Você sabe como surgiu a #Caatinga? Sabia que ela é o único bioma endêmico do Brasil? Sabia que ela pode virar um deserto? Se liga nessa #BioThreadBR para conhecer um dos biomas com uma das histórias mais únicas do planeta!
A Caatinga (do Tupi ka’a [mata] + tinga [branca] = mata branca) é um "bioma" encontrado no nordeste do Brasil, presente nos estados da Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e ao norte do estado de Minas Gerais
Ph: Eraldo Peres
Estendendo-se por uma área de 1.037.000 km² segundo alguns autores, ocupa mais de 12% do território nacional e é lar de 12% da população brasileira e de 63% da população nordestina, o que, por si só, já demonstraria a importância do estudo desse bioma.
Além disso, apresenta altas taxas de endemismo (chegando a mais de 57% em alguns grupos estudados) e é a região menos amostrada do Brasil, na qual a maioria das espécies ainda não foram descritas!
Mapa da Caatinga – Por Sistema Nacional de Informações Florestais
Pouquíssimas pesquisas foram realizadas sobre a sua formação e as existentes apresentam dados extremamente conflitantes. Tentei reunir diversas fontes para fazer um texto sobre esse tema e fiquei completamente apaixonado pelo que encontrei
Parte da biodiversidade da Caatinga é um relicto da biodiversidade do Mesozoico, com diversos grupos vegetais estando na região desde antes da separação da Gondwana, supercontinente que incluía a América do Sul, Austrália, África e Antártida.
Algumas plantas da região vivem em topos de Inselbergs (formações rochosas do mesmo tipo do famoso Pão de Açúcar) e, provavelmente, sobreviveram no clima ameno das altitudes mais elevadas mesmo com o aquecimento das áreas baixas, com altitudes elevadas servindo como refúgios.
Podocarpus lambertii, por exemplo, é um pinheiro que pertence a uma linhagem que surgiu quando os continentes do sul ainda estavam conectados entre si. Encontrado em zonas frias do sudeste, sul e da Argentina, pode também ser encontrado em Inselbergs no interior do sertão baiano.
Em épocas úmidas do passado recente (milhares de anos), o domínio amazônico se expandiu para uma área muito maior que a atual, alcançando o nordeste brasileiro. Em sua retração, algumas plantas foram deixadas para trás em refúgios, como é o caso da Attalea speciosa.
O Manual Técnico da Vegetação Brasileira do IBGE, por exemplo, demonstra como diferentes regiões da Caatinga apresentam diversas plantas de outros domínios fitogeográficos, o que demonstra o fluxo de espécies para esse bioma
Os cactos são importantes agentes na paisagem da caatinga, cuja dispersão ocorreu vinda dos Andes, provavelmente há milhões de anos, provavelmente usando aves como dispersoras de suas sementes.
Fotos: Mandacaru (Cereus jamacaru), cacto típico da Caatinga – Site Toda Fruta
Provavelmente viveram por muito tempo associadas aos ambientes de afloramentos rochosos ou crescendo em cima de outras plantas. Quando o clima local se tornou semiárido, puderam se espalhar para áreas onde outras plantas não sobreviveriam.
Foto de BrasilEscola
A grande pergunta, entretanto, é: quando a Caatinga se tornou seca, adquirindo suas características atuais e gerando altas taxas de endemismo, tanto da flora quanto da fauna?
Embora alguns autores afirmem que a Caatinga, como conhecemos, surgiu nos últimos 10 mil anos, essa afirmação é extremamente improvável, tendo em vista a enorme quantidade de espécies que não podem ser encontradas em nenhum outro local do planeta, incluindo mamíferos e aves.
Mantendo a afirmação de autores como Malvezzi, de que a Caatinga é um bioma recente, pode-se teorizar que ela tenha surgido nos últimos 740 mil anos, durante um dos oito períodos de glaciação que ocorreram nessa época. No decorrer de épocas glaciais, grande parte da umidade +
do planeta é retida nos polos, o que gera um ressecamento dos continentes e ,consequentemente, a retração de florestas. Esses eventos poderiam explicar, tanto a expansão amazônica para a área, quanto o surgimento de um clima semiárido na região no período glacial.
Eventos mais recentes, como o surgimento do Saara há apenas 2 mil anos, ou mais antigos, como o congelamento da Antártida e o aparecimento da Corrente Equatorial Sul, há 30 milhões de anos, também poderiam explicar parte do processo, embora isso seja apenas especulação
A Caatinga é uma região socialmente e cientificamente negligenciada. Mesmo com altas taxas de endemismo e de espécies ameaçadas, esse bioma continua sendo um dos menos estudados do país, sobretudo devido à falta de financiamento e à desvalorização de sua importância.
O uso inadequado da água e do solo da região fazem com que 15% do seu território esteja ameaçado pela desertificação, enquanto apenas 53,62% ainda não foram desmatados. Menos de 1% da região está protegido em unidades de conservação.
É importante mencionar que visões simplistas como a de que o único fator que limita a umidade da Caatinga é o Planalto da Borborema também contribuem para a falta de interesse na região, que apontam apenas a geografia como responsável por moldar o ambiente
Com o tempo, compreendemos que a Caatinga é um bioma extremamente complexo, cujo surgimento está relacionado ao paleoclima, geografia, fatores bióticos e a ação de paleoíndios na região que, em conjunto, criaram um dos locais mais únicos do planeta
A região foi ocupada por paleoíndios há 22.000 mil anos segundo datações recentes, que alteraram o solo e a paisagem de algumas áreas, além de terem contribuído para a dispersão de diversos tipos de plantas e para a alteração das comunidades de animais
A megafauna extinta também contribuía para a dispersão de sementes e para a manutenção de corpos d'água. A Caatinga era, surpreendentemente, uma das regiões com a maior densidade de grandes animais no país há apenas 12 mil anos!
Arte por @HJ_arts02
Contendo a maior concentração de espécies extintas recentemente no Brasil, a Caatinga é um desafio para a conservação e para as gerações futuras, sendo afetada pela produção agropecuária e pelas mudanças climáticas.
Cichlocolaptes mazarbarnetti, ave da Caatinga extinta em 2018
Essa thread é uma adaptação de um texto e é um pequeno incentivo para que sejam realizadas mais pesquisas em uma das áreas mais ricas e ameaçadas do planeta, cujo desenvolvimento científico auxiliaria, tanto na sua preservação, quanto na valorização das comunidades locais.
Espero que tenham gostado!
Para ler de forma mais completa, recomento o texto completo, com as referências utilizadas tunesambiental.com/a-historia-da-…
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Ninguém sabe o porquê, mas grandes felinos amam o cheiro do Obsession For Men da Calvin Klein e os cientistas usam eles em armadilhas para conseguir capturar sobretudo tigres e guepardos
Alguns zoológicos borrifam eles em regiões específicas para manter os felinos distraídos como uma forma de enriquecimento ambiental.
Pesquisadores também borrifam o perfume em armadilhas fotográficas para atrair onças e leopardos-das-neves para perto das câmeras
Muitos animais apresentam interações homossexuais, seja através de displays sexuais, cópula, pareamento de casais, interações afetivas ou a criação de filhotes, geralmente chamado de "same-sex sexual behavior" (SSSB), ocorrendo em mais de 1.500 espécies.
Em alguns casos, é um padrão comum na espécie. A maioria dos indivíduos vão praticar comportamentos homossexuais em algum ponto. Em outros, é algo do indivíduo. 8% dos carneiros machos de algumas espécies, por exemplo, só copulam com outros machos, tendo até um componente 100% genético em algumas espécies.
Você sabia que nas profundezas do oceano existem tubarões pré-históricos gigantes, tóxicos, cegos, que vivem por mais de 500 anos, com uma gravidez que pode durar 18 anos e que comem até ursos-polares e alces?
Venha conhecer os maiores tubarões carnívoros do planeta nesse fio!
A família Somniosidae contém diversas espécies de tubarões que vivem em regiões profundas do oceano, caçando peixes, crustáceos e até lulas-gigantes. Nessa mini thread, vamos focar nas espécies do gênero Somniosus, que vivem entre 0-3000 metros de profundidade
Existem 6 espécies descritas, e pelo menos uma sétima espécie existente, sem uma descrição científica precisa. Em vez de falar de cada espécie separadamente, falarei do gênero como um todo e dos fatos que apresentei no primeiro tweet do fio
Resposta curta: Não existia ovelha assim antes do ser humano
Resposta longa: A maioria dos animais domésticos são extremamente diferentes dos seus ancestrais selvagens. Venha conhecer nesse fio um pouco da história desses animais produtores de lã!
Como já contei aqui anteriormente, a domesticação é um processo lento no qual selecionamos características específicas que nos beneficiam através da seleção artificial, com diferenças marcantes (genéticas e morfológicas) entre os indivíduos naturais e domesticados
No caso dos animais, a maioria deles foi domesticado com funções específicas mas, ao longo do tempo, raças específicas foram sendo criadas para desempenhar diferentes funções.
Falei sobre os diferentes papeis das raças de cães aqui
O Amarelo Indiano era um pigmento utilizado em tintas durante o século XIX. Feito exclusivamente na Índia, ele era supostamente produzido a partir da urina de vacas alimentadas exclusivamente com manga, que faziam uma urina extremamente concentrada devido a uma sobrecarga renal
Ao longo da história, vários pigmentos e tintas caíram em desuso. Alguns se tornaram muito caros e outros foram proibidos, seja por sua toxicidade ou por questões éticas. O pigmento mummy brown, por exemplo, era feito originalmente a partir de múmias moídas
Pigmentos de lapis lazuli foram usados em muitos momentos da história, sobretudo no Egito Antigo. 100 gramas do pigmento hoje pode custar até 13.000 reais