Como um homem dominou uma cidade e se aproveitou da fé de seus seguidores para operar uma rede criminosa, incluindo abusos sexuais, tráfico de drogas e pedras preciosas e assassinatos: o caso João de Deus.
João Teixeira de Faria nasceu no dia 24/06/1942 na antiga Cachoeira da Fumaça – atualmente Cachoeira de Goiás (GO). Caçula de seis filhos, teve de abandonar os estudos no início do ensino fundamental após a família se mudar para Itapaci (GO), para auxiliar o sustento familiar.
Durante a juventude, João desempenhou diversos trabalhos braçais; contudo, sua fortuna se iniciou após atuar como garimpeiro em Serra Pelada (PA) no início dos anos 80. Ele afirmou que foi um dos primeiros a chegar ao local considerado como o “maior garimpo a céu aberto do mundo”
Na época, João já realizava trabalhos de cura com poderes “divinos”. Na verdade, o “médium” afirmou que descobriu seu “dom” com 9 anos, em uma ocasião na qual previu que ocorreria uma tempestade que destruiria casas da região, incidente que realmente aconteceu.
Com 16 anos, João realizou sua primeira cura e, anos depois, passou a atravessar os estados de Goiás e Minas Gerais atuando como curandeiro. Eventualmente, em 1976, decidiu se estabelecer em Abadiânia (GO), onde fundou a Casa Dom Inácio de Loyola.
No início, sua prática foi criticada por alguns na região, ao ponto que João chegou a ser condenado por charlatanismo, visto que anunciava métodos “infalíveis” de cura. Segundo o médium, ele recebia “bons espíritos” que realizavam os procedimentos por meio dele.
Desde aquele período, as operações de João eram realizadas de duas formas, a depender da preferência do enfermo: as sem toque, que envolviam apenas a canalização de espíritos para a cura, e outras mais “tradicionais”, em que eram utilizados utensílios domésticos no procedimento.
Com o uso de objetos como facas e tesouras, João realizava cortes e incisões nos pacientes sem anestesia. Ele chegou a afirmar que toda pessoa é como um diamante “que necessita ser polido implicando em dores e sofrimento, para realizar sua superior destinação”.
Um vídeo que exemplifica uma das operações realizadas por João está disponível no Youtube. Segue o link:
Embora tenha fundado a Casa para atender moradores da região, o sucesso de sua metodologia curandeira ganhou notoriedade no Brasil. Assim, a instituição passou a receber visitantes de todo o país e, nas últimas décadas, a maioria dos turistas eram de origem estrangeira.
Abadiânia tornou-se mundialmente famosa. Inicialmente, João conquistou o apoio das autoridades na região, como delegados e políticos. Além disso, contou com a recomendação de Chico Xavier, que atestava a “divindade” dos procedimentos de cura do colega médium.
Conforme aumentava a popularidade e suposta credibilidade da Casa, diversas celebridades e figuras influentes, desde ex-presidentes como Lula e Bill Clinton, até apresentadoras como Xuxa e Oprah, foram à instituição visitar e, em alguns casos, serem atendidos por João.
O médium tratava qualquer enfermidade, desde doenças mentais até câncer. A amplitude de seus “poderes” e notoriedade da Casa fez com que atendesse mais de 9 milhões de pessoas até 2012, conforme estimou João, embora a instituição só funcionasse de quarta a sexta.
O sucesso da Casa foi tão grande que a economia do município se tornou dependente da instituição, que passou a empregar mais pessoas do que a administração de Abadiânia. Um ex-prefeito chegou a declarar que a economia da cidade iria para o “buraco” se João morresse.
A tremenda influência de João fez com que curas bem-sucedidas, algumas consideradas milagres, ficassem notórias, enquanto casos em que o procedimento falhava, incluindo alguns em que a vítima morria devido a mesma condição da qual teria sido “curada”, eram abafados.
Contudo, estes não foram os únicos incidentes que permaneceram ocultos por décadas: desde os primórdios da operação curandeira, mesmo antes de fundar a casa Dom Inácio, João abusou sexualmente de visitantes e pacientes, desde bebês, crianças e até idosas.
Durante os anos, João foi denunciado por diversos crimes, como homicídio, tentativa de homicídio, estupro e tráfico de drogas e autunita, um material radioativo. Porém, os casos sempre eram arquivados devido à influência e importância de João para a região.
Não só as autoridades e políticos o protegiam, como também os trabalhadores da Casa, que tinham conhecimento das práticas abusivas de João, mas não o reportavam. Diversas vítimas informaram que, após buscar ajuda, as diziam que suas ações eram apenas a vontade de Deus.
Maria do Carmo dos Santos, uma das fundadoras do grupo Vítimas Unidas, culpou a omissão do governo brasileiro pelos abusos: “Se a casa estivesse regularizada, com guias credenciados, essas pessoas não seriam capachos do João e não permaneceriam caladas”.
Além disso, afirmou que donos de pousadas, guias turísticos e tradutores da cidade também tinham conhecimento da situação e foram coniventes com os abusos. Muitos reconheciam a perversidade da prática, mas acreditavam que entregá-lo acabaria com a esperança de muitos.
No caso de vítimas estrangeiras, muitas tentaram denunciá-lo com o auxílio das embaixadas brasileiras em seus países de origem, mas sempre sem sucesso. O reinado de João em Abadiânia só terminaria no dia 07/12/2018, numa reportagem no programa "Conversa com Bial", da Globo.
Baseado no depoimento de dez vítimas, pela primeira vez, os crimes de João foram expostos. A reportagem encorajou centenas de outras vítimas a reportarem os abusos que sofreram: no fim de 2019, a "Brasil de Fato" reportou que 319 mulheres fizeram denúncias contra João.
Destaca-se a atuação do movimento Coame – Combate ao Abuso no Meio Espiritual –, que auxiliou na investigação e orientação das vítimas de João. Gabriel Baum, filho da cofundadora do Coame e ativista, Sabrina Bittencourt, acentuou a dicotomia em torno do médium:
“João, para milhões de pessoas, foi um santo. Para milhares, foi um demônio. Ele tinha um centro espiritualista de fachada. A Justiça que o Código Penal propõe só funciona para os pobres. Para os ricos e poderosos, não”, declarou em entrevista à Brasil de Fato.
Além de os crimes sexuais, João criou um verdadeiro império do crime, envolvendo tráfico internacional de drogas, material radioativo e de bebês e crianças encomenda de assassinatos e inúmeros crimes financeiros – estima-se que tenha acumulado mais de R$ 100 milhões ilegalmente.
Não para por aí: João também foi acusado de falsidade ideológica, coação e corrupção de testemunhas, posse ilegal de armamento e munição, encontrados em Anápolis, onde morava, e apreensão de documentos, armas de fogo e munição, ocorrido em Abadiânia.
Embora diversos dos crimes pelos quais João foi acusado já houvessem prescrito, ele foi preso preventivamente no dia 16/12/2018. Desde então, foi submetido a diversos julgamentos e condenados por inúmeros crimes. Segundo o G1 Goiás, suas condenações foram:
Mesmo após sua última condenação, que prevê o regime fechado, João continua em prisão domiciliar, determinada por outra sentença. O advogado do perverso idoso afirmou que recorrerá a todas as instâncias do Poder Judiciário enquanto as decisões forem condenatórias.
Para mais informações sobre o caso, recomendamos o artigo “Abusos da Fé | Um Ano do Caso João de Deus”, da Brasil de Fato, o livro “A casa: A história da seita de João de Deus”, de Chico Felitti, e o documentário “João de Deus - Cura e Crime”, produção da Netflix.
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