Em resposta às sanções internacionais, Putin sugeriu a possibilidade de um ataque nuclear para defender os interesses russos.
Há alguma chance disso ocorrer?
Quais as consequências de um ataque?
Um ataque nuclear a milhares de quilômetros poderia ameaçar a sua vida?
Conto aqui:
Há aproximadamente 13.080 ogivas nucleares no mundo.
A Rússia detém o maior número de armas nucleares: 5.977 ogivas.
Os EUA aparecem na segunda posição, com 5.428.
China (350), França (290), Reino Unido (225), Paquistão (165), Índia (160) e Israel (90) vêm na sequência.
Fez a conta? Mais de 90% das ogivas nucleares no mundo estão sob o controle de duas nações: a Rússia e os Estados Unidos.
Sempre foi assim. E estes números já foram bem maiores no passado.
Um ataque nuclear, em 2022, poderia ser bem diferente do que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Isso porque há uma consistente evolução do poder de destruição dos armamentos nucleares.
Um estudo aponta que uma guerra nuclear entre Rússia e Estados Unidos poderia gerar 91,5 milhões de baixas logo nas primeiras horas, com mais de 34 milhões de mortes.
Essa é a razão por que o ataque nuclear é a última opção das superpotências.
Se a Rússia lançar um ataque nuclear a um país da OTAN, haverá ataques nucleares de retaliação de outras nações da OTAN - um círculo vicioso.
A Rússia assume que só fará uso desta opção caso atacada.
A detonação de "apenas" 100 ogivas nucleares - menos de 1% da capacidade global - poderia matar 2 bilhões de pessoas, de acordo com a International Physicians for the Prevention of Nuclear War. Uma catástrofe apocalíptica.
Mas como isso aconteceria?
Em primeiro lugar, Biden não tem um botão nuclear. Tem uma maleta nuclear.
Ela segue o presidente em todos os lugares - da Casa Branca ao Air Force One.
Biden também tem um cartão conhecido como “biscoito”. É ele que autentica os códigos necessários para um ataque nuclear.
Há rumores de que Jimmy Carter enviou, sem querer, o tal "biscoito" para a lavanderia. timeline.com/jimmy-carter-o…
Carregar a pasta é um trabalho compartilhado entre cinco auxiliares militares, um de cada ramo das Forças Armadas dos EUA.
Há um manual dentro da maleta. Com ele, o presidente escolhe quais cidades ou instalações militares pretende atacar.
A Rússia tem diferentes meios de usar suas armas nucleares - em terra, ar e mar - com mísseis balísticos de curto, médio e longo alcance podendo atingir qualquer nação.
Seu míssil balístico Yars, por exemplo, supostamente pode transportar até 10 ogivas e viajar por 12.000 km.
É difícil imaginar, intuitivamente, como seria o efeito de um ataque nuclear em 2022.
Alex Wellerstein, no entanto, um historiador nuclear, criou um site chamado Nukemap que permite aos usuários “jogar” uma bomba e entender os seus efeitos.
Se Rússia e EUA lançassem uma guerra nuclear total, isso significaria um desastre para toda a humanidade.
Não apenas explosões, incêndios e exposição à radiação matariam milhões de seres humanos nas cidades-alvo, como o mundo entraria num "inverno nuclear".
O estudo usa modelos climáticos (evidentemente imperfeitos) para calcular os efeitos das explosões no meio ambiente.
Quando uma bomba nuclear explode, à medida que os incêndios se espalham, a fumaça atinge a atmosfera.
Enquanto a chuva carrega uma parcela dessa fumaça, grande parte dela vai parar na estratosfera, acima das nuvens, bloqueando o acesso ao sol.
Numa guerra nuclear total, um manto de fuligem cobriria todo o planeta dentro de duas semanas e não se dissiparia por uma década.
Levaria 3 anos para a luz da superfície retornar a 40% de seu nível pré-ataque.
As temperaturas cairiam, em média, 9 graus celsius em todo o mundo.
Durante anos, as colheitas murchariam em todo o planeta. A fome se instalaria rapidamente.
Um inverno nuclear também alteraria drasticamente a química dos oceanos e dizimaria parte importante dos ecossistemas marinhos.
Secas e inundações assolariam a humanidade.
As reservas de grãos acabariam em um ou dois anos, gerando a maior fome da história. Mesmo num conflito pequeno, o impacto na produção global de alimentos poderia ser devastador. A desordem social seria absoluta.
Uma guerra nuclear provavelmente não extinguiria a humanidade. Mas atingiria tragicamente a vida de cada ser humano. É por essa razão que não é uma carta colocada à mesa.
Apenas um tirano paranoico, megalomaníaco, em desespero, aceitaria ver o seu próprio país dizimado.
Putin indica que está apenas respondendo às sanções econômicas impostas pelos EUA e a União Europeia, bem como "declarações agressivas em relação ao nosso país".
Isso inclui um terror psicológico que o mundo não vê desde o fim da Guerra Fria.
Oficialmente, Moscou diz que pode usar a opção nuclear:
1. quando mísseis atingirem a Rússia ou um país aliado, 2. em resposta a um ataque nuclear, 3. em resposta a um ataque a uma instalação nuclear russa, 4. em resposta a um ataque que ameace a existência do Estado russo.
Um ataque nuclear russo é altamente improvável, a menos que Rússia e OTAN entrem em confronto militar direto e a Rússia esteja perdendo.
Essa é a razão por que o Ocidente evita defender, com soldados, a Ucrânia. Isso poderia produzir uma versão nuclear da Guerra Mundial.
Putin provavelmente está fazendo ameaças para assustar o Ocidente e conseguir concessões.
Mas caso a OTAN entre neste conflito, com suas forças militares, evitar a escalada nuclear seria um imenso desafio à humanidade.
Para encerrar esta thread, a dica de filme é "Dr. Fantástico", de Stanley Kubrick, de 1964. Peter Sellers promove aqui a melhor atuação de um comediante que já assisti no cinema.
As guerras não são apenas tragédias monumentais - assim como os tiranos, também são risíveis.
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Nesse final de semana haverá eleições na Alemanha.
Eu preparei essa thread sobre a Alternativa para a Alemanha, para que, daqui a um tempo, você não seja pego de surpresa sobre quem manda na AfD:
Em abril de 2024, a justiça da República Tcheca anunciou o congelamento dos bens de dois homens acusados de dirigir uma operação de influência para a Rússia na Europa. Os seus nomes eram Viktor Medvedchuk e Artem Marchevsky.
Se você acha que a Rússia não é uma ameaça à segurança mundial, e que todas as acusações recentes contra Moscou não passam de propaganda, russofobia ou histeria, você definitivamente precisa se informar melhor.
Aqui embaixo, revelo por que você está errado:
Nessa semana, publiquei essa thread, em que conto como a inteligência de diferentes nações europeias detecta a ambição russa de atacar países membros da OTAN nos próximos anos – o que poderia provocar uma guerra aberta na Europa.
Nela, disse que a principal ambição política de Vladimir Putin é a restauração dos territórios perdidos na dissolução da União Soviética. cambridge.org/core/journals/…
Putin lamenta repetidas vezes a derrocada da condição imperial russa, e chama a dissolução da União Soviética de “maior tragédia geopolítica do século”. nbcnews.com/id/wbna7632057
Ele entende que esse foi um processo de “desintegração da Rússia histórica sob o nome de União Soviética”. reuters.com/world/europe/p…
Abandonar a Ucrânia não é uma opção para a Europa. O risco de realizar esse movimento é a história se repetir e outros países europeus serem engolidos pela ambição de um ditador imperialista.
Qual a chance disso acontecer e por que isso é tão importante?
Conto aqui embaixo:
Nesse final de semana, numa entrevista para a Economist, Zelensky acusou Moscou de trabalhar na formação de 10 a 15 divisões militares, com mais de 100 mil soldados, com a intenção de enviá-los à Bielorrússia para atacar um país-membro da OTAN.
Você provavelmente já sabe o que é o TikTok, então não preciso perder muito tempo explicando.
Mas de forma resumida: o TikTok nasceu em 2016, como um app para gravar e compartilhar vídeos com sincronização labial. Nada muito revolucionário, mas sucesso imediato.
O conteúdo evoluiu bastante desde então – das dancinhas às análises políticas.
No passado, ele só existia na versão chinesa, chamada Douyin (抖音). Até hoje o Douyin é o aplicativo disponível na China.
Sim, são dois apps. Douyin e TikTok pertencem à mesma empresa, são praticamente a mesma coisa, mas os seus conteúdos são completamente diferentes.
O TikTok que você conhece é bloqueado na China.
Douyin e TikTok são da chinesa ByteDance.
A ByteDance foi fundada pelo chinês Zhang Yiming. Em 2024, Yiming virou o homem mais rico da China. bbc.com/news/articles/…