Há 78 anos, em 7/5/1944, nascia a militante marxista Iara Iavelberg, integrante da luta armada contra a ditadura. Iara atuou em diversas organizações revolucionárias e foi companheira de Lamarca, com quem se relacionou até ser assassinada por agentes da ditadura em 1971.
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Iara Iavelberg nasceu em São Paulo, em uma família afluente de origem judaica. Casou-se com um médico quando tinha apenas dezesseis anos de idade. Muito conturbado, o relacionamento chegaria ao fim três anos depois. Iara passaria então a se dedicar aos estudos.
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Em 1964, mesmo ano em que ocorreu o golpe militar, ingressou no curso de psicologia da USP. Ocupou-se do estudo do marxismo e começou a atuar no movimento estudantil. Namorou por um breve período com José Dirceu, então vice-presidente do DCE da PUC-SP.
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Reagindo ao agravamento da repressão, Iara aderiu às organizações da esquerda radical. Militou na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares).
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Em abril de 1969, iniciou um relacionamento amoroso com Carlos Lamarca, ex-capitão do Exército Brasileiro e um dos principais líderes da guerrilha. Os dois começaram a viver juntos e tiveram de passar meses se escondendo dos aparelhos repressivos.
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Em 1970, após o assassinato de Carlos Marighella, Iara, Lamarca e um grupo de guerrilheiros deixaram a capital paulista e partiram para o Vale do Ribeira, onde estabeleceram um núcleo de treinamento de guerrilha.
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Iara recebia treinamento militar e administrava aulas de teoria marxista aos guerrilheiros. O núcleo teve de ser abandonado pouco tempo depois, após ser atacado por uma incursão do II Exército.
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Poucos meses depois, Lamarca coordenaria o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, libertado em troca da soltura de 70 presos políticos. A ação foi bem sucedida, mas resultou no agravamento da repressão, que dearticulou por completo a VPR.
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Em 1971, Iara e Lamarca ingressaram no Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). Iara passou a atuar na cúpula da organização e Lamarca foi incumbido de organizar uma nova célula revolucionária no interior da Bahia.
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Em junho de 1971, Iara e Lamarca estiveram juntos pela última vez. O ex-capitão seguiu para a região da Chapada Diamantina e Iara estabeleceu-se em Salvador, em um apartamento no bairro da Pituba.
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Pouco tempo depois, a polícia do RJ prendeu o guerrilheiro José Carlos de Souza, que, sob tortura, entregou a localização de Iara. O exército montou então uma ofensiva, dita Operação Pajussara, articulada em conjunto com o DOI-CODI baiano e chefiada pelo delegado Fleury.
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Na madrugada do dia 20 de agosto, o coronel Luiz Arthur de Carvalho e seus agentes cercaram e invadiram o prédio onde Iara residia em Salvador e atacaram o apartamento com bombas de gás lacrimogêneo.
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Conforme o relato dos militares, Iara teria se suicidado com um tiro no peito para evitar sua prisão. Tinha 27 anos de idade. Na mesma operação, os militares prenderam Nilda Carvalho Cunha, uma jovem de 17 anos, também militante do MR-8, que morava no mesmo local.
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Nilda seria submetida a severas torturas, morrendo 3 meses depois. A mãe de Nilda, Esmeraldina, denunciou as atrocidades cometidas contra a filha e também morreu em circunstâncias suspeitas. Em 2006, a Comissão da Verdade reconheceu a participação do Estado em sua morte.
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Lamarca, por sua vez, seria executado pela ditadura em 19 de setembro de 1971.
O corpo de Iara foi deixado por um mês em uma gaveta no IML e posteriormente entregue à família em um caixão lacrado, com sua abertura sendo expressamente vetada.
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Iara foi sepultada na ala dos suicidas do Cemitério Israelita do Butantã, com os pés voltados para a lápide, de costas para os demais jazigos, em referência à "desonra" do ato do suicídio.
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A família de Iara, entretanto, nunca acreditou no relato oficial, conjecturando que o suicídio fora forjado. Em 1997, durante o depoimento do jornalista Bernardino Furtado à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, a suspeita se confirmou.
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O jornalista revelou que o sargento Rubem Otero, que participara da operação em 1971, afirmou ter disparado contra Iara. A informação foi posteriormente inclusa no livro "Lamarca - O Capitão da Guerrilha", escrito por Emiliano José e Oldack Miranda.
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A presença de marcas de tiros nas paredes do apartamento onde Iara morava foi confirmada pela dona do imóvel. Além disso, arquivos da Polícia Federal na Bahia traziam o registro de que Iara havia gritado "eu me entrego" aos agentes antes de sua morte.
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A família de Iara exigiu na justiça a exumação do corpo. Os restos mortais foram analisados por Daniel Romero Muñoz, professor de medicina legal da USP, que concluiu que o tiro que matou a guerrilheira foi disparado de longa distância, descartando a hipótese de suicídio.
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Com base nas novas informações, a família conseguiu obrigar a Federação Israelita de São Paulo a reposicionar os restos mortais de Iara, removidos da ala dos suicidas do Cemitério Israelita.
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Em 2004, no segundo ano do governo Lula, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do Governo Federal reconheceu oficialmente a responsabilidade do Estado brasileiro pela morte de Iara Iavelberg.
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A militante foi homenageada emprestando seu nome ao Centro Acadêmico do Instituto de Psicologia da USP. Sua trajetória foi extensamente detalhada no livro "Iara: Reportagem Biográfica", de Judith Lieblich Patarra.
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Em 2014, Mariana Pamplona, sobrinha da guerrilheira, lançou o documentário "Em Busca de Iara", com novas informações que desmentem a farsa montada pela ditadura militar para encobrir o assassinato da militante. A obra recebeu menção honrosa do festival "É Tudo Verdade".
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Há 81 anos, tropas dos EUA desembarcavam na Normandia. Heroicizado pelo Ocidente, o "Dia D" também deixaria uma marca sombria: o estupro em massa de mulheres francesas pelos soldados norte-americanos. Esse é o tema do artigo de hoje no @operamundi
De "O Mais Longo dos Dias" até "O Resgate do Soldado Ryan", poucos episódios da Segunda Guerra são tão heroicizados pela indústria cultural quanto o desembarque dos militares norte-americanos em solo francês no chamado "Dia D".
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Bem menos comentados, encobertos por narrativas fantasiosas e açucaradas de Hollywood, são os estupros em massa das mulheres francesas cometidos por esses soldados após o desembarque na Europa.
A incitação ao estupro começava já no recrutamento das tropas.
Há 36 anos, chegavam ao ápice os protestos na Praça da Paz Celestial. Insuflada com auxílio da CIA e de organizações ocidentais, a revolução colorida se tornaria um argumento recorrente da retórica anticomunista. Leia mais no @operamundi
A narrativa é bem conhecida. Um protesto de estudantes exigindo liberdades democráticas teria sido brutalmente reprimido pelo Exército de Libertação Popular por ordem do governo chinês - mais uma da série de "insurreições" que atingiram os países socialistas nos anos 80.
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O número de vítimas era uma incógnita. Jornais como o New York Times falavam entre 400 e 800 pessoas, ao passo que a Cruz Vermelha estimou mais de 10 mil mortos. EUA e União Europeia condenaram severamente o governo chinês e impuseram embargos que estão em vigor até hoje.
Há 45 anos, o mundo quase mergulhava em um apocalipse nuclear. Uma falha de um chip de 46 centavos fez com que o sistema de monitoramento dos EUA indicasse que o país estava sob ataque nuclear da URSS — e eles quase revidaram. Leia no @operamundi
Lançado pelos EUA em 1942, o Projeto Manhattan resultou na criação das primeiras bombas nucleares. O desenvolvimento dessa tecnologia havia sido uma recomendação de cientistas que temiam as consequências da Alemanha nazista desenvolver bombas atômicas antes dos Aliados.
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A Alemanha se rendeu aos soviéticos em maio de 45, mas o governo dos EUA, ciente das vantagens conferidas pelo domínio da nova tecnologia, deu continuidade ao Projeto Manhattan.
Em agosto de 45, os EUA lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Há 10 anos, o jornal britânico The Sun publicava uma imagem da rainha britânica Elizabeth II fazendo a saudação nazista aos 7 anos de idade. Hoje no @operamundi, falamos sobre as relações entre a família real britânica e o nazismo.
Nas imagens, Elizabeth aparece acompanhada da irmã Margaret, da mãe, a rainha consorte Elizabeth Bowes-Lyon, e do tio Eduardo VIII, Príncipe de Gales e Duque de Windsor. Todos fazem a saudação, exceto a pequena Margaret.
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O filme foi produzido no mesmo ano em que Hitler ascendeu ao cargo de chanceler. As imagens foram publicadas em 2015 pelo jornal The Sun. A família real britânica reagiu com indignação, afirmando que a publicação foi tirada do contexto.
O Jockey Club de São Paulo celebrou 150 anos recentemente. Sediada no suntuoso Hipódromo de Cidade Jardim, — um dos maiores complexos art decó do mundo — a instituição é parte integrante do patrimônio cultural da cidade. Mas esse pode ter sido seu último aniversário.
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Fundado em 14 de março de 1875, o Jockey Club foi um dos grandes símbolos de uma São Paulo em metamorfose. Impulsionada pela expansão cafeeira e por seu incipiente parque industrial, a cidade crescia aceleradamente e atraía imigrantes de várias partes do mundo.
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Entusiasmada com as transformações, a burguesia paulistana operou um processo de "atualização cultural", buscando superar seu "passado provinciano". Se São Paulo pretendia ser uma metrópole, era necessário equipá-la com tudo que uma metrópole tem. Incluindo um Jockey Club.
Muito antes dos nazistas chegarem ao poder, o Brasil já tinha seus próprios campos de concentração. Eles eram destinados a aprisionar os retirantes que fugiam da seca no Ceará. Esse é o tema do nosso artigo de hoje para o @operamundi
Os primeiros registros documentais de seca no Nordeste datam já do início da colonização portuguesa. As secas são um fenômeno natural característico da região, marcada pelo clima semiárido, com altas temperaturas, baixa precipitação pluviométrica e escassez de rios perenes.
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Não obstante, o modelo econômico agroexportador, baseado em grandes latifúndios e na exploração da mão de obra escrava, foi o fator determinante para que as secas se convertessem em vetores de graves crises famélicas, afetando sobretudo a população mais pobre.