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Oct 14, 2021 13 tweets 5 min read Read on X
Não falamos muito sobre a confusão entre ultras húngaros e a polícia na Inglaterra pra não sobrecarregar, já que é um tema sobre o qual tanto já nos debruçamos aqui durante a Euro.

Mas vale ressaltar algumas coisas sobre os acontecimentos de terça nas Eliminatórias da UEFA. Imagem mostra aglomeração e confusão entre torcedores hú
Primeiro, a confusão de terça foi causada por uma associação entre ultras húngaros e poloneses, como mostram vários registros da briga.

Polônia e Hungria hoje são governados pela extrema-direita, e há relações entre esses governos e grupos de ultras, principalmente na Hungria. Detalhe da briga entre a polícia e os torcedores húngaros.
Há uma grande comunidade polonesa no Reino Unido, a ponto de uma pesquisa estatal ter cravado o polonês como 2ª língua mais falada do país em 2011.

A Inglaterra, por sua vez, é vista como “globalista” por aderir a pautas como o antirracismo, com jogadores ajoelhados em protesto Imagem de antes da partida mostra os jogadores ingleses ajoe
“Globalismo” é uma teoria da conspiração de origem antissemita que diz que estão querendo impor um governo mundial, apagando as características próprias de cada país.

O bilionário húngaro George Soros, os ativistas LGBTQIA+ e a União Europeia seriam todos parte do complô. Capa do livro "Donald Trump vs. The Globalists" mo
(Parêntese pra dizer que, nesse caso, pouco importa o fato de o Reino Unido ter saído da União Europeia, alvo constante dos ataques dos governos húngaro e polonês, assim como não importa o fato de o primeiro-ministro Boris Johnson estar longe de ser um líder “globalista”, mas ok) O então candidato conservador Boris Johnson discursa diante
Em todos os últimos jogos da seleção húngara, houve denúncias de racismo e homofobia. Quando a UEFA tomou uma atitude e puniu o país após a Euro, membros do governo, como Peter Szijjarto, ministro das Relações Exteriores, foram às redes sociais chamar de “vergonhosas” as medidas. O ministro das relações exteriores húngaro, Peter Szijjar
A Brigada Cárpata, grupo de ultras criado para reduzir a violência nos estádios húngaros e afastar neonazistas, virou o exato contrário disso. Se na queda do comunismo, a violência já era presente e a média de público do campeonato húngaro estava em 9000, hoje está abaixo de 3000 Imagem lateral da Brigada Cárpata no estádio Arena Puskas,
Primeiro-ministro da Hungria desde 2010, Viktor Orbán distribuiu cargos e favores aos seus aliados. Hoje, cerca de 90% dos veículos de imprensa do país estão alinhados com o governante.

Por isso, os enfrentamentos de terça foram ou escondidos, ou então completamente distorcidos Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, discursa num pala
“Torcedores húngaros são agredidos pela polícia inglesa”, disse, por exemplo, o Origo, mais popular site de notícias do país.

Já o Nemzeti Sport Online, maior site de notícias esportivas, simplesmente decidiu não cobrir a briga ocorrida em Wembley. Policiais com coletes fluorescentes levantam cacetetes para
E os ingleses? Bem, curioso, como apontou o repórter Tariq Panja do New York Times, que as autoridades de lá, sabendo do contexto do jogo, não se prepararam e ainda deixaram stewards (a maioria afro-caribenha e sul-asiática) apanhando até a polícia chegar.
A infiltração de ideais de extrema-direita na política e nos estádios do leste europeu foi o tema do nosso podcast mais recente, como você talvez já tenha visto: open.spotify.com/episode/4YcWCR…
E claro, publicamos um texto focado na história da Hungria, em Orbán e na Brigada Cárpata em nossa última coluna no @ludopedio: ludopedio.org.br/arquibancada/a…
O Copa Além da Copa fala sobre esporte, política, cultura e sociedade.

Falamos muito sobre Hungria nos últimos meses, e queremos falar sobre ainda mais países.

Então, se você gosta do que vê por aqui, não esqueça que pode nos ajudar a produzir mais em apoia.se/copaalemdacopa

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May 31
6 de junho de 2015.

Após a vitória do seu Barcelona sobre a Juventus, o técnico Luis Enrique comemora no campo ao lado de sua filha, que agita uma bandeira do clube catalão. Eram os campeões da Europa.

10 anos depois, ele quer repetir a cena. Mas sua filha não está mais aqui. Luis Enrique e sua filha Xana em campo. A menina balança uma bandeira do Barcelona. Só estão os dois no gramado
Xana tinha apenas 9 anos quando faleceu, em 29 de agosto de 2019, devido a uma forma rara de câncer ósseo.

Ele e sua esposa, Elena Cullell, a mãe de Xana, montaram uma fundação com o nome dela após sua morte, para dar apoio a crianças com câncer e às suas famílias. Luis Enrique carrega a pequena Xana nos braços após conquistar o título da Champions League de 2015
A vida de Xana coincide um pouco com a carreira de técnico de Luis Enrique, que começou nas categorias de base do Barça, passou pela Roma, pelo Celta, até chegar ao profissional do gigante catalão.

Com ele, o Barça formou o ataque com Messi, Suárez e Neymar e ganhou a Champions. O ataque do Barcelona em 2015, com Suárez, Neymar e Messi abraçados
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May 8
Um feito histórico no Irã: pela 1ª vez, um clube azeri (azerbaijano) é campeão nacional.

O Tractor, para orgulho dessa que é a maior minoria étnica do país, conquistou o título local.

Nos últimos anos, ele tem sido válvula de escape de uma minoria perseguida pelo governo. Pôster oficial de comemoração do Tractor, campeão iraniano de 2024/2025
É comum que se pense no Irã como um lar só dos persas, mas o país é um caldeirão étnico. Existem curdos, árabes, baluchis e, sim, azeris.

Estima-se que esses últimos sejam em torno de 20% da população do país, ou algo entre 12 a 20 milhões de pessoas.

Mas a questão é delicada. Mapa do Irã ao lado de um gráfico que mostra as etnias no país, inclusive sua distribuição geográfica
A dinastia Pahlavi, que ascendeu ao poder há 100 anos, instaurou políticas de nacionalismo étnico, buscando "persificar" todo o Irã, perseguindo manifestações de identidade azeri.

Ela foi derrubada pela Revolução Islâmica de 1979 com ajuda dos azeris, mas eles se decepcionaram. Manifestação no Irã em 1979, em apoio ao aiatolá Khomeini, na época exilado em Paris
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Apr 28
"O time de mais sucesso na Inglaterra não é inglês. É scouse".

O Liverpool levantou o título da Premier League e a Nike aproveitou e reforçou uma identidade que clube e cidade adoram promover.

Mas afinal, o que é scouse, e por que há uma certa polêmica com o uso do termo? Imagem é a campanha da Nike mostrando Virgil van Dijk com a camisa do Liverpool, trazendo a logomarca da empresa e a frase "o time de mais sucesso na Inglaterra não é inglês, é scouse".
Liverpool é uma cidade portuária no oeste da Inglaterra. Distante da capital Londres, tem características que não combinam com a aristocracia que marca o país.

Desde o século XVIII, é também um caldeirão cultural. Imagem é um mapa da Grã-Bretanha e Irlanda com destaque para a localização de Liverpool.
Pela sua localização, recebia marinheiros principalmente de Gales, da Irlanda e da Escandinávia. A mistura dessas pessoas que chegavam à cidade gerou um sotaque único.

Além disso, o porto foi local de surgimento de um prato típico. Imagem é uma representação do porto de Liverpool no século XVIII.
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Apr 22
Em 1998, o clube argentino San Lorenzo atravessava uma crise.

Para contorná-la, contratou o técnico Alfio "Coco" Basile, que estrearia em partida contra o Platense.

Pra começar a mudar as coisas, ele expulsaria uma pessoa do vestiário: Jorge Bergoglio, o futuro papa Francisco. O então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, com uma flâmula do San Lorenzo em meio a crianças na missa
A história, relembrada por Basile em mais de uma entrevista nesses 12 anos em que Francisco foi papa, dá conta de que ele chegou ao vestiário pra sua partida de estreia acompanhado de Fernando Miele, presidente do San Lorenzo.

Aí, levou um susto: havia um padre por lá. O treinador Coco Basile com o agasalho do San Lorenzo apontando pra alguém fora de quadro
Basile diz ter perguntado pra Miele quem era essa figura, e o presidente respondeu: "é um torcedor do San Lorenzo que está sempre aí, benzendo os jogadores".

Ao que o técnico disse: "você me contratou porque vocês não ganham de ninguém. Seja lá o que ele faz, não funciona". Coco Basile gesticula com o dedo indicador pra alguém em campo durante treino do San Lorenzo
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Apr 1
Um ex-jogador venezuelano que migrou para os EUA por se opor a Maduro foi detido e enviado a uma prisão em El Salvador por agentes do governo Trump, suspeito de pertencer a uma gangue.

A prova de que Jerce Reyes Barrios seria criminoso é uma tatuagem em homenagem ao Real Madrid. Detalhe no braço de Jerce Reyes Barrios, venezuelano detido nos EUA e deportado como criminoso
O caso é mais um das milhares de deportações arbitrárias sendo levadas a cabo durante o novo governo de Donald Trump.

Barrios foi goleiro profissional na Venezuela e atuou nas duas principais divisões do país, além de ter trabalhado como professor numa escolinha de futebol. O ex-goleiro Jerce Reyes Barrios tirando uma selfie com seu celular
Segundo o El País, ele participou de duas manifestações contra o governo Maduro em 2024, tendo sido preso e torturado. Pouco depois, fugiu para o México, com o objetivo de pedir asilo político nos EUA.

Sua advogada diz que ele cruzou a fronteira legalmente no governo Biden. Protesto contra Maduro em Caracas, com várias bandeiras e faixas
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Mar 27
"Não podem escalar um trio chileno", explodiu Paolo Guerrero após a derrota do Peru para a Venezuela por 1 a 0, num jogo marcado por polêmicas de arbitragem.

O Chile ter ido parar no meio da discussão só acrescentou mais pimenta ao jogo mais político da rodada da Conmebol.
A entrevista indignada de Guerrero após o jogo ocorreu especialmente por dois lances: um pênalti polêmico que decidiu a partida, não revisado no VAR, e a anulação de um gol peruano na sequência.

A partida tinha arbitragem chilena, comandada pelo juiz Cristian Garay. Garay volta do VAR anulando gol peruano contra Venezuela. Soteldo comemora
"Somos idiotas", desabafou Guerrero sobre permitir que um árbitro chileno atuasse na partida. "Tinham que colocar argentinos ou uruguaios, tão de sacanagem."

Chile e Peru são rivais históricos, com a Guerra do Pacífico no século XIX tendo sido o ápice dessa má relação. Ilustração de guerra marítima entre um barco peruano e um barco chileno na Guerra do Pacífico
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