Sabe-se que psitacídeos apresentam variações geográficas nas vocalizações, e que espécies como Eupsittula cactorum têm sido alvo do tráfico de animais. Os indivíduos apreendidos vem sendo soltos na natureza sem que as diferenças vocais sejam consideradas.
Este trabalho busca descrever a variação geográfica das vocalizações de Eupsittula cactorum, avaliando os locais mais apropriados para soltura, bem como a forma com que as vocalizações se modificam ao longo da manutenção dos indivíduos no CETAS.
Gravamos quatro populações do oeste do RN e nordeste do CE, além de três grupos recuperados do tráfico no momento que chegavam ao CETAS (CE) e após a quarentena. Medimos sete parâmetros do canto de voo de E. cactorum, e utilizamos os dados em uma regressão multinomial.
Diante de dialetos vocais, esperávamos que o modelo classificasse corretamente as populações naturais. Confeccionamos um PCA com os dados pré e pós quarentena, e verificamos por meio da distância euclidiana se houve convergência vocal no período.
O modelo multinomial indicou a existência de grupos vocais ou dialetos, e que temos solto indivíduos em locais acusticamente inapropriados. Por outro lado, o grupo experimental reduziu a distância vocal ao longo da quarentena, o que caracteriza um processo de convergência vocal.
O periquito-do-sertão exibe uma comunicação flexível. Se por um lado existem dialetos vocais que devem ser considerados durante a soltura, a convergência vocal faz com que os impactos de uma soltura inadequada sejam minimizados.
A utilização de vocalizações para determinar os lugares mais apropriados para a soltura parece interessante, e o treinamento prévio dos indivíduos com o dialeto da região de soltura pode reduzir as diferenças culturais, e minimizar os problemas da reintrodução desses indivíduos.