"Devolve, Lula": como a grande imprensa validou um boato de internet para acusar Lula de roubar um crucifixo que era seu — e como a Operação Lava Jato tentou tirar proveito disso.
1/21
Dentre os mais de 8.500 presentes pessoais que Lula ganhou durante seus mandatos, destaca-se um Cristo crucificado esculpido em madeira por um artista europeu do século XVI. O crucifixo pertencia ao bispo Mauro Morelli, de Duque de Caxias, que o pôs à venda em 2002.
2/21
O crucifixo foi comprado por José Alberto de Camargo, conselheiro do Instituto da Cidadania e presidente da CBMM. Por sugestão de Frei Betto, Camargo presenteou Lula com a obra. O sacerdote convenceu Lula a instalar a peça em sua sala e posteriormente abençoou o gabinete.
3/21
Em janeiro de 2011, após Lula deixar o palácio, o crucifixo foi retirado do gabinete junto com todos os seus pertences. Tão logo foram divulgadas imagens do gabinete sem o crucifixo, surgiram boatos de que Dilma teria ordenado sua remoção "por ser ateia".
4/21
A Folha foi uma das responsáveis por fomentar os boatos, acusando Dilma de ter ordenado a remoção da peça. As acusações não cessaram mesmo após o desmentido. Blogueiros antipetistas passaram a divulgar que a peça seria do acervo do Planalto e teria sido roubada por Lula.
5/21
Surgiu dessa forma a campanha "Devolve, Lula", que exigia que Lula devolvesse "o acervo roubado do Palácio do Planalto". Em fevereiro de 2011, a revista Época chegou a fazer uma matéria esclarecendo que a peça não pertencia ao acervo palaciano, mas sim ao ex-presidente.
6/21
Os boatos, entretanto, persistiram, ancorados sobretudo em uma fotografia de Itamar Franco sentado na poltrona presidencial tendo o crucifixo atrás de si. Alegou-se, com base nessa imagem, que o crucifixo já estaria no Planalto desde o governo Itamar Franco nos anos 90.
7/21
A fotografia é verdadeira, mas não foi tirada durante os anos noventa. O registro é de uma visita que Itamar fez ao Palácio do Planalto em 2006, já no fim do primeiro mandato de Lula. O boato já fora esclarecido na reportagem da Época de 2011.
8/21
O fato do histórico da peça ser bem conhecido não impediu que a grande mídia recorresse ao boato para criminalizar Lula e incitar o antipetismo. O boato logo foi incorporado como mais uma justificativa para a guerra jurídica travada contra o PT pela Lava Jato.
9/21
A Veja turbinou o boato: não apenas induziu o leitor ao erro recorrendo à fotografia anacrônica de Itamar como transformou a peça de um escultor anônimo europeu em um Aleijadinho. Um salto atributivo apto a valorizar enormemente a obra — e o tamanho do suposto roubo.
10/21
Elevando o conceito de "cara de pau" a um novo patamar, a revista Época — a mesma que havia desmentido os boatos sobre o roubo do crucifixo em 2011 — publicou uma reportagem sensacionalista afirmando que o crucifixo havia "desaparecido de uma hora para outra" do gabinete.
11/21
A busca pelo crucifixo "roubado" virou uma obsessão para a Polícia Federal e o procurador Deltan Dallagnol. Era a desculpa perfeita para prender Lula. Durante a operação Aletheia, policiais federais vasculharam o apartamento o ex-presidente em busca de "pistas".
12/21
Encontraram documentos informando que o acervo pessoal de Lula estava guardado em um cofre no Banco do Brasil. É difícil compreender por que alguém tentaria ocultar um bem roubado depositando-o em um cofre regular do BB. Mas isso não parece ter incomodado a PF.
13/21
Em março de 2016, em uma ação transformada em espetáculo pelos holofotes da grande mídia, a PF divulgou ter encontrado 23 caixas com os presentes de Lula no cofre do BB — incluindo o crucifixo. A mídia entrou em êxtase, apresentando a operação como prova do "crime".
14/21
Empolgado, Reinaldo Azevedo se apressou em acusar Lula de "passar a mão" em um "crucifixo entalhado em madeira, datado do século XVI, que pertence ao estado brasileiro".
15/21
O estardalhaço da mídia ultrapassou as fronteiras nacionais e virou notícia no mundo inteiro — o ex-presidente brasileiro "surrupiara" obras de arte e joias "do Planalto". Em Portugal, noticiou-se que Lula havia roubado um Aleijadinho.
16/21
Ninguém ficou tão empolgado quanto Deltan Dallagnol. O procurador da Lava Jato ficou extasiado ao ser informado que a PF havia "achado" o crucifixo de "Aleijadinho". As mensagens publicadas pelo The Intercept confirmam que Deltan mal conseguia se conter.
17/21
Prender Lula em flagrante por roubar um objeto tão simbólico quanto uma representação da crucificação de Cristo era a apoteose, o sonho molhado dos procuradores da Lava Jato para destruir Lula e o PT.
18/21
A alegria durou pouco. Cinco dias após a descoberta do crucifixo, Deltan foi informado pelo procurador Januário Paludo que a Lava Jato havia caído em uma fake news de Whatsapp. O crucifixo era de Lula e a informação podia ser verificada com uma simples pesquisa no Google.
19/21
Foi somente após essa informação que os procuradores da Lava Jato resolveram olhar a Lei 8.934, que trata sobre os bens de ex-presidentes da República, e descobriram que Lula não havia cometido nenhuma irregularidade.
20/21
Malgrado a frustração da Lava Jato, o episódio serviu para atacar ainda mais a imagem pública de Lula e criminalizar o PT. Não houve desmentidos significativos na imprensa, ao passo que as matérias acusando Lula de roubar seu próprio patrimônio seguem circulando na rede.
21/21
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Há 66 anos, o general Lott esmagava a Revolta de Aragarças, levante golpista contra o governo de Juscelino Kubitschek. A revolta foi conduzida por militares que já tinham tentado um golpe 3 anos antes, mas receberam anistia. Leia no @operamundi
Candidato à presidência pelo PSD na eleição de 1955, Juscelino Kubitschek (JK) se apresentou ao eleitorado como herdeiro político de Getúlio Vargas, prometendo trazer ao Brasil “50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato”.
2/25
JK conseguiu herdar os votos de Vargas e foi eleito presidente. O mesmo ocorreu com João Goulart, ex-Ministro do Trabalho de Vargas, que foi eleito como vice em votação separada.
Mas, ao mesmo tempo, JK e Goulart também herdaram a fúria do antigetulismo.
O Ministério Público de Milão anunciou abertura de uma investigação formal contra cidadãos italianos suspeitos de terem participado de "safáris humanos" durante a Guerra da Bósnia. Os turistas europeus pagavam até R$ 600 mil para matar civis por diversão.
1/15
O caso ocorreu durante o Cerco de Sarajevo, episódio dramático da Guerra da Bósnia, que se estendeu de 1992 a 1996. Considerado um dos mais violentos cercos militares do século 20, a ofensiva contra a capital bósnia deixou cerca de 12.000 mortos e 60.000 feridos.
2/15
Conforme a denúncia, o serviço era ofertado pelo exército sérvio-bósnio, chefiado por Radovan Karadzic, preso desde 2008. O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia o condenou a 40 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade.
Está avançando na Assembleia Legislativa de São Paulo o PL 49/2025, oriundo da base de apoio do governador Tarcísio de Freitas, que prevê a extinção da FURP — a Fundação para o Remédio Popular, laboratório público que que produz medicamentos de baixo custo para o SUS.
1/13
O governo Tarcísio alega que os resultados financeiros negativos da fundação justificariam o seu fim. O projeto de lei prevê a autorização para vender os edifícios, terrenos e ativos da FURP nas cidades de Guarulhos e Américo Brasiliense.
2/13
As instalações da FURP — sobretudo a unidade de Guarulhos — são há muito tempo cobiçadas pelo mercado imobiliário. O terreno de Guarulhos tem 192.000 m² e está estrategicamente localizado próximo à Via Dutra e à futura estação do Metrô.
Há 2 anos, a Palestina perdia uma de suas maiores artistas. A pintora Heba Zagout foi assassinada por um bombardeio aéreo israelense que destruiu sua casa em Gaza. 2 de seus 4 filhos pequenos também foram mortos no ataque. Leia mais no @operamundi
Heba Zagout nasceu em 14/02/1984 no campo de refugiados de Al-Bureij, na Faixa de Gaza. Ela descendia de uma milhares de famílias expulsas de suas terras durante a “Nakba” — a operação de limpeza étnica conduzida pelas milícias sionistas após a criação do Estado de Israel.
2/22
A família de Heba era proveniente da cidade palestina de Isdud — um povoado milenar, registrado nos textos bíblicos como uma das 5 cidades-estados da Filisteia. Conforme o próprio plano de partilha da ONU, Isdud deveria pertencer aos domínios do Estado Palestino.
Há 20 anos, Lula lançava programa de renovação da frota de petroleiros. O PROMEF fomentou a recuperação da indústria naval do Brasil, que se tornou uma das maiores do mundo e superou a dos EUA — mas foi destruído pela Lava Jato. Leia no @operamundi
A política de desenvolvimento da indústria naval teve início em 1956, com o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. O governo criou o Fundo de Marinha Mercante e investiu no parque naval como parte da política de industrialização e de substituição de importações.
2/25
João Goulart ajudou a consolidar o projeto, visando diminuir as despesas com afretamento de embarcações estrangeiras. Os investimentos na indústria naval eram tão estratégicos que foram mantidos pelos militares após o golpe de 1964.
Há 172 anos, nascia José do Patrocínio. Ele se consagrou como um dos grandes jornalistas do século 19 e foi um dos principais comandantes da luta contra o regime escravocrata, recebendo a alcunha de "Tigre da Abolição". Leia mais no @operamundi
José do Patrocínio nasceu em 09/10/1853 em Campos dos Goytacazes. Era filho do vigário João Carlos Monteiro e de Justina do Espírito Santo, uma jovem escravizada. Seu pai, embora fosse padre, era conhecido pela vida desregrada, repleta de bebidas, jogos e aventuras sexuais.
2/25
Era também um homem poderoso, proprietário de terras e deputado. Justina era uma das muitas pessoas escravizadas pelo padre. Foi entregue a ele como presente de uma fiel da paróquia.
O vigário não reconheceu Patrocínio como filho, mas permitiu que crescesse como liberto.