sérios - e vacinas protegem nisso
Pensando na perspectiva imunológica, as vacinas podem, teoricamente, suprimir SARS-CoV-2 em todos esses estágios para prevenir a transmissão, que é exemplificado por aquela primeira figura que postei acima
Quando somos expostos a aerossois ou gotículas com a presença do vírus, as células do nosso trato respiratório superior (👃, nasofarínge...) são expostas a esse agente infeccioso. O vírus é capaz de driblar as defesas que esse tecido naturalmente tem, infectando-as
As primeiras células de defesa a responder são as céls. do sistema imunológico inato, isto é, células que vão responder a quaisquer agentes estranhos ao corpo, inespecificamente. Se essa resposta for insuficiente, uma defesa específica começa a ser recrutada
E para esse recrutamento, temos as células dendríticas, que apresentarão pequenos pedaços do vírus para tipos específicos de células do sistema imunológico.
Essas células amadurecerão e passarão a se tornar linfócitos especialistas em reconhecer e mediar uma resposta imunológica específica e robusta contra o agente infeccioso em questão
Essa detecção de padrões moleculares associados a patógenos virais, migrando para os linfonodos de drenagem e ativando a diferenciação de células T e B "naive", ou ainda não "amadurecidas".
Uma vez diferenciadas, as células T específicas para SARS-CoV-2 organizam uma resposta imune adaptativa, eliminando as células infectadas e ajudando as células B a gerar respostas IgG e IgA (importante para a defesa das mucosas/tecidos) específicas para vírus
Durante a infecção, a memória imunológica é gerada através da produção de céls. T auxiliares foliculares específicas do vírus, céls. B de memória e céls. T de memória circulantes,que demonstraram persistir por pelo menos 8 meses após o início dos sintomas em indivíduos infectados
Essas populações de céls. de memória de longo prazo são necessárias para montar uma resposta rápida à reinfecção, principalmente servindo como uma fonte de linfócitos específicos do vírus, capazes de resposta imediata e dando origem a uma resposta de anticorpos de maior afinidade
Ainda, céls. plasmáticas geram anticorpos IgA, e essa geração desses anticorpos neutralizantes robustos na mucosa é um mecanismo efetor potente capaz de fornecer imunidade esterilizante contra a reinfecção
Um dado interessante aqui: Mesmo se os anticorpos (AC) neutralizantes sozinhos forem insuficientes, a reinfecção com SARS-CoV-2 pode ser limitada por anticorpos não neutralizantes e células T!

Acho que é um mantra que precisa ser repetido: a resposta não é só AC neutralizantes!
Os anticorpos não neutralizantes ativam vias imunológicas que levam a destruição de células infectadas, e células T de memória local e sistêmica proliferam, reconhecem essas porções do vírus (antígenos) e secretam moléculas, como IFNγ, para induzir respostas antivirais
Assim, as infecções subsequentes são eliminadas rapidamente, geralmente com sintomas mínimos ou até mesmo assintomáticas :)

Agora, pensando nas vacinas💉como elas modificam essas vias?
A vacinação é uma estratégia eficaz para induzir anticorpos neutralizantes que podem limitar a infecção, a replicação e, potencialmente, a transmissão. Dependendo da vacina, anticorpos podem ser transportados para a superfície da mucosa, impedindo mecanicamente a entrada do vírus
Se a infecção das células hospedeiras for evitada, a imunidade esterilizante será alcançada. Ainda estamos investigando afundo o quanto as vacinas tem o potencial de induzir tal imunidade, mas alguns dados mostram que AC foram detectados em saliva, por ex.
medrxiv.org/content/10.110…
Mas, se as concentrações de AC neutralizantes forem insuficientes para induzir imunidade esterilizante, o vírus pode infectar células epiteliais da mucosa e gerar muitas cópias de si (replicar) no hospedeiro.
A imunidade induzida por vacinas, incluindo anticorpos neutralizantes, anticorpos não neutralizantes e células T de memória, limita a replicação do vírus, reduzindoa gravidade da doença, bem como a produção de vírus transmissíveis
Na seção VACINAS, tenho alguns fios de diferentes imunizantes mostrando essa capacidade ➡️ bit.ly/fiosmell

Se a imunidade não bloquear a infecção e a replicação, a carga viral aumentará e o vírus poderá se espalhar para outros indivíduos.
As respostas imunes que podem reduzir potencialmente a disseminação do vírus 🧍-🧍 incluem:
🔹 aquelas que reduzem o nº de partículas virais capazes de infectar emitidas pela pessoa infectada imunizada e
🔹 a capacidade de infecção das partículas virais emitidas
Sabemos que a tosse (trato respiratório inferior), espirros (trato respiratório superior) e a liberação de gotículas pela parte oral tem um papel relevantíssimo na transmissão. Se a imunidade da 💉 reduzir carga viral nesses locais, o nº vírus será ⬇️e a transmissão também será⬇️
Muitas evidências foram levantadas de que as vacinas reduzem a carga viral nas vias respiratórias superiores e inferiores de estudos com modelos animais. Ainda, pessoas vacinadas podem produzir vírus menos "infecciosos" doi.org/10.1101/2021.0…

[FIO CONTINUA]
Sem dúvidas as 💉surpreenderam em mostrar grande eficácia na prevenção da infecção sintomática e do COVID-19 grave a letal. Mas a capacidade de vacinados em transmitir requer um entendimento maior. Mas indivíduos sintomáticos e assintomáticos podem fornecer uma pistas
Em comparação com indivíduos assintomáticos, os indivíduos sintomáticos parecem ter cargas virais mais altas por mais tempo e, portanto, são infecciosos (podem transmitir a o ag. infeccioso) por mais tempo ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/P…
Sabendo que a 💉diminui o risco de infecção sintomática, a fração de tempo em que o indivíduo vacinado fica transmitindo, mesmo que um pico de carga viral semelhante seja alcançado, pode ser diminuída também doi.org/10.1101/2021.0…
Portanto, tendo em vista que a 💉 pode atuar em 1⃣reduzir a infecção inicial
2⃣reduzir a replicação viral em indivíduos infectados; 3⃣reduzir as partículas virais emitidas por indivíduos infectados e, naquelas emitidas, uma infecciosidade potencialmente diminuída
4⃣reduzir os sintomas, impactando ainda mais a eliminação do vírus de qualquer indivíduo infectado

A soma dos efeitos dessas quatro etapas pode contribuir substancialmente para a redução da transmissão viral em nível populacional.
E dados de mundo real nos mostram isso! Algumas evidências epidemiológicas estão emergindo de que a infecciosidade de indivíduos vacinados com teste positivo é reduzida, com as 💉Pfizer e AstraZeneca fornecendo prevenção moderada da transmissão após o recebimento das doses
Alguns desses dados podem ser conferidos aqui [1] e aqui [2]

1- nejm.org/doi/full/10.10…
2- doi.org/10.1101/2021.0…

e tem fio aqui também:
E se tratando de variantes, estamos vendo que as vacinas seguem protegendo contra a doença grave, e potencialmente também impactando na transmissão. Mas considerando a #Delta, que é muito mais transmissível, a combinação com as máscaras reforça ainda mais a proteção
Como abordagens futuras, a investigação de vacinas voltadas para as mucosas (porta de entrada do vírus), aumentando a proteção nesses locais, pode ser importante para um controle da transmissão.
Temos outras vacinas intranasais também sendo desenvolvidas: Altimmune AdCOVID (altimmune.com/adcovid), versão intranasal da vacina ChAdOx1 (AstraZeneca - pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32931734/) COVI-VAC (clinicaltrials.gov/show/NCT046196…) entre outras! Pra ficar de olho 😉
Os autores concluem essa revisão de vários dados e conhecimentos ao longo do tempo que as 💉são agentes cruciais para suprimir a transmissão, e a medida que o nº de pessoas vacinadas aumenta globalmente, vemos isso nos dados de mundo real
Temos dados mostrando eficácia significativa na prevenção da transmissão de algumas vacinas, como as vacinas Pfizer, Moderna, AZ e Janssen, e mais estudos devem ser conduzidos para entendermos o impacto de outras vacinas nisso também! E estão sendo feitos!
Embora nenhuma variante de preocupação tenha escapado completamente da imunidade derivada da vacina, precisamos estar atentos para a manutenção da transmissão elevada. Precisamos reduzir a transmissão para evitar o surgimento de uma variante potencialmente mais preocupante
Fios maravilhosos foram feitos contando todos esses achados, a citar

@dariusdariusdar
@waggybiomed publicou antes aqui na rede e deixei separadinho pra compartilhar, pois está maravilhoso:
Vacinem-se, sigam usando máscara sempre que necessário e sobretudo, cuidem-se! Vamos vencer :)

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Jul 16
É uma questão de tempo até um surto maior ocorrer.

O @CDCgov confirmou, essa semana, 4 casos humanos de gripe aviária (H5N1) no Colorado🇺🇸, com a possibilidade de um 5º caso que ainda será confirmado, após exposição a aves infectadas em granja 🔻
Segundo o @CDCgov "todos os trabalhadores que testaram positivo relataram doença leve. Os trabalhadores relataram conjuntivite e lacrimejamento, além de sintomas mais típicos da gripe, como febre, calafrios, tosse e dor de garganta/coriza"

Porém, H5N1 é um vírus perigoso...
Primeiro, a partir dos dados que temos dos últimos anos, sua letalidade é alta.

Segundo, o H5N1 é capaz de infectar o encéfalo🧠 e parece fazer isso com mais frequência que outros influenza

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Jul 11
Gripe aviária: novos dados apontam que o vírus H5N1 responsável pelo surto em bovinos nos EUA apresenta adaptações capazes de facilitar a infecção e transmissão em mamíferos.

Já passou da hora de reconhecermos o crescente risco pra saúde pública dessa doença - fio🔻Image
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Jul 6
Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados

O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻Image
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde

ecdc.europa.eu/en/dengue-mont…
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)
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Jun 25
Vacinas trazem risco pra Alzheimer?

Alegações tem sido feitas por conta de um artigo recente, mas além de o artigo não comprovar a existência do risco, ele também tem tantos fatores de confusão que me surpreende ter sido publicado

Então respira, e vem de fio 🔻 Image
O artigo utilizou dados de mais de 558 mil indivíduos de Seul 🇰🇷, divididos em dois grupos: vacinados e não vacinados

A ideia era analisar se há associação com o comprometimento cognitivo leve, que pode ser visto anterior ao desenvolvimento de demências, como Alzheimer
Os pesquisadores então analisaram os registros entre 2020 e 2021. Importante notar: as campanhas de vacinação em Seul começaram em 2021.

Isso faz com que o número de pessoas com 2 doses seja pequeno, comparado ao tamanho inicial da amostra


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Jun 18
Li e tenho algumas questões importantes:
- Mesmo pessoas fora de grupos prioritários e até mesmo que tiveram Covid-19 leve, podem desenvolver sequelas pós-Covid;
- Sequelas pós-Covid podem ser duradouras, reduzirem a qualidade de vida e trazer riscos à saúde;

Tem mais🔻
Nessa parte de um fio recente, trago alguns dados recentes quanto as informações sobre sequelas pós-Covid. Não só há um risco de morte permanecendo elevado, como há uma perda significativa da saúde como um todo.
Portanto, me preocupa não termos ainda uma construção de políticas públicas para a Covid longa. Sabendo dos seus riscos, da prevalência estimada em outros países, poderíamos já estar ao menos com políticas instituídas para reduzir riscos de contaminação com vírus respiratórios
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Jun 6
Se tu passar por manchetes sugerindo que a vacinação contra Covid-19 ajudou a aumentar o excesso de óbitos, saiba que não é o que o estudo original sugere: o excesso de mortes “permanece elevado” APESAR do uso de vacinas (e outras medidas). Sem essas medidas, seria ainda maior🔻
O artigo original está no link abaixo e conclui: "o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a COVID-19."

bmjpublichealth.bmj.com/content/2/1/e0…
O artigo tem limitações importantes e deixa de lado a quantidade de mortes que foram evitadas graças a vacinação. Ainda, a circulação persistentemente alta do vírus, pelo enfraquecimento das medidas mitigatórias, pode estar por trás desse excesso.
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