A análise somente por múltiplos de uma cia é superficial. Mas tem um múltiplo que eu gosto muito!
Ben Graham dizia: "Você não precisa saber o peso exato de um homem, para saber se ele é gordo."
Nesse fio, te ajudo a descobrir se a cia é gorda, sem saber seu peso exato 🧵
Mas antes de chegar no múltiplo, precisamos de uma breve introdução sobre o quanto vale uma empresa.
Aquela vela história de que ela vale os fluxos de caixa que vai gerar ano a ano no futuro, somados e descontados por uma taxa de retorno.
Pois é, essa história é verdade!
Se uma cia vale a soma de seus fluxos de caixa, então meu múltiplo favorito parte daí, do fluxo de caixa.
O Free Cash Flow Yield (FCFY) é quanto o fluxo de caixa livre de uma empresa representa de seu valor de mercado, num ano específico.
Assim, se uma empresa tem 100 ações, a $10 cada, seu valor de mercado é $1.000.
Se no ano ela gerou $100 de fluxo de caixa livre, seu FCFY é 10%. Isso quer dizer que em 1 único ano ela gerou 10% de seu valor de mercado em grana para os acionistas.
Mas e aí, isso é bom?
Isso quer dizer que em 10 anos (sem crescimento), a cia vai gerar de retorno o que ela vale hoje.
Logo, quanto maior o FCFY, menos tempo ela vai precisar para devolver ao acionista seu valor de mercado em retorno.
Ou, quanto maior o FCFY, mais gorda a cia está!
Fácil, né?
Mas como achar essa diacho de FCFY? Afinal nenhum site mostra isso.
Certo, nenhum site gratuito calcula isso pra você e deixa lá de bandeja. Mas vou te ensinar a calcular sozinho, usando o @fundamentus
No exemplo, vamos usar a #WEGE3, que é uma queridinha do mercado.
Como vamos comparar com o valor de mercado da cia, precisamos, antes, achar o Fluxo de Caixa Livre para o Acionista (FCFE).
É bem simples.
A fórmula é LL + λ( -Capex+Depreciação-Variação do Capital de Giro).
Calma, não vai embora que vou explicar cada um!
O primeiro é fácil, LL ou Lucro Líquido. Ele é basicamente o que sobra pra cia, depois dela pagar todos as despesas e custos da operação.
Aí inclusos matéria prima, folha, impostos, empréstimos, etc.
No caso da WEGE foi $3.586 (em milhões), em 2021.
O segundo, que parece uma runa (λ), é o chamado fator lambda. Ele define a proporção de capital de sócio e de credor numa empresa, chamada de estrutura de capital.
É muito fácil achar. Basta buscar o Patrimônio Líquido (PL) da WEGE e dividir por PL + Dívida Bruta.
A Dívida Bruta é basicamente o capital do credor, enquanto o PL é o capital que os acionistas investiram na cia, para começar as operações.
No caso da WEGE, essa proporção dá 0,88. Isso quer ela tem pouca dívida e que o fator λ é 0,88.
Ele existe porque a gente tá tentando achar o que de investimento e capital de giro e depreciação sai do bolso só do acionista, lembra?
Se a gente tirar 100% desses valores do LL, a gente vai tá tirando dinheiro dos credores também. Por isso é importante multiplicar tudo pelo λ
O terceiro é o CAPEX, que é um nome chique pra designar os investimento da WEGE, seja abrindo novas fábricas, comprando novas máquinas.
Como é um dinheiro que precisa ser investido na cia, a gente subtrai ele do LL.
Lá no site é só você clicar em Gráficos >> Fluxo de Caixa.
No gráfico de CAPEX, você já vai achar junto a Depreciação.
No caso da WEGE, em 2021, temos $800 de CAPEX e $500 de Depreciação.
Anota esse números em uma planilha e lembra que tá em milhões viu!
Mas se o CAPEX é diminuído, por que a Depreciação é somada?
Simples: porque a depreciação não tem efeito caixa. Ela é uma despesa sem saída de dinheiro.
Se não saiu dinheiro e a gente quer descobrir quanto tem de dinheiro sobrando, temos que somar a Depreciação.
Falta achar, agora, a Variação de Capital de Giro!
A empresa precisa de dinheiro pra fazer a roda girar.
Comprar coisas, transformar essas coisas e depois vender.
O problema que pra fazer isso ela precisa de dinheiro, que ela só conseguiria depois de vender os produtos. No nosso caso, motores!
Receber esse dinheiro demora! Por isso ela tem que separar uma parte que tem a única função de fazer a roda girar.
Esse dinheiro é o famoso: Capital de Giro.
Ele funciona como um adiantamento. Se tudo der certo, ela vende os produtos e consegue a grana de volta + lucro.
É por isso que caso uma empresa não cresça de um ano pro outro, ela não precisa de mais capital de giro.
Afinal, ela vai vender o que comprou e comprar as mesmas coisas de novo no ano seguinte.
O problema é que praticamente todas as empresas querem crescer.
E aí sim, pra crescer, elas vão precisar de mais capital de giro. Se o capital de giro aumenta, a gente precisa considerar essa variação.
De onde vem o dinheiro pra bancar essa variação do capital de giro? Bom, pode vir de empréstimos ou do lucro! Por isso a gente subtrai.
A conta fácil para descobrir o Capital de Giro, é pegar o Ativo Circulante e subtrair dele o Passivo Circulante.
Pra achar isso, você vai em Dados Histórico, Balanços em Excel.
Lembra que a gente quer é a variação de um ano pro outro?
Então é só fazer a conta acima pra 2020 e 21. Depois subtrair o resultado de 2020, do valor achado para 2021.
No caso da WEGE, essa variação foi de $808.
Agora que temos todos os números, basta jogar tudo na planilha pra encontrar o FCFE e voila:
O FCFE da WEGE em 2021 foi $ 2.421.
Teoricamente precisaríamos somar a variação da dívida aí. Mas considerando que nosso λ não vai mudar, essa variação não mudaria muita coisa.
O valor de mercado da #WEGE3 está próximo de $ 138.008. Se dividirmos o FCFE que achamos pelo valor de mercado, chegaremos a um FCFY de 1,75%.
Bem baixo. Ou seja, parece que a WEGE anda meio magra.
Como regra de bolso, considere valores acima de 5% como bons valores.
Ok, ficou gigante essa thread, maior que eu gostaria.
Mas saber quanto de fluxo de caixa uma cia gera e comparar isso com seu valor de mercado, já te coloca uma passo a frente de analisar só múltiplos.
Mas a cereja do bolo é descobrir o FCFY projetado! Assunto pra depois...
TL;DR
1. Ache o Lucro Líquido; 2. Ache o fator λ (PL/PL+DB) 3. Subtraia o CAPEX * λ 4. Some a Depreciação * λ 5. Subtraia a Variação do Capital de Giro * λ 6. Chegou no FCFE? Divida pelo Valor de Mercado. 7. O FCFY é maior que 5%? Sinal de sobrepeso!
Se gostou, retuíte!
Agora, você quer uma análise mais detalhada da empresa e saber o peso de WEGE?
Só seguir as instruções desse tweet do @vowtz aí, pra receber o relatório de valuation completo da empresa.
Agora, leia esse excelente fio do professor @GCasaroes pra entender que não existem mocinhos e bandidos e as diferentes teorias que fundamentam as diversas posições especializadas pelo globo.
Gostei tanto do Expectations Investing que eu estava aplicando o método às minhas análises.
O problema era ficar achando projeções muito longas, 15+ anos toda hora. Fiquei na dúvida e quis confirmar se eu estava fazendo certo.
O que fiz?
Perguntei direto pro autor!
Recebi a resposta em menos de 10 minutos com um bônus. Afinal, outra parte difícil é atribuir probabilidades aos diferentes cenários de crescimento dos drivers de valor (receita, margens, etc).
Ai ele me mandou um paper de 150 páginas sobre o assunto, do Credit Suisse!
Moral da história:
🔹Analisar empresas é simples, mas não é fácil! Vai exigir dedicação.
🔹Tem muita gente entregando conteúdo de extrema qualidade e sendo bastante acessível, @mjmauboussin é um deles. Aproveite essa galera na sua jornada como investidor!
Não, não é o nome de uma ópera. Mas de uma mansão localizada na Riviera Francesa, que vale quase $1 bi e foi construída em terras que já foram do Rei Leopoldo II da Bélgica.
Foi aqui que Bill Browder conseguiu seu investidor ancora, ninguém menos que: Edmond Safra!
Se você não sabe quem é Bill Browder, dá uma lida na primeira thread que eu fiz sobre ele, pra pegar o contexto: