Então, farei o fio sobre o liberalismo de Haddad em função dos pedidos de Ângelo Galvão, Henriques, Regina Werneck, Ricardo Nacca, Pessoa Vitor, entre outros. Lá vai.
1) A constatação não deveria chocar ninguém. Haddad disse, em 17 de outubro de 2018 que "que simpatiza com medidas econômicas e economistas liberais". Nada mais claro. Ele é do Insper e amigo de Marcos Lisboa, presidente do instituto, expoentes do liberalismo nacional.
2) Como ministro da educação, trouxe toda visão empresarial para dentro da educação pública brasileira. Transformou o FIES em capital de giro de empresas com ações na bolsa de valores. Eu acompanhei várias aventuras de compra de faculdades isoladas do interior com este expediente
3) Pior, trouxe a concepção de avaliação classificatória dos EUA. Acontece que lá deu tudo errado, mas Haddad se esforçou para nacionalizar as avaliações externas deste tipo com o IDEB, ENADE e ENEM. O caso do ENEM é mais grave porque redefiniu o desenho original
4) O ENEM foi formatado por Nilson José Machado, da USP. Machado se inspirou na teoria das inteligências múltiplas desenvolvida por Howard Gardner. Haddad alterou esta concepção. Aqui está a crítica dele: nilsonjosemachado.net/sementes-5-ene…
5) No final da sua gestão frente ao MEC, decidiu inventar e tentou emplacar o aumento dos dias letivos em nosso país. Escrevi um artigo para sustentar que essa proposta não tinha pé nem cabeça do ponto de vista educacional: www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz…
6) Como prefeito, teria feito um acordo com lideranças da Zona Leste de São Paulo que nunca foram cumpridas. Caso da indicação de subprefeitos por plenárias de movimentos sociais. A de Ermelino Matarazzo foi Luís França, braço direito de Padre Ticão.
7) Por este motivo, não conseguiu se reeleger. Contudo, Haddad é obstinado. Conseguiu emplacar seu nome para representar Lula em 2018, mesmo o escolhido tendo sido inicialmente Jacques Wagner.
8) Não vou me aprofundar neste tema. Minha critica é puramente política, nada pessoal. Haddad deu um "chega pra lá" em toda concepção que era hegemônica no PT, no que tange à área educacional: a freireana. Com Haddad, Freire deixou de ser referência no partido.
9) Trata-se de uma batalha interna que ocorre no PT desde 2002, quando Lula se elege. Os liberais capturaram a política econômica e derrotaram Maria Conceição Tavares. Vejam quem assina a Agenda Perdida, a cartilha que Palocci abraçou: columbia.edu/~js3317/JASfil…
10) Há liberais no PT. Gente que entrou pela porta da agenda econômica. Com Haddad, ampliaram as áreas de influência no Partido dos Trabalhadores. É isso. (FIM)
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Bom dia. Saiu nova pesquisa Datafolha que registra avaliação dos brasileiros sobre o governo federal. Na aparência, uma notícia melhor que a pesquisa Quaest apresentou dias atrás. Na aparência. Vamos à pesquisa.
1) Se compararmos com o dado da Quaest, há uma diferença: 5 pontos percentuais de melhoria do índice de avaliação positiva. Esses 5 p.p. fazem uma grande diferença porque, sem esta mudança, a distância entre avaliações positivas e negativas seria similar entre Quaest e Datafolha.
2) Na comparação: a pesquisa Quaest apresentou 56% de desaprovação e a Datafolha, 38%; já os que aprovam foram 41% na Quaest e 29% na Datafolha. A primeira notícia ruim é que em ambas pesquisas, a reprovação é maior que a aprovação: 9 p.p. na Datafolha e 15 p.p. na Quaest.
Bom dia. No dia 1 de abril de 1964, o Brasil mergulhava numa ditadura. O fio de hoje é dedicado a explicar em que aquela ditadura se diferenciaria da que Bolsonaro tentou implantar
1) O bolsonarismo é fascista. A ditadura militar de 64 era autoritária. Qual a diferença? Autoritarismo não mobiliza socialmente e tolera certa competição política tutelada
2) A partir de 1964, ninguém podia sair às ruas em grupos de mais de três pessoas. Se saísse, logo aparecia um meganha ditando o conhecido "Circulando!". Isso, se fosse um policial pacato.
Bom dia. Prometi um fio sobre machismo e esquerda. Então, lá vai fio:
1) Vamos começar pelo básico: não existe esquerda machista ou racista. Se é machista, não é esquerda. Por qual motivo? Justamente porque a definição de esquerda é a defesa da igualdade social. Ora, machismo se define pela desigualdade entre gêneros.
2) Neste caso, piadinhas sexistas, indiretas, definição de trabalho em função do sexo ou sexualidade, assédio ou abuso sexual não fazem parte do ethos da esquerda.
Bom dia. O ato de Bolsonaro que flopou no Rio de Janeiro alerta para uma característica importante da política: o risco calculado. O breve fio é sobre isso. Lá vai.
1) Política é risco calculado. Tentar sobreviver sem se arriscar significa afundar no marasmo e esquecimento social. Maquiavel ensinou que o povo deseja certa intimidade, mas quer firmeza da liderança em momentos de crise.
2) Todos manuais de política reconhecidos e citados no mundo destacam o protagonismo das lideranças políticas. Não é o caso, portanto, de um dirigente político se esgueirar sobre a conjuntura como se fosse um bicho escondido numa gruta.
Bom dia. Para aqueles que, como eu, não gostam de muvuca, posto um fio sobre o desagradável momento de Trump com Zelensky no Salão Oval da Casa Branca. Minha intenção é sugerir que Trump não é nada parecido com a extrema-direita europeia. E não lidera para além dos EUA. Lá vai:
1) Trump, como afirmou Steve Bannon, é despreparado. Um bufão. Para Bannon, ele cumpria o papel de desmantelar a hegemonia ocidental e abrir as portas para a "fase de ouro" da humanidade, também identificada como a "Era dos Sacerdotes".
2) A cena decadente protagonizada por Trump/Vance e Zelensky foi classificada como "briga de bar" pela grande imprensa dos EUA. Imagino que o alvo é pressionar e testar a Europa. Esta é a primeira diferença do trumpismo para a extrema-direita europeia.
Bom dia. Venho alertando para um certo oba-oba que envolve o campo progressista brasileiro (em especial, a base social-militante do lulismo, que vai além do PT) com a denúncia da PGR contra Bolsonaro et caterva. O fio é sobre isso: uma explicação sobre este alerta.
1) Quanto ao julgamento pelo STF, a grande imprensa ventilou a possibilidade de tudo ser finalizado ainda neste semestre. Considero um desatino típico da linha editorial sensacionalista em busca de likes. O mais provável é a sentença ser proferida em setembro ou outubro.
2) Se minhas projeções são razoáveis quanto ao calendário de julgamento, teremos um longo intervalo de 7 a 8 meses de muita turbulência pela frente. Já se esboçam algumas frentes da ofensiva bolsonarista: uma de massas e outra política, além da jurídica.