Mais uma sessão de nosso clássico ¨O Atacadão do Thread¨:
Hoje, aproveitando que o 10 de dezembro é o Dia Internacional dos Direitos Humanos (e também o dia da volta à democracia em 1983), vamos com a thread "Ditadura Militar argentina 1976-83"
Em 1976, iniciava na Argentina um período de 7 anos da ditadura militar mais sangrenta da História do século XX na América do Sul (uma ditadura q até ressuscitou o uso do empalamento para torturar e assassinar aqueles q consideravam seus opositores)
A ditadura argentina aplicou uma série de formas de eliminar pessoas que considerava “subversivas”, fosse elas vinculadas a grupos guerrilheiros, civis sem militância política alguma, estudandes secundaristas, universitários, empresários, aposentados, entre outros.
As principais formas eram:
- Jogar pessoas vivas, desde aviões, sobre o rio da Prata ou o Oceano Atlântico.
- Juntar prisioneiros, amarrados, e dinamitá-los.
- Fuzilamento.
- Morte por terríveis torturas
O destino dos corpos:
- Enterrados em cemitérios clandestinos. Ou, em cemitérios oficiais, embora em fossas coletivas como indigentes.
- Jogados no Rio da Prata ou no mar
Desaparecidos:
- Durante a Ditadura, militares e policiais argentinos assassinaram ao redor de 30 mil civis (segundo organismos de defesa dos Direitos Humanos argentinos e organizações internacionais), a imensa maioria dos quais sem militância na guerrilha....
(alás, paradoxalmente, o próprio exército havia anunciado oficialmente que a guerrilha havia sido destruída no ano anterior, 1975, antes do próprio golpe).
(alás, paradoxalmente, o próprio exército havia anunciado oficialmente que a guerrilha havia sido destruída no ano anterior, 1975, antes do próprio golpe).
- Em 1983 nos últimos meses da Ditadura, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda e cristãos nacionalistas teriam assassinado 900 pessoas.
Historiadores afirmaram ao longo dos anos que esse número está ligeiramente inflacionado, já que diversos dos mortos da lista militar teriam sido assassinados pelos próprios militares, na miríade de brigas internas (e, convenientemente, teriam colocado a culpa nos terroristas).
Bebês sequestrados:
- Durante a Ditadura 500 bebês foram sequestrados, filhos das desaparecidas (segundo dados das Avós da Praça de Mayo)
- 130 crianças desaparecidas foram recuperadas ou identificadas por suas famílias biológicas.
Modalidades de torturas:
As torturas aplicadas pela ditadura argentina acumulavam diversas modalidades que – ao longo de dois séculos de História – as forças armadas locais (e as forças policiais) haviam desenvolvido e aplicado....
...nessa cultura da tortura contribuíram know how dos tempos coloniais espanhois, acréscimos sádicos propiciados pelos indígenas, contribuições francesas dos anos 50 e americanas dos anos 70 (e também dos criminosos de guerra nazistas importados por Perón após o fim da 2a Guerra)
- Picana elétrica: criada nos anos 30 na Argentina por Leopoldo Lugones Hijo, filho do escritor nacionalista Leopoldo Lugones. A picana era o instrumento para assustar o gado com choques elétricos nos currais, e assim, direcioná-lo para o abate ou embarque.
Aplicado a seres humanos, tornou-se no instrumento preferido de tortura na Argentina.
- Submarino molhado: consistia em afundar a cabeça de uma pessoa em uma tina d’água. Ocasionalmente a tina também estava cheia de excrementos humanos.
- Submarino seco: consistia em colocar a cabeça de uma pessoa dentro de um saco de plástico e esperar que ela ficasse quase asfixiada.
- O rato no cólon: a colocação de um rato, faminto, no cólon de um homem. Nas mulheres, o rato era colocado na vagina.
Os homens das forças armadas também praticaram sistemáticos estupros em homens e mulheres para, segundo diziam, "combater o comunismo".
As mulheres, ocasionalmente recebiam a opção de serem estupradas ou de serem eletrocutadas na parte interna da vagina e ânus.
- Esfolamento: Os torturadores amarravam um prisioneiro em uma mesa e começavam a esfolar a pele da sola dos pés com uma gilette ou bisturi (esta, especificamente, era um know how praticado pelos indígenas contra inimigos no sul do país).
- Empalamento: Alguns homens foram empalados pelas forças de segurança com cabos de vassoura.
(a gravura abaixo é do século XVI...mas o que acabo de relatar ocorreu na Argentina no século XX)
Um dos casos mais sinistros de torturas foi o do adolescente Floreal Avellaneda, sequestrado no dia 15 de abril de 1976. Filho de um casal de sindicalistas militantes do Partido Comunista, Floreal, que tinha 14 anos quando foi sequestrado, sofreu torturas nas mãos e genitais.
Depois, foi empalado vivo.
No dia 22 de abril de 1976 a polícia uruguaia encontrou em uma praia perto de Montevidéu o cadáver de um jovem violentamente torturado com a marca de uma tatuagem com as letras “FA”.
Posteriormente, com a volta da democracia, a mãe de Floreal pode confirmar que tratava-se de seu filho. Ele havia sido arremessado de um dos aviões que realizavam os “vôos da morte” sobre o rio da Prata.
A seguir, uma breve galeria dos principais torturadores argentinos....
O “Tigre” Acosta - Um dos criadores dos “voos da morte” foi o capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, uma das “estrelas” da Escola de Mecânica da Armada (ESMA).
O oficial, que falava sozinho à noite, em delírio místico explicava aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com “Jesucito” (O pequeno Jesus),
.. ao qual perguntava qual dos prisioneiros deveria torturar no dia seguinte e jogar dos aviões.
Segundo ele, "Jesucito" lhe dava a lista.
Acosta também foi um dos principais sequestradores dos bebês de prisioneiras da ESMA.
O “Anjo Loiro” Astiz – “É o mais sinistro paradigma do terrorismo de Estado”. Com esta frase, o escritor e jornalista Jorge Camarasa, define a personalidade do ex-capitão Alfredo Astiz apelidado de “O anjo loiro da morte”.
Garoto mimado da ditadura, entre seus assassinatos mais famosos estão os das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet, além de três fundadoras das Mães da Praça de Mayo, entre elas, Azucena Villaflor.
Astiz foi recompensado por seus serviços com o cargo de comando nas ilhas Geórgias durante a Guerra das Malvinas, em 1982. No entanto, essas ilhas foram o primeiro ponto recuperado pelos britânicos durante o conflito.
Após um único tiro de bazuca disparado pelos britânicos, Astiz desistiu de resistir “até a morte”, como havia prometido. Com com um copo cheio de whisky em uma das mãos, assinou a rendição incondicional.
Donda Tigel - Alfredo Donda Tigel tornou-se famoso por sequestrar seu próprio irmão e a cunhada – militantes da esquerda. Depois de assassiná-los, ficou com suas filhas, que eram bebês.
Ernesto Weber – Oficial da Polícia Federal, era apelidado de “220” pelos colegas militares pelo prazer que sentia em aplicar essa voltagem nas torturas. Foi professor de torturas dos oficiais de Marinha.
Desastres econômicos:
- Em sete anos de Ditadura, a dívida externa subiu de US$ 8 bilhões para US$ 45 bilhões.
-A inflação do governo civil derrubado pela Ditadura, que era considerada um índice “absurdo alto” pelos militares havia sido de 182% anual. Mas este índice foi superado pela política econômica caótica da Ditadura, que encerrou sua administração com 343% anual
- A pobreza disparou de 5% da população argentina para 28%
A participação da indústria no PIB caiu de 37,5% para 25%, o que equivaleu a um retrocesso dos níveis dos anos 60.
Além disso, a Ditadura criou uma ciranda financeira, conhecida como “la plata dulce”, ou, “o doce dinheiro”.
Ao mesmo tempo em que tomavam medidas neoliberais, como a abertura irrestrita das importações, os militares continuavam mantendo imensas estruturas nas empresas estatais,
...que transformaram-se em cabides de emprego de generais, coronéis e seus parentes e amantes.
Os militares também estatizaram US$ 15 bilhões de dívidas das principais empresas privadas do país (além das dívidas das filiais argentinas de empresas estrangeiras).
No meio desse caos econômico, os militares provocaram um déficit fiscal de 15% do PIB.
A repressão provocou um êxodo de centenas de milhares de profissionais do país.
Os militares, em cargos burocráticos, exacerbaram a corrupção na máquina estatal.
Inteligência Militar:
Em setembro de 1980 as autoridades da ditadura de Videla proibiram o uso do livro “O pequeno príncipe”, do francês Antoine de Saint-Éxupery, nas escolas, por considerá-lo “subversivo”.
As autoridades militares também proibiram um livro de engenharia elétrica, o “Cuba electrolítica” (isto é, ‘célula eletrolítica’).
Os censores acreditaram que o ‘cuba’ referia-se à ilha caribenha, controlada pelo regime comunista de Fidel Castro.
O jeca (mega-jeca) regime militar proibiu o ensino da teoria matemática dos conjuntos, por considerar que era “subversiva”.
A palavra “vetor” também foi proibida nas escolas, já que os militares consideravam que era utilizada na terminologia marxista.
Na lista de autores suspeitos estavam García Márquez, Julio Cortázar, Sigmund Freud e até ....
.... e até Marcel Proust, autor do burguês “Em busca do tempo perdido” (obra que para o regime de Videla era um panfleto “marxista” e “pervertido”).
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Ateeeeenção!
Na edição de hoje do ”Atacadão do thread”, os 15 anos do dia em que o general Pinochet pegou o ferry-boat de Caronte para atravessar o Aqueronte:
Há exatamente 15 anos, no dia 10 de dezembro de 2006, o ex-ditador Augusto José Ramón Pinochet abotoava o paletó de madeira. Ou ia bater alcatra na terra ingrata. Ou, ainda, bateu com as canelas.
A então presidente Michelle Bachelet não fez um funeral de Estado, já que o defunto não havia sido presidente pelas vias legais, pois era um ditador.
E agora, ateeeeeenção!!!!
Nossa sessão “O Atacadão do Thread”, hoje em edição especial sobre as delirantes fakenews Made in Brazil sobre o resto da América Latina:
Marinha de alto-mar da Bolívia bombardeia Ulan-Bator.
Ou, uma breve antologia das mais delirantes e ilógicas fakenews emitidas por autoridades brasileiras sobre a Argentina e o resto da região.
Coluna no @labs_news: labsnews.com/pt-br/artigos/…
@labs_news Ex-ditadores argentinos em mode Walking Dead e outras fake news que no Brasil circularam (e circulam) sobre a Argentina e o resto da região.
Parte 2 das colunas no @labs_news sobre fake news na região: labsnews.com/pt-br/artigos/…
O Chile entrou hoje em sincronia com o século 21:
O Senado aprovou (até com votos de senadores da direita) o projeto de lei de casamento entre pessosas do mesmo sexo.
21 votos a favor, 8 contra, 3 abstenções.
E minutos depois, a Câmara de Deputados, que já havia debatido o assunto recentemente, não perdeu tempo e - em uma sessão sem discurseira nem blá-blás - aprovou a lei de casamento entre pessoas do mesmo sexo:
82 votos a favor
20 contra
2 abstenções
Desta forma, na América do Sul o Chile se junta à Argentina e Uruguai, países onde a lei foi aprovada pelos Parlamentos. Portanto, é algo sólido.
O líder da Nicarágua, Daniel Ortega não é, desde a virada do século, o revolucionário marxista de outrora.
Nos 80 fez uma reforma agrária, dando terras para camponeses e indígenas. Mas, ao voltar ao poder, em 2007, confiscou parte dessas terras para dá-las a empresários chineses que prometiam construir um mega-canal na Nicarágua para competir com o canal do Panamá
Ortega, na contra-mão do progressismo, implementou uma das leis mais draconianas contra o aborto na América Latina. ...ah, ele é categoricamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Um clássico dos reacionários.
-Militar, oficial para-quedista
-Nascido no interior do país
-Eleito com 56,2% dos votos, derrotando partidos tradicionais
-Se apresentava como salvador da pátria, anti-establishment
-Costumeiras afirmações-esperneios-histerias do tipo “querem violar nossa soberania!!!!”
- Obsessão contra a imprensa, criador de fake-news sobre jornalistas
O líder da Nicarágua, Daniel Ortega não é, desde a virada do século, o revolucionário marxista de outrora.
Nos 80 fez uma reforma agrária, dando terras para camponeses e indígenas. Mas, ao voltar ao poder, em 2007, confiscou parte dessas terras para dá-las a empresários chineses que prometiam construir um mega-canal na Nicarágua para competir com o canal do Panamá
Ortega, na contra-mão do progressismo, implementou uma das leis mais draconianas contra o aborto na América Latina. ...ah, ele é categoricamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo