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Dec 14, 2021 12 tweets 5 min read Read on X
Bom dia. Farei um breve resumo sobre as informações que temos sobre o perfil do bolsonarista a partir dos dados recentes. Trabalhei esses dados na live do DCM do domingo (tendo como convidado João Feres Jr) e live de segunda do Instituto Cultiva. Lá vai:
1) Existem dois tipos de bolsonaristas: o raiz e o arrependido. Mas, ambos têm, em média, ensino médio (incompleto e/ou completo) e renda média (classe média baixa)
2) A variável mais consistente (que se relaciona com maior frequência com o voto em Bolsonaro) é a religião, além da instrução. Bolsonarista é, muitas vezes, evangélico, membro de uma rede social militante, que fica no ouvido o dia todo e se torna objeto de doutrinação
3) Não por outro motivo que a família (a tradicional, composta por pai, mãe e filhos) aparece como central no seu imaginário. Trata-se de uma família idealizada, uma busca (como a busca da Terra Prometida).
4) A família, em especial o papel da mãe, é um esteio para a redenção, a expiação dos pecados. Que faz a ponte para a participação nas igrejas. A mãe é compreendida como aquela que define a noção de respeito e dignidade. Fonte de apoio permanente e acolhida.
5) Vejam que pela mãe (e igreja), todos erros e pecados que o bolsonarista cometer são depurados. Como ela é o esteio da correção e unidade familiar, a noção de ordem social advém desta relação subjetiva com a família. Em suma: família = mãe = ordem = reintegração
6) Outro elemento do ideário do bolsonarista raiz é o espírito de vira-lata. Para eles, o Brasil é um país desqualificado. Daí o ideal que os EUA representam para esse segmento. E, se os EUA são tão bons, suas leis e costumes são melhores que os nossos: caso do porte de armas
7) Se o porte de armas e a ordem são irmãos-gêmeos para os bolsonaristas, o golpe militar não é. Uma minoria bolsonarista apoia a volta do regime militar. Mas, defendem a participação das FFAA no governo
8) O bolsonarismo raiz é, enfim, confuso, contraditório e parece uma esponja que acolhe muitas teorias e fontes de informação. Trata-se da tal cultura "fuzzy".
9) Por esse motivo, o bolsonarismo está mais para o fascismo que para o nazismo. Fascismo é permutável, ou seja, troca valores com outras forças e doutrinas com certa facilidade. O nazismo não, é impermeável e excludente. O fascismo é debochado, como o bolsonarismo
10) Para terminar, o bolsonarista arrependido. Surpreendentemente, muitos são progressistas e alguns até se definem como de esquerda. Dizem que avaliaram que era hora do "PT dar um tempo" e que o cachimbo já estava entortando a boca dos petistas
11) O arrependido percebeu o erro com poucos meses da posse de Jair. E está tão arrependido que diz que fará campanha para Lula em 2022. Perguntei para João Feres se ele pode abrir a porteira e atrair mais bolsonaristas sem convicção. Resposta: cada vez mais difícil. (FIM)

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Jun 20
Bom dia. O fio de hoje é sobre a frase de Chico de Oliveira que postei ontem por aqui. Dizia que os anos 1990 retiraram a musculatura do Estado brasileiro e o século 21 retirou a musculatura da sociedade civil. Lá vai: Image
1) O Estado foi criado como garantidor da estabilidade social cujo objetivo era sustentar que as expectativas individuais (e coletivas) fossem passíveis de serem realizadas. Image
2) Se no século 19 surgiu a ideia de proteção social via intervenção estatal – vindo do improvável projeto de Bismark -, no século 20 se projetou, via socialdemocracia, a lógica da promoção social via amplas políticas de Estado. Image
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Jun 17
Bom dia. Postarei um fio sobre o Centrão. Minha leitura é que ele é uma ponta de lança do fisiologismo e da direita brasileira que necessita se aliar com governos progressistas. Explico: Image
1) O que não parece ter um encaixe equilibrado é a necessidade do Centrão se aliar à liderança de um polo progressista. Foi assim com FHC, puxado por ACM. O faz agora com Lula.
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2) Uma possibilidade é o fisiologismo que o marca, focado nos espaços miúdos e na fragmentação territorial. Por aí, o Centrão teria muita dificuldade para esboçar um projeto nacional.
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Jun 16
Boa tarde. O fio de hoje é uma tentativa de leitura do que me parece um sistema político federal criado após o início do Lula3. Sei que qualquer leitura mais crítica ao governo Lula atrai uma enxurrada de ataques e desesperos, mas sinto que chegou o momento de abrirmos discussão Image
1) É conhecida a tese de Chico de Oliveira em sua “Crítica à razão dualista”: existiria um todo sistêmico que gerava uma especificidade da economia e sociedade brasileiras e que era interpretado por parte da intelectualidade brasileira como subdesenvolvimento. Image
2) A dualidade evitava compreender a lógica integrada entre atraso e pujança como um todo devido ao que sugeria ser proveniente de certo moralismo intelectual. Image
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Jun 10
Bom dia. Farei um brevíssimo fio sobre um dos melhores livros da área da sociologia (estaria mais para o campo das teorias do pensamento social) dos últimos anos, o livro "Lugar Periférico, Ideias Modernas". Lá vai: Image
1) Este livro faz uma cartografia da sociologia brasileira, principalmente paulista, desde o famoso Seminário Marx, iniciado em 1958 e que envolveu Giannotti, FHC, Weffort, Fernando Novaes, Roberto Schwarz, dentre outros. Image
2) O livro, além de muito bem escrito e rigoroso, se diferencia no panorama recente de empobrecimento intelectual. O diagnóstico do país é hegemonizado pela raquítica leitura da microeconomia. As redações da grande imprensa aceleram este processo pragmático e reducionista Image
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Jun 8
Bom dia. O fio de hoje é sobre o erro de Ricardo Nunes, o prefeito de São Paulo. Ao usar o IDEB como pretenso fundamento técnico para privatizar a educação paulistana, saiu da pista. Lá vai: Image
1) O prefeito paulistano Ricardo Nunes cometeu seu maior erro desde que começou a se interessar pela privatização da gestão de creches da capital paulista, quando ainda vereador. Image
2) Ao contrário da ação truculenta de Zema e outros governadores e prefeitos que investiram na privatização da gestão escolar pública, Nunes decidiu criar uma aura de fundamentação técnica ao relacionar a privatização ao IDEB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Image
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Jun 6
Bom dia. Vivemos uma espécie de vácuo político, com Lula e Bolsonaro perdendo força. Este é o tema deste fio. Lá vai: Image
1) A recente pesquisa Quaest que avalia o governo Lula revela que os programas anunciados e as boas notícias não estão gerando impacto positivo na grande massa dos brasileiros. São engolidas por más notícias que são despejadas em sequência. Image
2) Segundo a pesquisa, 45% afirmam que o que esperavam do governo Lula não foi alcançado e apenas 16% avaliam que o governo faz mais do que esperavam. Image
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