A política europeia diz uma coisa, o futebol europeu diz outra:
Começou neste mês a Expo 2020 em Dubai. Trata-se de uma exposição mundial que reúne obras arquitetônicas e inovações tecnológicas de 192 países.
Para alguns políticos, propaganda de uma ditadura. Pro futebol, não.
Há dias, o Parlamento Europeu votou uma resolução contra o evento, devido aos problemas de direitos humanos nos Emirados Árabes Unidos. Pediu às empresas patrocinadoras que deixassem de colaborar com a Expo, citando abusos contra trabalhadores imigrantes que montaram a exposição.
Se isso te lembrou as denúncias sobre as obras pra Copa do Mundo no Catar, faz sentido.
Milhares de trabalhadores de países da África e da Ásia trabalharam para levantar a exposição, e há relatos de condições insalubres, até durante a pandemia, quando o país estava em lockdown.
A organização disse que houve 6 mortes ligadas às obras, depois voltou atrás e disse que foram 3. Mas é difícil mensurar isso em governos pouco transparentes: nas obras do Catar, por exemplo, há relatos de mortes de infarto que especula-se estarem ligadas ao estresse do trabalho.
Como o futebol é um meio para que governos como o dos EAU se comuniquem com o mundo, há anúncios como esse, no estádio do Arsenal, levantado pelo @vinni_pereira ontem (o post dele inspirou essa thread, aliás, então nós o agradecemos)
Outro parceiro oficial é o Manchester City, que foi mais além: faz propaganda da Expo 2020 em seu uniforme de treino.
O clube pertence a Abu Dhabi, que, assim como Dubai, é um dos emirados que compõem o país.
Mas a lista está longe de se encerrar aí. O Milan, por exemplo, também é parceiro da Expo 2020, já que é mais um dos muitos clubes que estampa a Emirates em sua camisa:
E a contagem regressiva para o evento, iniciada em julho, contou com a participação de Lionel Messi, que visitou e filmou na Al Wasl Plaza, a suntuosa sede da exposição construída pelos operários imigrantes:
Como curiosidade, a Expo 2020 é também o lugar onde o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, visitou e fez uma foto luxuosa vestido de xeique com sua família, sendo criticado pela ostentação.
Depois, disse que postava fotos assim para “irritar a esquerda”.
É importante ressaltar que não estamos acusando ninguém por participar ou ser parceiro do evento. São negócios.
Mas veja como o futebol, esporte mais popular do mundo, é usado como um veículo por governos como os de EAU e Catar para que você tenha uma boa imagem deles.
Se perguntarem a você quais são as piores ditaduras do mundo, é possível que você se lembre de vários países antes de mencionar os Emirados Árabes Unidos.
Mas, segundo índice de democracia da The Economist, é um país menos livre que vários alvos de críticas na política nacional.
O próximo episódio do nosso podcast, aliás, irá na onda da compra do Newcastle United para falar sobre as relações entre ditaduras do Oriente Médio e o futebol europeu.
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Seu time tem um patrocinador que paga muito. Mas é um Estado que está cometendo um verdadeiro massacre em outro continente. É possível abrir mão dele?
Arsenal, Bayern e PSG atualmente recebem dinheiro de Ruanda, país que financia o caos na República Democrática do Congo.
Segundo a ONU, é a Ruanda do presidente Paul Kagame que está por trás do grupo rebelde armado M23.
Há anos, o grupo causa instabilidade na região leste do Congo, mas as coisas escalaram nesse início de 2025, com o M23 tomando Goma, uma cidade com mais de 1 milhão de habitantes.
Na semana passada, uma fuga de presos em Goma resultou em mais de 100 prisioneiras estupradas e queimadas vivas, segundo documento interno da ONU publicado pela BBC. O episódio ilustra a escala das atrocidades geradas pelo M23 na região.
Tudo que Gianni Infantino e a FIFA queriam pra 2026 era uma Copa do Mundo numa sede mais estável e menos problemática do que o Catar em 2022.
O retorno de Donald Trump complicou essa expectativa.
O primeiro problema está na questão da dificuldade nos vistos pra visitar os EUA.
Obter um visto estadunidense nunca foi fácil e o tempo de espera para consegui-lo aumentou com Joe Biden, chegando a até 330 dias em algumas embaixadas e consulados.
É um problema, porque os ingressos pra Copa começarão a ser vendidos só nos meses finais de 2025.
Cidadãos de 42 países, entre os quais França, Japão e Austrália, podem visitar os EUA por 90 dias sem vistos. Mas brasileiros e colombianos, por exemplo, que estiveram no top 3 de países que mais compraram ingressos pra Copa da Rússia, precisam de visto.
Escândalo na NFL: uma série de e-mails vazados revelou que a diretoria do New Orleans Saints esteve em contato direto com a arquidiocese da cidade e auxiliou na defesa de diversas acusações de abuso sexual contra menores.
New Orleans sedia no domingo o Super Bowl.
Os e-mails indicam que, sabendo que nomes de vários clérigos envolvidos em abuso sexual infantil seriam divulgados pela imprensa, a arquidiocese de New Orleans pediu ajuda à diretoria dos Saints.
Os membros da diretoria treinaram líderes da igreja em como lidar com a imprensa.
Membros da diretoria também tiveram acesso à lista de nomes antes dela chegar à imprensa, da qual removeram alguns clérigos "importantes".
O presidente do time, Dennis Lauscha, treinou um arcebispo com várias perguntas que ele deveria estar preparado para responder.
Um quarteto improvável apareceu junto em uma foto tirada em Roma, no último sábado.
Veronica Berti, esposa do cantor Andrea Bocelli, Kimbal Musk, irmão mais novo de Elon, Matteo Salvini, ministro dos transportes italiano, e Gianni Infantino.
A princípio, o que mais nos interessa na imagem é Kimbal Musk e Gianni Infantino.
Infantino esteve na posse de Donald Trump, onde disse que "juntos, faremos não só a América grande de novo, mas todo o mundo, porque o futebol une as pessoas".
Kimbal Musk se encontrou com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, mas não falou quais assuntos foram tratados.
Depois, ele e Matteo Salvini ganharam flâmulas personalizadas das mãos de Infantino.
4 de dezembro de 1935. White Hart Lane, o estádio do Tottenham, clube com muitos torcedores judeus, recebe um visitante indigesto: a Alemanha nazista.
O amistoso entre Inglaterra e Alemanha daquele dia teve muitas suásticas e muitos protestos.
A Alemanha já tinha proibido em 1935 casamento e relações sexuais entre judeus e "pessoas com sangue alemão", e as intenções de Adolf Hitler já começavam a ficar claras.
O conhecimento de que o esporte era uma ótima ferramenta política crescia rapidamente.
A FA, Federação Inglesa de Futebol, afinal, acreditava que o futebol nunca deveria se misturar com a política.
A situação política da Alemanha não interessava, apenas o que acontecesse dentro das quatro linhas.
Estados Unidos e Venezuela se enfrentam amanhã em um amistoso em Fort Lauderdale, na Florida.
Não estamos em uma data FIFA, o que torna o jogo ainda mais político.
O 2024 da seleção venezuela foi uma montanha russa.
A equipe chegou a ficar na zona de classificação direta para a Copa do Mundo de 2026 e fez brilhante campanha na Copa América, disputada também nos EUA. Caiu invicta, nas quartas de final.
Na Copa América, a seleção foi seguida por uma legião de torcedores. Há muitos venezuelanos que moram nos EUA, e a maioria é opositora de Nicolás Maduro.
Assim, seguir a seleção também era algo muito político às vésperas da eleição presidencial.