Estou lendo "Autoridade", de Richard Sennett e uma passagem do livro oferece a pista para entendermos o fenômeno do negro bolsonarista ou homossexual bolsonarista. Vou expor o seu argumento:
1) Seenett sugere que a sociedade moderna gerou vergonha da fraqueza. Nas sociedades aristocráticas ou tradicionais, afirma, se herdava a fraqueza ou a força. Compunha a estrutura de castas.
2) Porém, no mundo moderno, as pessoas passaram a se sentir responsáveis por sua condição e passaram a encarar o fracasso, a desnaturalizá-lo, como destino.
3) A pobreza é a inferioridade passou a ser definida como consequência da fraqueza dos que não conseguem se sustentar. Ora, essa é a base do discurso liberal que sugere que toda política social é populista. Também vem daí o discurso de desqualificação da luta por direitos
4) Por extensão, daí vem o preconceito à promoção social desenvolvida pelo Estado de Bem-estar Social. Sennett sugere que uma das reações é a negação da autoridade como defesa contra o sentimento de desamparo. Mas, aqui no Brasil a reação foi outra
5) Aqui, emergiu a negação da própria situação de inferioridade ou marginalidade. Vejo a explicação para o negro bolsonarista ou o homossexual bolsonarista.
6) Essa negação da própria situação de inferioridade é mais comum do que se imagina. Já foi capturada em pesquisas envolvendo moradores de favela. O fundo de tudo é a vergonha de ser dependente. (FIM)
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O bolsonarismo dissemina uma série de inverdades, fake news e espalha confusão conceitual. Uma delas é sobre o que seria esquerda ou extremismo. Quem explica isso - e é reconhecido internacionalmente - é Norberto Bobbio. Vamos lá para a explicação:
1) Neste livro clássico sobre a distinção entre esquerda e direita, Bobbio sustenta que todas derivações de esquerda convergem na defesa da igualdade social, ao contrário da direita. Já a direita acredita que a diferença humana criaria a base para justificar a desigualdade social
2) Assim, o ideário de esquerda inclui vertentes cristãs, anarquistas, comunistas, autonomistas, dentre tantos. A direita inclui liberais, conservadores, dentre outros. Tem gente que faz bastante confusão, como aqueles que sugerem o absurdo do tal "anarcocapitalismo"
Bom dia. Prometi um fio sobre o artigo de Frei Betto intitulado “Cabelos brancos”. Então, lá vai.
1) Neste artigo, Frei Betto, quase em tom de alerta, reflete sobre um encontro nacional de Fé e Política realizado em BH em que apenas 30% tinham cabelos escuros. O restante, perto das faixas de idade dele (perto dos 80 anos) e da minha (acima de 60).
2) O artigo assume sintetiza o que tantos engajados de minha geração vêm se queixando: envelhecemos, o que parece normal, mas, conosco, envelheceu o engajamento pela mudança social, pela justiça social, pela ousadia política, pela solidariedade.
Bom dia. Ontem apresentei 5 slides na live das 20h comentando o desastre que foi a ditadura militar para o Brasil. Vou socializar os slides num breve fio. Vamos lá:
1) Primeiro, o mais conhecido: a ditadura matou, exilou e torturou brasileiros usando o aparelho do Estado e o dinheiro público que vinha de impostos pagos pelos cidadãos. Usar o Estado para perseguir e eliminar opositores a um governo é crime em qualquer lugar do mundo
2) Segundo, a ditadura matou 8 mil indígenas brasileiros e torturou vários. Recentemente, os Krenak mineiros ganharam um desagravo por terem sido linchados pela ditadura e suas populações presas no Reformatório Krenak em Carmenésia (MG)
Bom dia. A última pesquisa Datafolha reforçou a certeza de que a extrema-direita oscila ao redor de 30% dos brasileiros. Nem todos são bolsonaristas, mas professam valores racistas, machistas e até fascistas. A questão é: quem são os outros 70%? Este é o fio de hoje.
1) 31% declaram que admiram o PT. Então, sobram 39% sem identidade ideológica. Mas, vale a pena uma parada para entendermos o que são esses 31%.
2) Há pesquisas que indicam que nem todos brasileiros que se autodefinem ideologicamente são coerentes com esta escolha. Pedro Henrique Marques, em seu ensaio "Dimensão e Determinantes do Pensamento Ideológico entre os Brasileiros" observa que apenas 22% são coerentes
Bom dia. Hoje, fui provocado por uma postagem do grande Célio Turino. A postagem contava a história de um primo dele que saiu do apoio à Erundina para virar bolsonarista. Célio perguntava: o que aconteceu com meu primo? O fio a seguir é um conjunto de hipóteses que me atormenta.
1) O resumo da história do primo: há 10 anos, durante a criação do partido-movimento RAIZ, ao lado de Erundina, este primo enviou uma mensagem em que dizia: "Primo, sua persistência na luta por um Brasil melhor é admirável". Continuava....
2) ... ", ainda mais ao lado dessa mulher que foi a melhor prefeita de SP. Isso me dá esperança! Conte comigo."
Um ano depois ele estava gritando pelo impeachment da Dilma e logo depois virou bolsonarista radical. Célio pergunta: "o que houve com meu primo?"
Boa tarde. A despeito da enquete que fiz aqui sobre os temas que desejariam que eu fizesse um fio tenha indicado Anistia/militares, Educação e Evangélicos, farei, agora, um breve fio sobre a pesquisa Quaest que está provocando tiro para todo lado. Lá vai:
1) A excitação nas redes sociais se deu em função de um imaginado "sinal vermelho" ás pretensões da reeleição de Lula em 2026. Típico de quem desconhece o que é um processo eleitoral. Mas, vamos lá.
2) Nenhum sinal vermelho ou amarelo acendeu em função do índice de avaliação positiva revelado na pesquisa Quaest.