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Jan 5, 2022 21 tweets 7 min read Read on X
A adolescente que surtava durante a TPM ao ponto de tentar matar sua mãe e incendiar a própria casa:
Nicola Jane Owen nasceu no dia 22/06/1960, em Bexleyheath, no condado de Kent, no Reino Unido. Apelidada de Nikki, ela e os irmãos cresceram numa boa casa e tiveram acesso a ótima educação, incluindo diversas oportunidades extracurriculares.
Nikki demonstrou uma paixão por dança desde jovem e ganhou diversas competições. Além disso, ela também auxiliou a renda familiar atuando como modelo mirim. Descrita como uma menina comportada e tranquila, tudo mudou quando ela atingiu a puberdade.
Repentinamente, a timidez de Nikki foi substituída pela agressividade. Seu humor variava rapidamente e, o que começou como discussões petulantes com a mãe, logo se transformou num hábito de atirar objetos pela casa e jogar a louça no chão nos momentos de raiva.
Numa dessas ocasiões, ela chegou a perseguir a mãe pela cozinha com uma faca. Ademais, Nikki experimentou uma queda drástica em sua autoestima, acompanhada por um quadro de depressão: “Eu queria ficar sozinha e chorava muito no meu quarto”.
Na adolescência, ela também passou a se sentir desconfortável com seu corpo. Com a lâmina de barbear do pai, raspou as sobrancelhas e a cabeça, assim como tirou os cílios. Além disso, passou a ter uma compulsão alimentar que a fez ganhar mais de 20kg num curto período.
Nikki ficou viciada em açúcar e tomava bebidas alcóolicas que encontrava no armário dos pais. Ela também passou a se automutilar e a tentar suicídio com certa regularidade, por meio da ingestão de líquidos como herbicida e de quantidades exorbitantes de remédios.
No total, Nikki afirma que passou por 27 lavagens estomacais. À época, ela considerava que havia duas versões de si: a normal e boa, que representava quem ela era, e uma má, que a possuía periodicamente e cada vez com mais frequência.
"Eu fazia essas coisas terríveis e não entendia por que estava fazendo isso, então realmente pensava que havia algo muito errado comigo, e por causa disso eu estava ficando cada vez mais deprimida e me sentindo cada vez mais inútil", Nikki contou à BBC em entrevista.
A situação pareceu atingir o ápice quando, aos 17 anos, Nikki ateou fogo em sua casa pois “queria vê-la queimar”. O corpo de bombeiros foi chamado a tempo, mas o evento deixou a casa severamente danificada. Após o ato, a jovem foi imediatamente presa.
Todavia, seus pais pagaram a fiança e Nikki foi levada a uma instituição de cuidados à saúde mental, onde passava a maior parte do tempo sob o efeito de sedativos. Eventualmente, ela foi liberada e retornou para casa. Pouco tempo depois, ela tentou incendiar a residência de novo.
Ocorre que, na primeira vez, somente ela estava em casa; na segunda, sua mãe também estava lá. A genitora conseguiu apagar o fogo antes que ele se espalhasse e não se machucou, mas denunciou a filha mais velha às autoridades por receio à segurança de seus filhos mais novos.
Desta vez, Nikki foi presa sem possibilidade de fiança, indiciada por incêndio com exposição de perigo a vida e tentativa de homicídio. Por ser considerada perigosa – tanto a outrem como a si mesma – ela foi mantida em confinamento solitário por vários meses.
Enquanto isolada, então com 18 anos, Nikki foi examinada por diversos psiquiatras. Todos chegaram à mesma conclusão: ela sofreria de insanidade e psicopatia e deveria ser condenada à internação perpétua numa instituição destinada a criminosos com enfermidades mentais.
Antes do julgamento, entretanto, o pai de Nikki passou a pesquisar sobre disfunções hormonais, sugerido por um dos especialistas como uma possível causa dos problemas da filha. Após uma consulta com sua médica, ela o recomendou um artigo científico que desvendou o problema.
“Sua menstruação está deixando você louca?”, artigo da Drª Katharina Dalton, explicava que a deficiência do hormônio progesterona levava a um quadro de tensão pré-menstrual – TPM – grave, o que ocasionava vários dos sintomas experimentados por Nikki.
Dalton, considerada uma das maiores pioneiras nos estudos sobre a saúde reprodutiva da mulher, numa pesquisa com prisioneiras, determinou que 49% delas cometeram crimes durante os quatro últimos dias da TPM e os quatro primeiros da menstruação.
Ratificando essa tese, a mãe de Nikki mantinha um diário no qual ficava claro que o comportamento volátil da filha ocorria durante a TPM e encerrava com a menstruação. Assim, Dalton recomendou que o coquetel de medicações fosse substituído por tratamento com progesterona.
Em três semanas, Nikki afirmou voltou a se sentir perfeitamente normal. Os psiquiatras que a examinaram inicialmente descreveram a mudança como um “milagre”. Os relatórios do novo tratamento foram anexados aos autos do processo e seu julgamento ocorreu em 1978.
Com os relatórios e o testemunho de especialista da drª Dalton, pela primeira vez na história a TPM foi aceita como fator atenuante, e Nikki foi agraciada com uma suspensão condicional da pena de 2 anos, período no qual ela teria de continuar o tratamento com progesterona.
Dalton testemunhou em vários casos semelhantes ao de Nikki e é a principal responsável pelo desenvolvimento de tratamentos relacionados à saúde menstrual. Nicola se especializou em Programação neurolinguística e ajuda milhares de pessoas a lidarem com ansiedade e estresse.

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