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Dec 21, 2021 24 tweets 9 min read Read on X
Esta é a imagem de um homem chorando no tribunal após ficar 16 anos preso ao ser confundido com um estuprador e finalmente ser solto.
O ano era 1981, e Alice Sebold, uma jovem de 17 anos quando sofreu um traumático episódio de violência sexual. Cinco meses mais tarde, a norte-americana pensou que viu seu estuprador andando pela rua e contatou a polícia. Era Anthony Broadwater, um homem negro de 20 anos.
Não demorou para ele ser colocado atrás das grades por conta do crime, o que, na época, com certeza foi um alívio para a jovem. Após 40 anos, especificamente, no último mês de novembro, um tribunal revisando o caso concluiu que Anthony era, na verdade, inocente.
Ele havia sido condenado injustamente, sem haverem evidências suficientes. Anthony recebeu a sentença com base no fato da vítima tê-lo reconhecido durante aquela ocasião, ainda que não fosse compatível com o retrato falado feito na época do crime.
E ainda que ao precisar apontar para seu agressor em meio a um grupo, a moça falhou em identificá-lo. Outra suposta prova que indicaria sua culpa foi uma análise de seu cabelo.
Essa técnica dos anos 80, contudo, é considerada hoje ultrapassada e insuficiente como evidência, de acordo com informações repercutidas pela BBC em um artigo.
O erro judiciário fez com que Anthony tivesse de cumprir uma sentença de 16 anos de prisão e passando o restante de sua vida adulta na lista de agressores sexuais do sistema judicial estadunidense.
Assim, tragicamente, o estupro de Alice fez duas vítimas. Não apenas ela, mas também Broadwater, que, devido ao julgamento equivocado dos profissionais da época, acabou precisando pagar por um crime que não cometeu, enquanto o verdadeiro agressor nunca foi punido.
Quem percebeu a inconsistência do caso foi Timothy Mucciante, um produtor executivo que estava trabalhando em uma adaptação para o cinema do famoso livro "Lucky", escrito por Sebold e recontava suas experiências e pensamentos do período de seu abuso.
“Comecei a ter algumas dúvidas, não sobre a história que Alice contou sobre sua agressão, que foi trágica, mas sobre o julgamento na segunda parte do livro, que não fazia sentido”, explicou ele em uma entrevista ao The New York Times.
“Certas coisas me pareceram estranhas — especificamente o procedimento de seleção em que Alice escolheu a pessoa errada como seu agressor. Mas eles condenaram Broadwater igual”, acrescentou.
As dúvidas de Timothy o levaram a abandonar a produção do longa, e ainda a contratar um investigador particular para tentar chegar ao fundo daquela questão. Rapidamente ficou claro que um erro grave fora cometido durante o julgamento que condenara o suposto agressor da escritora
Anthony foi inocentado no dia 22 de novembro, uma notícia que teria recebido com "lágrimas de alegria e alívio", conforme relatou ele à AFP. O fato do nome do homem ter permanecido por tantos anos na lista de agressores sexuais afetou profundamente sua vida.
“Só espero e rezo para que a Sra. Sebold venha e diga: 'Ei, cometi um erro grave' e me peça desculpas. Eu simpatizo com ela. Mas ela estava errada”, comentou durante uma conversa com o The New York Times
Pouco tempo mais tarde, felizmente, Alice Sebold de fato enviou um pedido de desculpas a Broadwater pelo papel que teve em sua condenação.
O caso tornou-se famoso por conta do livro Sorte — Um caso de Estupro, lançado no Brasil em 2003, em que ela faz um relato de sua vida pessoal quando, aos 17 anos, em maio de 1981, foi atacada e estuprada no campus da Universidade de Syracuse.
“Estou grata que o Sr. Broadwater ter finalmente recebido justiça. Mas o fato é que, há 40 anos, ele se tornou outro jovem negro a ser brutalizado por um sistema legal falho. Para sempre, sentirei muito por tudo que foi feito a ele”, escreveu ela em uma nota.
Afirma que, a partir de agora, seguirá lutando contra o papel que teve no processo que mandou um homem inocente à cadeia: “Também terei de lidar com o fato de que meu estuprador provavelmente jamais será identificado e poderá ter estuprado outras mulheres sem nunca ir à prisão”.
No livro escrito em 1999, ela conta ter visto um homem negro se aproximando dela e narra o ocorrido. O título do livro faz uma referência a uma frase que o policial que atendeu ao chamado disse a Alice: “Você tem sorte de ter sido estuprada, e não estuprada e morta”.
Na época, Alice não sabia o nome de seu agressor, no local ninguém foi encontrado. Seu retrato falado, ela diz, não corresponder ao rosto dele. Cinco meses depois, os dois se cruzaram na rua e ela chamou a polícia. Porém, apontou para um homem diferente na linha de suspeitos.
A condenação de Broadwater (chamado de Gregory Madison no livro) se baseou em duas evidências: análises de um fio de cabelo encontrada na cena do crime, uma tecnologia que se tornou obsoleta, e o depoimento de Alice, que o identificou como o autor do ataque à corte.
O detetive encontrou provas e pediu análises forenses mais modernas, o que fez autoridades determinarem que haviam "falhas sérias" no julgamento, causando dúvidas sobre se verdadeiro agressor foi preso. Assim, Broadwater foi inocentado após 40 anos, 16 deles passados na prisão.
Após passar 16 anos preso, Broadwater atuou como lixeiro e faz-tudo, e disse à Associated Press que perdeu diversas oportunidades por conta do julgamento. Mesmo tendo casado, ele não teve filhos por temer que as crianças sofressem represálias.
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No canal Mentes e Crimes, criado por uma estudante de Ciências Comportamentais na Georgia State University, você pode conhecer crimes "quase perfeitos" e casos que vão te fazer refletir sobre o que o ser humano é capaz de fazer:

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