Boa tarde. Os liberais costumam afirmar que a esquerda brasileira viaja na maionese e adoece de politicismo. Acontece que os próprios liberais não ficam nem um pouco longe disso. Aliás, ultrapassam a esquerda em muito. Vejam os delírios de Bolívar Lamounier neste livro (fio):
Lamounier sugere que entre 1993-1994 o Brasil viveu um "interregno parlamentarista" !!!. Sugere que o presidente Itamar Franco teria atribuído a FHC uma posição equivalente à de primeiro-ministro.
2) À página 170 deste livro, sustenta que FHC ganhou fácil a eleição de 1994 porque liderou o controle da inflação e criou um ambiente de normalidade, não estressante. Interessantíssimo. Pelo visto, tínhamos superado a fome e a desigualdade social.
3) Pior: sugere que o governo FHC foi facilitado pelo "nova agenda internacional e doméstica. O que seria a nova agenda doméstica? Pasmem: a consciência que a Constituição de 1988 era um empecilho para a recuperação econômica.
4) Não há nada que pareça fantasioso que não possa enlouquecer ainda mais. Lamounier sustenta que a nova agenda nacional passou a ser "um amplo programa de reformas estruturais reconhecidamente indispensáveis". Reconhecidas por quem, afinal?
5) E, sustenta: "seria ideal o governo aproveitar o período de lua e mel para se concentrar nas reformas com impacto fiscal". Não lembra a frase de um determinado ex-ministro que falou sobre a boiada?
6) A partir daí, Lamounier se enreda num balanço camarada da gestão FHC. Sugere que na sua gestão as taxas de crescimento do PIB foram modestas devido "à persistência das restrições macroeconômicas" (dente elas, o onipresente desequilíbrio fiscal).
7) A inflação esteve sob controle, mas o equilíbrio fiscal ficou "muito aquém do desejado" (p. 172). Entretanto, as privatizações "pode ser avaliado como muito bom", assim como o "saneamento do sistema bancário" com a adoção do Proer. Logo no período de demissões nos bancos.
8) Na avaliação da política externa, Lamounier destaca como positiva a "diplomacia presidencial" que diluiu o "excessivo terceiro-mundismo de que o Itamaraty se achava impregnado" (p. 174).
9) Enfim, devo estar com ressaca da Ceia de Natal. Não consegui entender se Lamounier desejava convencer ou incriminar. O fato é que se queria convencer dos benefícios do governo FHC, deu uma saraivada de tiros no próprio pé. Liberal é o bicho mais utópico do planeta (FIM)
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Bom dia. Estava assistindo uma minissérie quando, em determinado momento, o personagem principal, em meio a um caos instalado, sugere que todos somos movidos por sonhos. De fato, ninguém deseja ser desiludido. Este é o fio.
1) Ouvi esta frase numa palestra, acho que de Nilson José Machado, o idealizador do ENEM ( que originalmente foi inspirado na teoria das inteligências múltiplas). Ele falava da origem da palavra ilusão, que é "illudere", e que significa "brincar com".
2) E lascou esta conclusão: "a questão é que ninguém deseja ser um desiludido". A questão deste fio, conduto, é uma derivação dessa conclusão que não há como um ser humano viver sem utopia, sem "brincar com a realidade". Daí a necessidade da arte e até da bondade.
Bom dia. Por mais paradoxal que possa parecer, acho que Hugo Motta ajudou Lula a sair de uma arapuca. Explico a afirmação no fio que começa agora:
1) Até então, o Lula3 estava amarrado ao Centrão, praticamente paralisado. O medo que tomou conta de Lula tinha como fonte a capacidade de mobilização do bolsonarismo que poderia desmoralizar a sua história de líder de massas.
2) Eis que, de repente, o bolsonarismo coloca 12 mil pessoas na avenida Paulista e Hugo Motta resolve peitar o projeto de Haddad sobre o IOF. O IOF era a tábua de salvação para dar sobrevida às contas governamentais.
Boa tarde. O fio de hoje é sobre o calcanhar de Aquiles dos Bolsonaro: agitam, mas não organizam. Lá vai:
1) Max Weber nos ensinou que há um tipo de líder que arrebata as massas pela paixão. Raramente se relaciona com as tradições e é ainda mais raro respeitar regras e normas. Trata-se do líder carismático.
2) Carisma significa “toque de Deus”. Por algum motivo, alguém é escolhido para se sacrificar ou para se distinguir dos outros humanos. Ele parece igual aos outros, mas algo o diferencia da multidão.
Bom dia. O fio de hoje é sobre a frase de Chico de Oliveira que postei ontem por aqui. Dizia que os anos 1990 retiraram a musculatura do Estado brasileiro e o século 21 retirou a musculatura da sociedade civil. Lá vai:
1) O Estado foi criado como garantidor da estabilidade social cujo objetivo era sustentar que as expectativas individuais (e coletivas) fossem passíveis de serem realizadas.
2) Se no século 19 surgiu a ideia de proteção social via intervenção estatal – vindo do improvável projeto de Bismark -, no século 20 se projetou, via socialdemocracia, a lógica da promoção social via amplas políticas de Estado.
Bom dia. Postarei um fio sobre o Centrão. Minha leitura é que ele é uma ponta de lança do fisiologismo e da direita brasileira que necessita se aliar com governos progressistas. Explico:
1) O que não parece ter um encaixe equilibrado é a necessidade do Centrão se aliar à liderança de um polo progressista. Foi assim com FHC, puxado por ACM. O faz agora com Lula.
Fico pensando no que o move para este lugar.
2) Uma possibilidade é o fisiologismo que o marca, focado nos espaços miúdos e na fragmentação territorial. Por aí, o Centrão teria muita dificuldade para esboçar um projeto nacional.
Boa tarde. O fio de hoje é uma tentativa de leitura do que me parece um sistema político federal criado após o início do Lula3. Sei que qualquer leitura mais crítica ao governo Lula atrai uma enxurrada de ataques e desesperos, mas sinto que chegou o momento de abrirmos discussão
1) É conhecida a tese de Chico de Oliveira em sua “Crítica à razão dualista”: existiria um todo sistêmico que gerava uma especificidade da economia e sociedade brasileiras e que era interpretado por parte da intelectualidade brasileira como subdesenvolvimento.
2) A dualidade evitava compreender a lógica integrada entre atraso e pujança como um todo devido ao que sugeria ser proveniente de certo moralismo intelectual.