1/ Uma das teses amplamente aceitas sobre o "desenvolvimento brasileiro" é que tudo ia bem até +- 1980, quando veio a crise. Externa, claro. É o raio em céu azul. Petróleo, juros, moratória mexicana... tem variação, mas é isso. (são mais 12)
2/ Petróleo, juros e México afetaram só o Brasil? Ou só a América Latina? Então... não vamos deixar de lado esses fatores externos de impacto, mas o problema é anterior e é mais profundo.
3/ Por que tínhamos dívida? Por que ficamos reféns de juros dessa dívida a partir de 1979? (Aliás, os juros começaram a subir antes de Tatcher e Reagan). Começa aí o reconhecimento das nossas fragilidades. Mas o mais importante vem a seguir.
4/ Nós tínhamos uma indústria grande? Sim (embora per capita ela fosse menor do que a de muitos países da AL, incluindo o Uruguai e a Venezuela). Mas uma indústria grande não é uma indústria desenvolvida. Ah, mas exportávamos um montão . Verdade, mas com custos públicos.
5/ A indústria era frágil e sabia das suas fragilidades. Prova? Os grandes grupos ditos industriais já fugiam da indústria de verdade no final dos anos 1970 e aceleraram isso no início dos 80.
6/ Caso emblemático? Votorantim, refugiado no oligopólio do cimento (poder desmesurado), foi conquistando posições fortes em áreas de recursos naturais protegidas: mineração, laranja, celulose. Isso é indústria? Mais ou menos. Mas se você procurar por patentes vai se decepcionar.
7/ Para esse grupo e para 95 dos 100 grupos empresariais poderosos do auge da industrialização, tecnologia é a gente compra de uma empresa multinacional que não quer estar no Brasil ou de uma consultoria de engenharia. E ainda se gabavam: "para que vamos reinventar a roda?"
8/ Você já visitou o museu de um grande artista? No Rodin, no Picasso, no van Gogh você consegue ver dezenas, centenas de esboços preparatórios das grandes obras. E muito treino antes disso, incluindo "natureza morta". Só se faz algo original depois de uma longa preparação.
9/ Alguém aqui se preparou para a originalidade? Não, "esse povo [morto de fome] consome qualquer coisa". E e você fez um puxadinho ou uma reforma na sua casa, saiba que o sobrepreço do cimento ajudou aquele grupo a comprar as terras da laranja e da celulose. E "ativos" lá fora.
10/ Há muitos problemas neste caminho. Um deles é o poder excessivo do grande capital (não, são empresários) frente à sociedade toda - trabalhadores, empresas menores, poderes públicos. Quem acumula no poder não precisa "reinventar a roda".
11/ Mas há mais efeitos. O poder excessivo exaure os recursos das demais empresas e o poder de consumo da sociedade. Como podem empresas exangues pagar salários melhores, cumprir obrigações fiscais? Ou desenvolver produtos e processos. O parasitismo das grandes é destrutivo.
12/ O mais popular dos capitalistas brasileiros da segunda metade do 20 era inimigo declarado dos sindicatos. As federações dos industriais pretendem ser da indústria. Ah, as palavras: para eles, indústria não inclui os trabalhadores, só os pimpões de terno e gravata.
13/ GV deu á indústria o monopólio da formação profissional e pagou-lhes para o fazerem. 70 anos depois reclamam que não há qualificação. Têm o monopólio do Sistema S e reclamam da "mão de obra", tomam todas as decisões técnicas e reclama da produtividade. Como é que é?
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Sílvio Almeida @silviolual escreve um artigo devastador, uma flecha certeira no coração de @SERGIO_DAVILA
Jornalismo suicidário
Em matéria publicada na quarta-feira (19), Suzana Singer trouxe a posição da Direção da Folha acerca das repercussões negativas de textos recentemente
publicados e que foram por muitas pessoas —inclusive por este colunista— considerados racistas. Porém, as declarações do diretor do jornal, Sérgio Dávila, revelaram, mais do que falta de autocrítica, uma surpreendente tendência ao autoaniquilamento por parte um jornal
quase centenário.
Posso estar enganado, mas a matéria parece ter sido usada pela direção desta Folha para advertir os quase 200 jornalistas que assinaram um corajoso manifesto que cobra do jornal um mínimo de respeito à população negra e aos mais de 100 anos de debate cientifico