Os apreciadores de arte moderna certamente se surpreenderam com a matéria ilustrada na capa da Folha de S. Paulo em 7 de março de 2004. O jornal assegurava que uma obra do mestre espanhol Pablo Picasso teria sido descoberto por acaso em uma repartição do INSS em Brasília.
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Ilustrando a matéria de capa, uma foto com ângulo cuidadosamente selecionado para abranger o retrato oficial do presidente Lula no segundo plano. O ex-metalúrgico havia acabado de completar um ano e dois meses no cargo.
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Sob a chamada "Decoração burocrata", a matéria deixava clara a intenção de ressaltar o amadorismo, a ignorância, a falta de cultura do novo governo, suficientemente obtuso para deixar uma obra que valeria milhões de dólares largada em uma repartição pública qualquer.
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"Uma mulher desenhada por Pablo Picasso passa os dias debaixo de luzes fluorescentes e em meio à papelada de uma repartição do governo federal", dizia o texto, que ressaltava duas vezes o fato de que a obra "dividia a moldura com restos de inseto".
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O texto ressaltava a responsabilidade do governo atual pelo desleixo: "Pendurada desde o final do ano passado numa das salas da diretoria do instituto próxima de uma fotografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a mulher de Picasso ainda aguarda um destino melhor."
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A reportagem não disfarçava o elitismo típico manifestado pela imprensa em relação ao governo petista. Um Picasso largado em uma repartição, sem controle de temperatura e umidade, sem os cuidados de um especialista. Que tipo de apedeuta cometeria tal barbaridade?
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A "denúncia" da Folha teve repercussão imediata. Foi tratada com destaque por Estadão, Correio Braziliense, Época, IstoÉ e sites como UOL e Terra. Causou também espanto na Espanha, onde um embasbacado El Mundo informava que havia um Picasso largado em um sótão do Brasil.
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O tom das matérias variava da indignação à ironia cáustica. O cuidado em apontar o despreparo do governo Lula em lidar com a cultura e a arte era inversamente proporcional à diligência dedicada à descrição da obra, indistintamente tratada como pintura, gravura e desenho.
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A mídia acertou ao dizer que a obra era valiosa. De fato é. Intitulado "Mulher em Branco", o quadro foi pintado por Picasso em 1923 e é considerado uma das obras mais famosos da chamada "fase neoclássica". O problema é que essa obra nunca esteve no Brasil.
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A modelo do quadro é Sara Murphy, uma estadunidense expatriada em Paris que Picasso conheceu no Théâtre du Châtelet. A obra "Mulher em Branco" pertence ao acervo do Metropolitan Museum of Art de Nova York, onde se encontra localizada desde 1951.
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O "Picasso do INSS" era apenas uma reprodução sem valor artístico — uma fotografia da obra original com tons esmaecidos, dessas que são vendidas em bancas de jornal e que costumam ser mais baratas do que a própria moldura.
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Vários leitores alertaram a Folha sobre a "barrigada" — incluindo o cineasta Jorge Furtado, que passou 2 anos trocando correspondências com a redação e com o ombudsman. O jornal, entretanto, se negou a reconhecer o erro e seguiu tratando o "Picasso do INSS" como original.
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Diante da insistência de que a obra era um desenho original, Jorge Furtado chegou a realizar uma colagem sobrepondo o "Picasso do INSS" com o Picasso do Metropolitan. A sobreposição perfeita não deixava dúvidas de que se trata de uma reprodução mecânica, como uma foto.
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Em janeiro de 2006, ocorreu um incêndio no prédio do INSS em Brasília. Os bombeiros foram alertados que deveriam entrar no prédio em chamas e arriscar suas vidas para salvar a "valiosa" obra de arte.
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O incêndio que colocou em risco o "Picasso do INSS" foi a justificativa perfeita para mais uma rodada de linchamento político e críticas exaltadas à negligência do governo Lula com o patrimônio cultural da nação. Mas, por sorte, a "obra" sobreviveu ao fogo.
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A Folha seguiu sustentando que o "Picasso do INSS" seria uma obra autêntica por dez anos. Em 2014, entretanto, a narrativa foi magistralmente contestada pelo documentário "O Mercado de Notícias", dedicado à análise crítica do papel do jornalismo. A farsa então ruiu.
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Em 11 de agosto de 2014, mais de dez anos após a denúncia original, a Folha corrigiu sua desinformação e admitiu que o "Picasso o INSS" era apenas uma reprodução mecânica. Todos os 4 especialistas ouvidos pelo jornal e o curador do INSS descartaram a autenticidade da obra.
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Há 82 anos, em 16 de maio de 1943, as tropas alemãs esmagavam o Levante do Gueto de Varsóvia — a maior insurreição judaica contra as forças nazistas ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial. Contamos essa história hoje, no @operamundi
Até o início do século 20, a Polônia abrigava a maior comunidade judaica da Europa. Comparado às outras nações do continente, o país tinha um histórico de relativa tolerância em relação aos judeus, o que estimulou a imigração das populações perseguidas no Leste Europeu.
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Na capital, Varsóvia, a população judaica era estimada em mais de 400 mil pessoas — quase um terço dos habitantes da cidade.
A invasão da Polônia pela Alemanha nazista em setembro de 1939 trouxe enorme apreensão para a comunidade judaica. O medo era plenamente justificado.
15 de maio é o Dia da Nakba, data em que se rememora o processo de limpeza étnica instaurado na Palestina após a criação de Israel — e que resultou na expulsão de 800 mil palestinos e inúmeros massacres. Contamos essa história hoje no @operamundi
A identidade palestina foi moldada ao longo de milhares de anos e reflete a multiculturalidade da região do Levante. Os palestinos descendem de povos que habitavam o Crescente Fértil desde a Idade do Bronze — incluindo os cananeus, que já viviam nessa área há 4.000 anos.
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Ao longo dos séculos, o povo palestino sofreu influência das ondas migratórias e das mudanças políticas no Levante. Inúmeras culturas semitas, nômades e indo-europeias também se estabeleceram na região e vários impérios dominaram a Palestina — dos egípcios aos romanos.
Há 40 anos, a polícia dos EUA bombardeava o bairro afro-americano de Cobbs Creek, na Filadélfia, visando destruir a sede do movimento negro MOVE. A ação resultou na morte de 11 pessoas, incluindo 5 crianças. Contamos essa história no @operamundi
O MOVE é um movimento negro de inspiração anarcoprimitivista, fundado na Filadélfia em 1972 por John Africa (Vincent Leaphart). O grupo combina ideário revolucionário (inspirado nos Panteras Negras e no movimento Black Power), ativismo ambiental e defesa dos animais.
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O MOVE defende um estilo de vida comunitário, critica o capitalismo e a revolução tecnológica e prega a ideia de "regresso à natureza". A exemplo do fundador, os membros do grupo adotam o sobrenome "Africa", em alusão às raízes ancestrais.
Há 105 anos, em 09/05/1920, nascia a revolucionária cubana Celia Sánchez. Estrategista e coordenadora logística da guerrilha, ela exerceu papel fundamental na viabilização da Revolução Cubana. Contamos sua história hoje, no @operamundi
Celia nasceu em Media Luna, uma cidade na província de Oriente, em uma família de classe média alta. Era filha de Acacia Manduley e do médico Manuel Sánchez. A mãe de Celia faleceu quando ela ainda era pequena, deixando 8 filhos.
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A visão de mundo de Celia foi bastante influenciada por seu pai. Liberal humanista e admirador das ideias de José Martí, Manuel costumava atender gratuitamente os pacientes pobres nos grotões de Cuba e criticava energicamente as injustiças sociais no país.
A União Soviética foi o país que mais contribuiu para a derrota do nazismo. Nenhuma outra nação lutou em tantas frentes e venceu tantas batalhas. E o esforço do Ocidente para apagar esse grandioso legado é descomunal. Leia mais no @operamundi
“Sem os Estados Unidos, a libertação nunca teria acontecido”, disse Donald Trump nesta quarta-feira, na véspera do Dia da Vitória — data em que se celebra a rendição incondicional da Alemanha nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.
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A frase de Trump é apenas a adição mais recente a um extenso catálogo de declarações revisionistas que buscam, ao mesmo tempo, apagar o papel da União Soviética na luta contra o regime nazista e exagerar a contribuição dos Estados Unidos e de seus aliados no Ocidente.
Há 133 anos, nascia Josip Broz Tito, um dos maiores líderes socialistas do século XX. Marechal Tito comandou a luta contra o regime nazista nos Balcãs e liderou o governo revolucionário da Iugoslávia. Contamos sua história hoje no @operamundi
Josip Tito nasceu em 7 de maio de 1892 em Kumrovec, na Croácia, à época parte do Império Austro-Húngaro. Envolveu-se ainda jovem com o movimento operário, filiando-se ao sindicato dos metalúrgicos e ao Partido Social-Democrata da Croácia.
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Em 1913, ingressou no Exército Austro-Húngaro, onde galgou rápida ascensão. Após a eclosão da Primeira Guerra, combateu as tropas da Rússia na Frente Oriental. Ferido em combate, foi capturado pelos russos e enviado para um campo de trabalhos forçados nos Montes Urais.