"Quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Quem foi para os Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos. Era um outro perfil de colono."
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Essas palavras foram proferidas por Deltan Dallagnol, Procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, durante uma palestra realizada em uma Igreja Batista, em fevereiro de 2016.
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A afirmação é um excelente exemplo da mentalidade colonizada que impera em amplos segmentos da sociedade brasileira, forjada a partir da mistura do complexo de vira-lata com a americanofilia inflamada e doses cavalares de puritanismo e crença no excepcionalismo americano.
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E a julgar por suas ações desde o ingresso no Ministério Público Federal (MPF), Deltan talvez estivesse convencido de que a sua missão era servir a pátria dos "puritanos excepcionais". Deltan esteve à frente da força-tarefa da Operação Lava Jato desde 2014 a 2021.
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Criada meses após o escândalo da espionagem praticada pelos serviços de segurança dos EUA contra o Brasil, a operação deixou um rastro de devastação nas contas públicas, aniquilando as indústrias naval e de construção civil e desempregando 4,4 milhões de pessoas.
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Um estudo do DIEESE estima que a Lava Jato fez o Brasil perder R$ 172 bilhões em investimentos — 40 vezes o valor recuperado pela operação. Beneficiou, entretanto, as corporações estadunidenses, que tomaram mercados que as companhias brasileiras vinham conquistando.
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A operação teve consequências devastadoras. Insuflou a queda de Dilma, ensejou a prisão política de Lula, consolidou a ascensão do bolsonarismo e a adoção de uma política econômica de subordinação inconteste ao capital internacional e renúncia à soberania brasileira.
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Não causa espanto, portanto, que os Estados Unidos tenham buscado estabelecer o que o procurador estadunidense Kenneth Blanco definiu como "um relacionamento íntimo que desprezava procedimentos formais" com os membros da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
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Admirador da "pureza cristã" estadunidense, Deltan serviu de ponte a esse intercâmbio, contribuindo secretamente com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) e facilitando a investigação conduzida pelos estadunidenses contra as empresas brasileiras.
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Após uma visita a Washington em 2015, Deltan recepcionou na sede do MPF uma delegação de 17 estadunidenses composta por procuradores do DOJ e agentes do FBI. As reuniões duraram 4 dias e incluíram repasse de informações sensíveis sobre a Petrobras e empresas brasileiras.
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A colaboração é irregular. O repasse de informações a autoridades estrangeiras precisa do aval do Ministério da Justiça, que sequer foi informado sobre a visita. O procurador Vladimir Aras advertiu Deltan acerca dos empecilhos legais, mas a colaboração ocorreu mesmo assim.
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Em uma conversa com Aras, Deltan explicou seu plano: repassar informações úteis aos investigadores estadunidenses antes que firmassem acordos de delação, de modo a assegurar o controle de parte dos recursos da multa que seria paga pela Petrobras aos EUA.
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Fiel à concepção weberiana da ética protestante, Deltan mostrou seu tirocínio para os negócios. Após fornecer ilegalmente subsídios para que os EUA aplicassem uma multa bilionária à Petrobras, o procurador articulou um esquema para obter o controle sobre parte da multa.
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Dos 3,5 bilhões de reais que a Petrobras pagou ao governo dos EUA, 2,5 bilhões deveriam ser repatriados para o Brasil. Deltan tentou retardar a devolução dos valores, pois planejava usar a verba para financiar uma fundação voltada ao "combate à corrupção".
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Tal fundação ficaria sob tutela da força-tarefa da Lava Jato, que utilizaria o dinheiro para, por exemplo, pagar por palestras e cursos proferidos por autoridades envolvidas no "combate à corrupção", tais como... os procuradores da própria força-tarefa da Lava Jato!
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"Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, escreveu Deltan para sua esposa, apresentando em seguida a expectativa de lucro em 2018: "Total líquido das palestras e livros daria uns 400 mil".
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Criticado pela Procuradoria Geral e pelo STF, o plano foi abortado. Deltan, entretanto, seguiu colaborando com o DOJ. Chegou até mesmo a incentivar os agentes de Washington a conduzirem depoimentos diretamente nos EUA, de modo a contornar as salvaguardas da lei brasileira.
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Deltan também se ofereceu a pressionar delatores a viajarem para os EUA para prestarem esclarecimentos sem salvo-conduto. Mensagens vazadas da Lava Jato mostraram que o ex-juiz Sergio Moro também recebia orientações e trocava informações com procuradores estadunidenses.
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Arquivos da Operação Spoofing mostram, por exemplo, Moro instruindo Deltan a entrar em contato com procuradores dos EUA para obter instruções sobre uma quebra de sigilo de um executivo ligado a um estaleiro que tinha contratos com a Petrobras.
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Posteriormente, quando ocupou o cargo de Ministro da Justiça no governo Bolsonaro, Moro assinou uma série de acordos com o FBI, dando aos EUA acesso irrestrito aos dados biométricos brasileiros e o direito de inserir agentes estrangeiros nos nossos centros de inteligência.
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A colaboração com os EUA foi fundamental para a construção das acusações contra Lula. A Lava Jato recebeu ilegalmente dos agentes estadunidenses evidências do "caso Odebrecht" utilizadas para sugerir a participação de Lula em esquemas de corrupção.
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A Lava Jato pretendia justificar a quebra do sigilo fiscal dos familiares do ex-presidente sem a observância do devido processo legal. Esses procedimentos não apenas foram ocultados da defesa de Lula, como também sonegados dos autos originais do processo.
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O nome de Lula, portanto, não surgiu como evidência durante as investigações. Lula já era um alvo pré-definido e a Lava Jato passou a promover operações com o objetivo de implicá-lo em atos de corrupção através do uso de delações forçadas por ameaças de punição legal.
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Não por acaso, os procuradores da Lava Jato comemoraram efusivamente a ordem de prisão expedida contra Lula em abril de 2018. Conforme registrado nas mensagens, Deltan era um dos mais animados: "Meooo caneco. Não dá nem pra acreditar. Melhor esperar acontecer".
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Respondendo à mensagem da procuradora Laura Tessler sobre comemorar a prisão de Lula, Deltan afirma que não estaria no país. E finaliza a conversa pontuando, debochadamente, que a prisão de Lula seria um "presente da CIA".
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Há 66 anos, o general Lott esmagava a Revolta de Aragarças, levante golpista contra o governo de Juscelino Kubitschek. A revolta foi conduzida por militares que já tinham tentado um golpe 3 anos antes, mas receberam anistia. Leia no @operamundi
Candidato à presidência pelo PSD na eleição de 1955, Juscelino Kubitschek (JK) se apresentou ao eleitorado como herdeiro político de Getúlio Vargas, prometendo trazer ao Brasil “50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato”.
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JK conseguiu herdar os votos de Vargas e foi eleito presidente. O mesmo ocorreu com João Goulart, ex-Ministro do Trabalho de Vargas, que foi eleito como vice em votação separada.
Mas, ao mesmo tempo, JK e Goulart também herdaram a fúria do antigetulismo.
O Ministério Público de Milão anunciou abertura de uma investigação formal contra cidadãos italianos suspeitos de terem participado de "safáris humanos" durante a Guerra da Bósnia. Os turistas europeus pagavam até R$ 600 mil para matar civis por diversão.
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O caso ocorreu durante o Cerco de Sarajevo, episódio dramático da Guerra da Bósnia, que se estendeu de 1992 a 1996. Considerado um dos mais violentos cercos militares do século 20, a ofensiva contra a capital bósnia deixou cerca de 12.000 mortos e 60.000 feridos.
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Conforme a denúncia, o serviço era ofertado pelo exército sérvio-bósnio, chefiado por Radovan Karadzic, preso desde 2008. O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia o condenou a 40 anos de prisão por genocídio e crimes contra a humanidade.
Está avançando na Assembleia Legislativa de São Paulo o PL 49/2025, oriundo da base de apoio do governador Tarcísio de Freitas, que prevê a extinção da FURP — a Fundação para o Remédio Popular, laboratório público que que produz medicamentos de baixo custo para o SUS.
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O governo Tarcísio alega que os resultados financeiros negativos da fundação justificariam o seu fim. O projeto de lei prevê a autorização para vender os edifícios, terrenos e ativos da FURP nas cidades de Guarulhos e Américo Brasiliense.
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As instalações da FURP — sobretudo a unidade de Guarulhos — são há muito tempo cobiçadas pelo mercado imobiliário. O terreno de Guarulhos tem 192.000 m² e está estrategicamente localizado próximo à Via Dutra e à futura estação do Metrô.
Há 2 anos, a Palestina perdia uma de suas maiores artistas. A pintora Heba Zagout foi assassinada por um bombardeio aéreo israelense que destruiu sua casa em Gaza. 2 de seus 4 filhos pequenos também foram mortos no ataque. Leia mais no @operamundi
Heba Zagout nasceu em 14/02/1984 no campo de refugiados de Al-Bureij, na Faixa de Gaza. Ela descendia de uma milhares de famílias expulsas de suas terras durante a “Nakba” — a operação de limpeza étnica conduzida pelas milícias sionistas após a criação do Estado de Israel.
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A família de Heba era proveniente da cidade palestina de Isdud — um povoado milenar, registrado nos textos bíblicos como uma das 5 cidades-estados da Filisteia. Conforme o próprio plano de partilha da ONU, Isdud deveria pertencer aos domínios do Estado Palestino.
Há 20 anos, Lula lançava programa de renovação da frota de petroleiros. O PROMEF fomentou a recuperação da indústria naval do Brasil, que se tornou uma das maiores do mundo e superou a dos EUA — mas foi destruído pela Lava Jato. Leia no @operamundi
A política de desenvolvimento da indústria naval teve início em 1956, com o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. O governo criou o Fundo de Marinha Mercante e investiu no parque naval como parte da política de industrialização e de substituição de importações.
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João Goulart ajudou a consolidar o projeto, visando diminuir as despesas com afretamento de embarcações estrangeiras. Os investimentos na indústria naval eram tão estratégicos que foram mantidos pelos militares após o golpe de 1964.
Há 172 anos, nascia José do Patrocínio. Ele se consagrou como um dos grandes jornalistas do século 19 e foi um dos principais comandantes da luta contra o regime escravocrata, recebendo a alcunha de "Tigre da Abolição". Leia mais no @operamundi
José do Patrocínio nasceu em 09/10/1853 em Campos dos Goytacazes. Era filho do vigário João Carlos Monteiro e de Justina do Espírito Santo, uma jovem escravizada. Seu pai, embora fosse padre, era conhecido pela vida desregrada, repleta de bebidas, jogos e aventuras sexuais.
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Era também um homem poderoso, proprietário de terras e deputado. Justina era uma das muitas pessoas escravizadas pelo padre. Foi entregue a ele como presente de uma fiel da paróquia.
O vigário não reconheceu Patrocínio como filho, mas permitiu que crescesse como liberto.