Não falamos muito sobre a confusão entre ultras húngaros e a polícia na Inglaterra pra não sobrecarregar, já que é um tema sobre o qual tanto já nos debruçamos aqui durante a Euro.
Mas vale ressaltar algumas coisas sobre os acontecimentos de terça nas Eliminatórias da UEFA.
Primeiro, a confusão de terça foi causada por uma associação entre ultras húngaros e poloneses, como mostram vários registros da briga.
Polônia e Hungria hoje são governados pela extrema-direita, e há relações entre esses governos e grupos de ultras, principalmente na Hungria.
Há uma grande comunidade polonesa no Reino Unido, a ponto de uma pesquisa estatal ter cravado o polonês como 2ª língua mais falada do país em 2011.
A Inglaterra, por sua vez, é vista como “globalista” por aderir a pautas como o antirracismo, com jogadores ajoelhados em protesto
“Globalismo” é uma teoria da conspiração de origem antissemita que diz que estão querendo impor um governo mundial, apagando as características próprias de cada país.
O bilionário húngaro George Soros, os ativistas LGBTQIA+ e a União Europeia seriam todos parte do complô.
(Parêntese pra dizer que, nesse caso, pouco importa o fato de o Reino Unido ter saído da União Europeia, alvo constante dos ataques dos governos húngaro e polonês, assim como não importa o fato de o primeiro-ministro Boris Johnson estar longe de ser um líder “globalista”, mas ok)
Em todos os últimos jogos da seleção húngara, houve denúncias de racismo e homofobia. Quando a UEFA tomou uma atitude e puniu o país após a Euro, membros do governo, como Peter Szijjarto, ministro das Relações Exteriores, foram às redes sociais chamar de “vergonhosas” as medidas.
A Brigada Cárpata, grupo de ultras criado para reduzir a violência nos estádios húngaros e afastar neonazistas, virou o exato contrário disso. Se na queda do comunismo, a violência já era presente e a média de público do campeonato húngaro estava em 9000, hoje está abaixo de 3000
Primeiro-ministro da Hungria desde 2010, Viktor Orbán distribuiu cargos e favores aos seus aliados. Hoje, cerca de 90% dos veículos de imprensa do país estão alinhados com o governante.
Por isso, os enfrentamentos de terça foram ou escondidos, ou então completamente distorcidos
“Torcedores húngaros são agredidos pela polícia inglesa”, disse, por exemplo, o Origo, mais popular site de notícias do país.
Já o Nemzeti Sport Online, maior site de notícias esportivas, simplesmente decidiu não cobrir a briga ocorrida em Wembley.
E os ingleses? Bem, curioso, como apontou o repórter Tariq Panja do New York Times, que as autoridades de lá, sabendo do contexto do jogo, não se prepararam e ainda deixaram stewards (a maioria afro-caribenha e sul-asiática) apanhando até a polícia chegar.
A infiltração de ideais de extrema-direita na política e nos estádios do leste europeu foi o tema do nosso podcast mais recente, como você talvez já tenha visto: open.spotify.com/episode/4YcWCR…
A Suprema Corte da Louisiana aprovou que a St. George, um distrito de maioria branca e rica, se separe da capital do estado, Baton Rouge, e forme uma nova cidade.
Essa demonstração de que a segregação racial segue firme no sul dos EUA encontra eco no esporte universitário.
Baton Rouge é a casa da Louisiana State University, conhecida como LSU. Nos esportes, é representada pelos LSU Tigers, bastante vitoriosos.
Os Tigers de LSU têm quatro títulos nacionais no futebol americano, um no basquete masculino e um no basquete feminino.
Mas o nome "tigers" não vem simplesmente de um apreço por tigres.
As tropas confederadas locais na Guerra Civil estadunidense eram chamadas de "tigres da Louisiana". O mesmo acontecia, por exemplo, no Missouri - e há igualmente o Missouri Tigers.
Começou no fim de semana a Copa Chile, 2º torneio de futebol mais importante do país.
O que tornou especial a estreia dessa edição é que seu jogo inaugural foi disputado a 670 km da costa chilena, num arquipélago no qual a história do náufrago Robinson Crusoé foi inspirada.
O arquipélago Juan Fernández, hoje habitado por menos de mil pessoas, foi escolhido pela federação chilena há 7 meses pra abrir o torneio.
Tanta antecedência foi necessária pra preparação: só 3 companhias aéreas chegam até lá, com aviões com capacidade pra apenas 8 pessoas.
A ilha principal de Juan Fernández hoje se chama Robinson Crusoé, nome adotado em 1966, baseado no romance escrito pelo inglês Daniel Defoe.
Uma das inspirações de Defoe foi a história do marinheiro escocês Alexander Selkirk, que, no século XVIII, passou 4 anos isolado na ilha.
Pro jogo de hoje pelas semifinais da Champions League contra o Real Madrid em casa, o Bayern de Munique pediu à torcida que vá "toda de vermelho" pra criar um ambiente intimidador.
É uma atitude interessante, mas é também um jeito de ceder à pressão da própria torcida pela cor.
As cores originais do Bayern eram o azul e o branco, mas o clube adotou o vermelho nos seus primórdios, quando o visionário presidente Angelo Knorr salvou-o da extinção ao incorporá-lo a outro clube, o MSC, no início do século XX.
Um dos maiores e mais importantes clubes do mundo árabe, o Al Ahly, do Egito, está sofrendo pressão para que rompa seu contrato de patrocínio com a Coca-Cola.
A empresa, assim como Starbucks, McDonald's e outras marcas dos EUA, é vista como apoiadora das ações de Israel em Gaza.
O Al Ahly disputou nesta semana em Cairo a final do campeonato africano de vôlei masculino.
Os egípcios ganharam, mas o destaque ficou pro canto da torcida: "boicote à Coca-Cola, não esquecemos, com nossa alma e nosso sangue, vamos redimir os palestinos"
Por décadas, desde a Guerra dos Seis Dias de 1967 até 1991, países da Liga Árabe boicotaram a Coca. A empresa mantém fábrica de envases em Atarot, território palestino ocupado por Israel.
A pressão fez com que outra empresa dos EUA, a General Mills, encerrasse suas operações lá.
Há exatos 50 anos, o Sporting vivia uma das suas melhores temporadas.
Em 24 de abril de 1974, o clube foi disputar uma semifinal continental na Alemanha Oriental.
Mas o plantel levou um susto após o jogo: não poderia voltar porque havia uma revolução em curso em Portugal.
Um golpe militar em 1926 havia transformado o país numa ditadura de influência fascista, um regime que, em sua maior parte, foi chefiado por António de Oliveira Salazar.
Era o Estado Novo português, que ocupava quase todos os âmbitos da vida no país - incluindo o futebol.
Esse regime, marcado por perseguição e tortura à oposição e um forte caráter nacionalista, havia começado a perder força.
Guerras por independência nas colônias africanas, como Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, crise econômica e grande emigração agravavam a situação portuguesa.