O cabo de guerra entre Europa e África por causa da Copa Africana de Nações não começou em 2022.
Aliás, podemos traçar a origem da disputa até a 1ª edição da CAN em 1957.
Um ano antes, em 1956, a FIFA vetou a iniciativa africana, considerando o continente “despreparado”.
O mundo ainda estava se recuperando dos eventos da 2ª Guerra Mundial. Já falamos, por exemplo, sobre como a criação da UEFA foi importante para a reintegração da Europa.
Na África, porém, grandes impérios coloniais ainda resistiam.
E uma competição como a CAN era perigosa.
Com a formação da ONU após a guerra, em 1945, os países-membros se comprometeram a respeitar a autodeterminação dos povos.
A África já tinha algumas nações independentes, como Libéria, África do Sul e Egito.
Mas as demais precisariam botar à prova esse compromisso da ONU.
A luta anticolonial vira uma questão internacional na Guerra da Indochina, na Ásia, com derrota dos franceses em 1954.
Em 55, a Conferência de Bandung reúne países asiáticos e africanos num gesto anti-imperialista, com a afirmação do "terceiro mundo", que ia além de EUA e URSS
Por toda a África, movimentos de independência ganham força.
O Egito, importante liderança africana e já uma nação independente, havia acabado de se tornar uma república, abolindo a monarquia e reduzindo ainda mais a influência britânica.
Sobe ao poder Gamal Abdel Nasser.
Em 1956, EUA e Reino Unido se negam a financiar uma barragem egípcia devido à aproximação do país com os soviéticos.
Nasser então nacionaliza as operações do Canal de Suez.
Temendo desabastecimento de petróleo, franceses e britânicos invadiram o Egito, com ajuda de Israel.
Era o momento de medir forças na ONU.
Com a reprovação de EUA e URSS, os três invasores se retiram humilhados, e Nasser vence a queda de braço.
É neste contexto de uma África cada vez mais anticolonialista, portanto, que surge a ideia da CAN, naquele exato ano.
E é por motivos políticos que a FIFA rejeita a ideia de um torneio de integração entre nações africanas, com medo de que uma África independente no futebol fosse o princípio de uma África independente como um todo.
Mas o Egito novamente ergue sua voz, como liderança regional.
Tradicional, a seleção egípcia disputara as Olimpíadas de 1924 e a Copa do Mundo de 1934 de forma pioneira.
Abdelaziz Salem, cartola do Egito, preside o Congresso da FIFA de 1956 e propõe a criação de uma confederação própria da África, como a UEFA, e de uma copa africana.
Quando a FIFA rejeita a ideia, Salem lidera um motim com os demais cartolas africanos, ameaçando deixar a entidade.
Pressionada, a FIFA volta atrás e libera a criação da CAF, a versão africana da UEFA, em 1957.
Dias depois, ocorre a 1ª Copa Africana de Nações, no Sudão.
A escolha do Sudão também não foi à toa, já que aquela era a mais nova nação africana independente, com apoio de seu vizinho ao norte, o Egito, que, para isso, deixou de lado suas reivindicações sobre as terras sudanesas, em troca de que os britânicos se retirassem de lá.
Só 3 países participaram daquela edição, já que a África do Sul se retirou por não querer apresentar uma equipe multirracial. O país estava ainda implantando seu regime de apartheid.
O Egito conquistou o troféu, batizado de Abdelaziz Salem, o herói que ajudou a criar a CAF.
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