Chorei hoje lendo sobre o assassinato de Moïse Mujenyi Kabagambe num quiosque na Barra da Tijuca. Que o nome do Quiosque seja Tropicália aprofunda, para mim, a dor de constatar que um refugiado da violência encontra violência no Brasil.
Para mim e certamente para @gilbertogil, Capinam, Rita Lee, Tom Zé, Sérgio Dias, @galcosta, Arnaldo Baptista, Julio Medaglia, Manuel Barenbein... E fere a memória de Rogério Duprat, Torquato Neto, Nara Leão, Guilherme Araújo... Sobretudo a de Hélio Oiticica, que criou o termo.
Tenho certeza de que a família Oiticica está comigo nessa amarga revolta. O Brasil não pode ser o que há de mesquinho e desumano em sua formação.
Paulo Gustavo é a expressão da alegria brasileira. Essa alegria que nos veio de fora em forma de fama, já que minha geração cresceu crendo no mito das "três raças tristes" de que nosso povo se teria formado. +
Nascido já depois da glória futebolística brasileira, do aumento de canções que falam de amores vitoriosos (da bossa nova a Roberto Carlos), do cinema que teve força crítica e, depois, domínio técnico e comunicação com o grande público +
e da afirmação do alto nível de criação televisiva - , Paulo, esse poço de talento e gerador de prazer doado ao Brasil por Niterói, encarnou, em seu trabalho e em sua vida pessoal, essa alegria antes apenas mítica. +
Contam-me que causou alguma revolta o fato de eu ter celebrado a reprodução heterossexual no meu post sobre o aniversário de Moreno. Gozado: só me ocorreu mencionar esse aspecto da real forma em que Moreno foi concebido por estar em contato intenso com a obra do filósofo +
transgênero Paul B. Preciado (o B. em seu nome é de Beatriz, que é como ele se chamava quando era mulher). Ele e eu dividimos uma mesa na @flip_se , que este ano vai ser online e grátis. Festejar o nascimento de uma pessoa pressupunha que a concepção desta tivera origem num ato +
heterossexual. Esse fato não precisava ser marcado: era "natural" e, portanto, pressuposto. Vivendo mais intensamente a realidade do mundo contemporâneo, ocorreu-me marcar essa especificidade do modo como Moreno foi gerado. Hoje você pode ser lésbica e ter uma mulher que +
Hoje, 22, é aniversário de Moreno (@Moreno_Veloso ). Parabéns. Parabéns à vida, à reprodução heterossexual, ao mundo que ganhou um habitante tão luminoso. Vê-lo explicando coisas de física numa conversa com o reitor da Unicamp é uma festa para o espírito.+
A emissão da voz nas frases que vêm com fluidez tranquila à sua mente, a clareza da pessoa, essa pessoa que nasceu de Dedé e de mim! E ouvi-lo cantar Fullgás (Lançamento em breve) na gravação nova que ele fez com seu cello e seu violão, colorida do apoio dos amigos Pedro Sá,+
Ricardo Dias Gomes e Bartolo. A canção de Marina e Cicero ressurge, sem perder nada da beleza original da versão da autora, relida com tranquilidade e delicadeza - lições que a bossa nova deixou para provar sempre que intensidade pode até aumentar em interpretações discretas.+
Ver, no Dia da Consciência Negra, as imagens do rapaz sendo espancado no Carrefour é indignante. Vivi situações junto a amigos negros que vão da expulsão, sob ameaças, de um menino preto, amigo de um dos meus filhos, de um shopping do Rio a uma prisão, em Salvador, feita de +
forma agressiva, de um amigo íntimo nosso que passeava conosco na calçada da praia do Rio Vermelho. Éramos três ou quatro, ele o único preto. O carro da polícia passou e parou para abordá-lo, a ele e somente a ele. Protestamos. Mesmo assim eles o puseram na parte de trás do +
camburão. Era amigo muito querido e chegado. Paulinha (@PaulaLavigne) e eu protestamos junto aos policiais. Um deles me reconheceu e, afinal, sob admoestações dos outros, soltou nosso amigo. A situação objetiva de uma pessoa preta no Brasil é no mínimo desvantajosa. +
Adoro Sérgio Ricardo desde o final da adolescência. Principalmente "Este nosso olhar" e "Pernas" (que, para meu deslumbre, reouvi na voz de minha irmã Bethânia em seu show mais recente). +
João Gilberto cantava lindamente a primeira, mas não a gravou (e deixou de cantá-la cedo) por causa da palavra "veneno". Era uma recusa estética que soava como uma superstição. Nós conhecíamos (e amávamos) o Sérgio do LP "A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo". +
Anos depois, ele estava cantando "Se entrega, Corisco" e "Manuel e Rosa viviam no sertão/Trabalhando a terra/Com as próprias mão/Até que um dia, pelo sim, pelo não/Entrou na vida deles/ O Santo Sebastião", e mais "Antônio das Mortes, matador de cangaceiro" +
Moraes Moreira seria importante pra nossa vida se tivesse sido apenas o rapaz que cantava no barzinho do Campo Grande que frequentávamos nos meses de confinamento em Salvador. (Ele cantava de sua mesa: era um cliente, não um profissional.) Sua voz encantava Dedé e nos ajudou a
aguentar a pena sob a ditadura militar. E ele não é só o componente do grupo que lançou disco roqueiro (com "Colégio de Aplicação": "Saindo dos prédios para as praças, uma nova raça"). Tampouco o músico/cantor/compositor da virada joãogilbertiana desse mesmo Novos Baianos de
"Acabou chorare", de "A menina dança", do relançamento nível Carmen Miranda de "Brasil Pandeiro" e de todo um repertório e estilo que, junto a Galvão, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor, mais Pepeu Gomes, Didi Gomes, Dadi e Baixinho marcou a trajetória da música popular no