Às mulheres com filhos é esperado que continuem a trabalhar como se não os tivessem e que sejam mães como se essa fosse a sua ocupação a tempo inteiro. #DiaInternacionaldaMulher
Nas entrevistas de emprego tens de omitir a existência de filhos para não correres o risco de estes serem um fator que te impeça de ficar com o trabalho. Dá também jeito não estar nos 30s, não vá o empregador temer que possas vir a querer engravidar a curto ou médio prazo.
No emprego as horas de trabalho inflexíveis não são compatíveis com horários da creche ou da escola, com atividades extracurrículares, com calendários escolares ou com a saúde das crianças pequenas que tantas vezes estão doentes.
Se estás grávida lembra-te que é esperado que trabalhes até parir - a gravidez não é doença, por isso estar grávida ou não estar é igual. Se surgir uma baixa por gravidez de risco dá jeito se puderes ajudar em alguma coisa no trabalho a partir de tua casa, "não custa nada".
Se arranjaste emprego há pouco lembra-te que não podes engravidar já. Se tens mais do que um filho espera ouvir no local de trabalho comentários sobre a tua vida sexual e piadas sobre contracetivos.
Espera que te pressionem para não usufruir da redução horária até aos 12 meses do teu filho. Se seguirem a lei prepara-te para comentários sobre privilégios. Se continuares a amamentar após o primeiro ano de vida do teu filho prepara-te para perguntas sobre desmame.
Dependendo do emprego, é possível que te pressionem a aceitar turnos de trabalho de noite ou ao fim de semana, sob ameaça de despedimento. Noutros, é esperado que leves o trabalho para casa e estejas contactável a qualquer hora da noite. Os teus filhos podem esperar.
Lembra-te que não és uma pessoa que tem de conjugar uma dupla ou tripla jornada de trabalho, és sim uma pessoa menos comprometida com o seu emprego e carreira, e como tal uma trabalhadora com a qual não se pode contar e que inventa desculpas.
Consequentemente, é possível que te sejam passados trabalhos "menores", que as promoções te passem ao lado ou até que te coloquem numa função a partir da qual não poderás subir.
Chegada a hora de despedir trabalhadores, não é por isso surpreendente que as mães de filhos pequenos sejam das primeiras na lista de trabalhadores a despachar. Uma equipa sem mães ou trabalhadores com filhos pequenos é preferível.
Para muitos é esperado que tu faças tudo - trabalho remunerado, trabalho reprodutivo e trabalho doméstico -, e se não o fizeres estás a falhar, não és boa mãe, não és boa trabalhadora, não és suficientemente ambiciosa, arranjas desculpas.
As mulheres mães e as mulheres que cuidam trabalham e ainda trabalham depois do seu trabalho. Fazem-no de graça e ainda vivem com uma permanente culpa de não conseguirem fazer aquilo que ser humano algum consegue: fazer tudo, fazê-lo bem, fazê-lo sem exaustão.
Feliz dia da mulher a todas, sobretudo às mães trabalhadoras!
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Uma thread sobre a mulher sem abrigo que pariu junto ao lixo e abandonou o filho no ecoponto para morrer só pode começar com o óbvio: trata-se de um gesto horrível e deve ser julgada por condenar um recém nascido a uma morte praticamente certa.
Valeu ao bebé outro ser humano numa situação também miserável. Não fosse aquele homem sem abrigo ter vasculhado o lixo e o bebé estaria morto. Talvez nem tivéssemos conhecimento da sua história.
Mas o que leva alguém de 22 anos a ser sem abrigo? Há quanto tempo estaria nas ruas e o que a levou até lá? Adições? Problemas de saúde mental?