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Feb 10, 2022 10 tweets 4 min read Read on X
Sobre a “liberdade de expressão”:

Em 9 de fevereiro de 1992, o técnico neerlandês Guus Hiddink, treinador do clube espanhol Valencia, notou uma bandeira com uma suástica na torcida, momentos antes do jogo do seu time contra o Albacete.

Disse: ou retiram isso, ou não jogaremos. Imagens da torcida do Albacete antes do jogo contra o Valenc
Valencia e Albacete estavam se aquecendo quando Hiddink percebeu a bandeira pendurada no setor visitante do Estádio de Mestalla.

Na época, porém, isso era relativamente comum nos estádios espanhóis.

A Espanha havia sido uma ditadura de orientação fascista até 1975. Em foto em preto e branco, Guus Hiddink, técnico do Valenci
Na época, a imprensa espanhola noticiou a atitude de Hiddink com espanto.

Matéria do El País dizia que o treinador havia conseguido “o que nem a polícia ou outros torcedores” tinham feito: coibir nazis.

O fato de ser estrangeiro contou muito para que ele não normalizasse aquilo Guus Hiddink, técnico neerlandês, é fotografado por vári
Pior, ele foi criticado por dirigentes do próprio Valencia, que diziam que ele “não tinha que se meter nesses assuntos”. O treinador foi acusado até de estar “querendo aparecer”.

Mas Hiddink disse: “quando vejo essas coisas, não posso me calar (...) É errado permanecer passivo.” O treinador Guus Hiddink em imagem de arquivo dando entrevis
“Atualmente, são grupos pequenos, e acho que não vão fazer nada. Mas, como pessoa, quero tomar partido e rechaçá-los”, afirmou o treinador à imprensa.

Disse ainda que tinha certeza de que muitos jovens “não sabiam de verdade” o que esses símbolos representavam.

Mas ele sabia. Grupo carrega bandeira em estádio espanhol. Trata-se de um
Hiddink nasceu em Varsseveld, cidade dos Países Baixos próxima à fronteira com a Alemanha.

Em setembro de 1944, a cidade foi completamente destruída pelos alemães, que disputavam seu controle com os Aliados.

Seu pai, Gert Hiddink, participou da resistência antinazista. Foto em preto e branco de uma marcha nazista sobre Amsterdã
Professor e futebolista amador, Gert Hiddink escondeu judeus em sua casa, antes que Guus nascesse, em 1946.

Também deu abrigo a paraquedistas britânicos e estadunidenses na cidade, e, mais tarde, recebeu uma medalha das mãos do general Dwight Eisenhower, dos EUA, pelos feitos. Printscreen de documentário sobre o tema mostra foto de Guu
Apesar de Guus Hiddink, a simbologia nazifascista só foi banida dos estádios espanhóis em 2007.

Antes, clubes como o Real Madrid, por exemplo, tinham grupos de torcedores abertamente fascistas como os Ultras Sur. Seus gestos e ações eram despolitizados como “parte do futebol”. Foto da torcida Ultras Sur, grupo de fascistas que se reunia
Agora, notem: o ato de Guus Hiddink completou exatos 30 anos ontem.

Por isso, é inacreditável que o Brasil, graças a deputados, comentaristas da Jovem Pan e podcasters, esteja ainda debatendo em 2022 que esses grupos merecem espaço.

O poço em que entramos parece não ter fundo. Mesa do Flow Podcast, com Igor e Monark à esquerda, e os de
O Copa Além da Copa fala de esporte, política, cultura, história e sociedade.

Se você gosta de enxergar o futebol pra além das quatro linhas, vai gostar do que temos a dizer.

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Feb 11
Seu time tem um patrocinador que paga muito. Mas é um Estado que está cometendo um verdadeiro massacre em outro continente. É possível abrir mão dele?

Arsenal, Bayern e PSG atualmente recebem dinheiro de Ruanda, país que financia o caos na República Democrática do Congo. Andreas Jung, executivo do Bayern, entrega uma camisa autografada do clube a Paul Kagame, presidente de Ruanda
Segundo a ONU, é a Ruanda do presidente Paul Kagame que está por trás do grupo rebelde armado M23.

Há anos, o grupo causa instabilidade na região leste do Congo, mas as coisas escalaram nesse início de 2025, com o M23 tomando Goma, uma cidade com mais de 1 milhão de habitantes. Membros armados do M23, grupo rebelde que domina a região leste do Congo. À frente, um soldado armado com um lança-mísseis
Na semana passada, uma fuga de presos em Goma resultou em mais de 100 prisioneiras estupradas e queimadas vivas, segundo documento interno da ONU publicado pela BBC. O episódio ilustra a escala das atrocidades geradas pelo M23 na região.

Enquanto isso, Kagame investe em esporte. Paramédicos carregam corpo enrolado em lençol após incêndio numa prisão de Goma que deixou mais de uma centena de vítimas
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Feb 6
Tudo que Gianni Infantino e a FIFA queriam pra 2026 era uma Copa do Mundo numa sede mais estável e menos problemática do que o Catar em 2022.

O retorno de Donald Trump complicou essa expectativa.

O primeiro problema está na questão da dificuldade nos vistos pra visitar os EUA. Imagem de Trump desfocado em primeiro plano e o troféu da Copa do Mundo ao fundo
Obter um visto estadunidense nunca foi fácil e o tempo de espera para consegui-lo aumentou com Joe Biden, chegando a até 330 dias em algumas embaixadas e consulados.

É um problema, porque os ingressos pra Copa começarão a ser vendidos só nos meses finais de 2025. Fila para tirar o visto numa embaixada dos Estados Unidos
Cidadãos de 42 países, entre os quais França, Japão e Austrália, podem visitar os EUA por 90 dias sem vistos. Mas brasileiros e colombianos, por exemplo, que estiveram no top 3 de países que mais compraram ingressos pra Copa da Rússia, precisam de visto.

Aí, entra o fator Trump. Torcedores colombianos com uma única camisa com a palavra "COLOMBIA" na torcida na Rússia 2018
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Feb 3
Escândalo na NFL: uma série de e-mails vazados revelou que a diretoria do New Orleans Saints esteve em contato direto com a arquidiocese da cidade e auxiliou na defesa de diversas acusações de abuso sexual contra menores.

New Orleans sedia no domingo o Super Bowl. Imagem é uma vista aérea da cidade de New Orleans com o Super Dome, estádio dos Saints, em destaque, iluminado de roxo.
Os e-mails indicam que, sabendo que nomes de vários clérigos envolvidos em abuso sexual infantil seriam divulgados pela imprensa, a arquidiocese de New Orleans pediu ajuda à diretoria dos Saints.

Os membros da diretoria treinaram líderes da igreja em como lidar com a imprensa. Imagem mostra um grupo de homens sentado enquanto outro homem em pé aperta as mãos de um deles.
Membros da diretoria também tiveram acesso à lista de nomes antes dela chegar à imprensa, da qual removeram alguns clérigos "importantes".

O presidente do time, Dennis Lauscha, treinou um arcebispo com várias perguntas que ele deveria estar preparado para responder. Imagem mostra Dennis Lauscha, presidente dos Saints, conversando com Gayle Benson, dono do time, em uma tribuna.
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Jan 29
Um quarteto improvável apareceu junto em uma foto tirada em Roma, no último sábado.

Veronica Berti, esposa do cantor Andrea Bocelli, Kimbal Musk, irmão mais novo de Elon, Matteo Salvini, ministro dos transportes italiano, e Gianni Infantino. Imagem mostra, em ordem, Veronica Berti, Kimbal Musk, Matteo Salvini e Gianni Infantino. Eles estão à frente de mapas, bandeiras e porta-retratos, Salvini segura uma flâmula.
A princípio, o que mais nos interessa na imagem é Kimbal Musk e Gianni Infantino.

Infantino esteve na posse de Donald Trump, onde disse que "juntos, faremos não só a América grande de novo, mas todo o mundo, porque o futebol une as pessoas". Imagem mostra Gianni Infantino em um aperto de mãos com Donald Trump
Kimbal Musk se encontrou com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, mas não falou quais assuntos foram tratados.

Depois, ele e Matteo Salvini ganharam flâmulas personalizadas das mãos de Infantino. Imagem mostra Kimbal Musk segurando uma camisa 10 com seu nome ao lado de Gianni Infantino, que segura uma flâmula.
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Jan 22
4 de dezembro de 1935. White Hart Lane, o estádio do Tottenham, clube com muitos torcedores judeus, recebe um visitante indigesto: a Alemanha nazista.

O amistoso entre Inglaterra e Alemanha daquele dia teve muitas suásticas e muitos protestos. Imagem mostra um grupo de pessoas vestindo ternos e roupas formais em uma arquibancada lotada fazendo a saudação nazista.
A Alemanha já tinha proibido em 1935 casamento e relações sexuais entre judeus e "pessoas com sangue alemão", e as intenções de Adolf Hitler já começavam a ficar claras.

O conhecimento de que o esporte era uma ótima ferramenta política crescia rapidamente. Imagem é uma capa do The Sun de 1935 com a manchete "Hitler tira direitos de cidadania dos judeus, proibe casamentos interraciais".
A FA, Federação Inglesa de Futebol, afinal, acreditava que o futebol nunca deveria se misturar com a política.

A situação política da Alemanha não interessava, apenas o que acontecesse dentro das quatro linhas. Imagem é um lance da partida entre Inglaterra e Alemanha em White Hart Lane.
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Jan 17
Estados Unidos e Venezuela se enfrentam amanhã em um amistoso em Fort Lauderdale, na Florida.

Não estamos em uma data FIFA, o que torna o jogo ainda mais político. Imagem mostra um jogador da Venezuela, de branco, e um dos EUA, de vermelho, disputando uma bola em um gramado.
O 2024 da seleção venezuela foi uma montanha russa.

A equipe chegou a ficar na zona de classificação direta para a Copa do Mundo de 2026 e fez brilhante campanha na Copa América, disputada também nos EUA. Caiu invicta, nas quartas de final. Imagem mostra três jogadores da Venezuela abraçados comemorando um gol, eles vestem a tradicional camisa vinho do país.
Na Copa América, a seleção foi seguida por uma legião de torcedores. Há muitos venezuelanos que moram nos EUA, e a maioria é opositora de Nicolás Maduro.

Assim, seguir a seleção também era algo muito político às vésperas da eleição presidencial. Imagem mostra um grupo de torcedores da Venezuela com bandeiras e faixas do país.
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