Estou lendo "Autoridade", de Richard Sennett e uma passagem do livro oferece a pista para entendermos o fenômeno do negro bolsonarista ou homossexual bolsonarista. Vou expor o seu argumento:
1) Seenett sugere que a sociedade moderna gerou vergonha da fraqueza. Nas sociedades aristocráticas ou tradicionais, afirma, se herdava a fraqueza ou a força. Compunha a estrutura de castas.
2) Porém, no mundo moderno, as pessoas passaram a se sentir responsáveis por sua condição e passaram a encarar o fracasso, a desnaturalizá-lo, como destino.
3) A pobreza é a inferioridade passou a ser definida como consequência da fraqueza dos que não conseguem se sustentar. Ora, essa é a base do discurso liberal que sugere que toda política social é populista. Também vem daí o discurso de desqualificação da luta por direitos
4) Por extensão, daí vem o preconceito à promoção social desenvolvida pelo Estado de Bem-estar Social. Sennett sugere que uma das reações é a negação da autoridade como defesa contra o sentimento de desamparo. Mas, aqui no Brasil a reação foi outra
5) Aqui, emergiu a negação da própria situação de inferioridade ou marginalidade. Vejo a explicação para o negro bolsonarista ou o homossexual bolsonarista.
6) Essa negação da própria situação de inferioridade é mais comum do que se imagina. Já foi capturada em pesquisas envolvendo moradores de favela. O fundo de tudo é a vergonha de ser dependente. (FIM)
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Bom dia. Acabo de ler “O Projeto”, de David Graham, jornalista do Atlantic, dos EUA. Graham dissecou o documento “Projeto 2025”, elaborado por extremistas alojados na Heritage Foudation, tendo à frente os ultraconservadores Russel Vought e Paul Dans. Lá vai fio:
1) O livro é fácil de ler e descreve ações para destruir a estrutura básica da gestão pública moderna. Declaram explicitamente a politização de todos os órgãos de Estado, a extinção de muitos deles e a redução drástica do número de funcionários de carreira
2) Seus autores fazem uma miscelânea entre cristianismo e nacionalismo, entre reacionarismo e defesa dos trabalhadores, entre oposição frontal à cultura “woke” e o ataque aos carros elétricos porque querem conter a China e a dependência das terras raras.
Bom dia. Foi muito esclarecedora a mensagem que Eduardo Bolsonaro enviou ao seu pai. Um misto de desrespeito e ressentimento. Imediatamente, veio à memória a pesquisa de Adorno sobre as personalidades fascistas. O fio é sobre esta pesquisa:
1) Publicada em 1950, nos EUA, a pesquisa liderada por Adorno (da Escola de Frankfurt) envolveu 2 mil pessoas e procurou identificar traços de indivíduos que apresentavam inclinação aos ideais fascistas.
2) O traço principal verificado foi a relação autoritária que esses indivíduos foram submetidos na sua infância, verticalizada e de uso. Tal relação se transferiu, na vida adulta, para a esfera do poder e dominação, baseada no uso do parceiro sexual.
Bom dia. Estava assistindo uma minissérie quando, em determinado momento, o personagem principal, em meio a um caos instalado, sugere que todos somos movidos por sonhos. De fato, ninguém deseja ser desiludido. Este é o fio.
1) Ouvi esta frase numa palestra, acho que de Nilson José Machado, o idealizador do ENEM ( que originalmente foi inspirado na teoria das inteligências múltiplas). Ele falava da origem da palavra ilusão, que é "illudere", e que significa "brincar com".
2) E lascou esta conclusão: "a questão é que ninguém deseja ser um desiludido". A questão deste fio, conduto, é uma derivação dessa conclusão que não há como um ser humano viver sem utopia, sem "brincar com a realidade". Daí a necessidade da arte e até da bondade.
Bom dia. Por mais paradoxal que possa parecer, acho que Hugo Motta ajudou Lula a sair de uma arapuca. Explico a afirmação no fio que começa agora:
1) Até então, o Lula3 estava amarrado ao Centrão, praticamente paralisado. O medo que tomou conta de Lula tinha como fonte a capacidade de mobilização do bolsonarismo que poderia desmoralizar a sua história de líder de massas.
2) Eis que, de repente, o bolsonarismo coloca 12 mil pessoas na avenida Paulista e Hugo Motta resolve peitar o projeto de Haddad sobre o IOF. O IOF era a tábua de salvação para dar sobrevida às contas governamentais.
Boa tarde. O fio de hoje é sobre o calcanhar de Aquiles dos Bolsonaro: agitam, mas não organizam. Lá vai:
1) Max Weber nos ensinou que há um tipo de líder que arrebata as massas pela paixão. Raramente se relaciona com as tradições e é ainda mais raro respeitar regras e normas. Trata-se do líder carismático.
2) Carisma significa “toque de Deus”. Por algum motivo, alguém é escolhido para se sacrificar ou para se distinguir dos outros humanos. Ele parece igual aos outros, mas algo o diferencia da multidão.
Bom dia. O fio de hoje é sobre a frase de Chico de Oliveira que postei ontem por aqui. Dizia que os anos 1990 retiraram a musculatura do Estado brasileiro e o século 21 retirou a musculatura da sociedade civil. Lá vai:
1) O Estado foi criado como garantidor da estabilidade social cujo objetivo era sustentar que as expectativas individuais (e coletivas) fossem passíveis de serem realizadas.
2) Se no século 19 surgiu a ideia de proteção social via intervenção estatal – vindo do improvável projeto de Bismark -, no século 20 se projetou, via socialdemocracia, a lógica da promoção social via amplas políticas de Estado.