Sobre Rogério Andrade, Ronnie Lessa e caso Marielle
O MPRJ fez uma descoberta importante na Operação Calígula: o PM Ronnie Lessa, acusado pelo crime, foi "promovido" na hierarquia da quadrilha chefiada pelo bicheiro Rogério Andrade após a morte de Marielle. 🧶👇
Mensagens no celular de Lessa mostram que, em set/2018 — 6 meses após o crime —, o PM de fato foi promovido e aumentou sua área de atuação: "(Rogério) está igual pinto no lixo pela parceria. Me deu o céu como limite. O negócio é expandir. Autonomia total". oglobo.globo.com/rio/noticia/20…
Antes, em abr/2018 — mês seguinte ao crime —, Lessa havia virado sócio de Andrade num bingo na Barra da Tijuca. "Estive com o filho do R. O R vai botar lá no Quebra-Mar. Ele mandou me procurar, disseram pra ele que só eu resolvia isso lá", escreveu Lessa. oglobo.globo.com/rio/noticia/20…
Lessa explicou que Andrade queria abrir um bingo no Quebra-Mar, ponto da praia da Barra que ele costumava frequentar. "Falei com ele no zap ontem. Me agradeceu e quer encontrar semana que vem". O interlocutor fica animado com o encontro: "Cara com certeza vai te dar um pedaço".
Segundo o MP, Lessa de fato passou a ser responsável por operar o bingo e até passa a articular alianças com policiais do bairro para evitar operações no estabelecimento. De abril a setembro, Lessa sobe na hierarquia da quadrilha, e ganha autorização para explorar outros pontos.
Agora, os promotores querem saber se a promoção de Lessa tem relação com o crime. No entanto, há poucos indícios que apontem para Rogério como mandante. O bicheiro pode, segundo a investigação, ter atuado como um facilitador, dando aval para a consumação do assassinato.
Outra mensagem extraída do celular de Lessa é reveladora sobre a relação do PM com o bicheiro. "Saiu a liminar do R 🙌", comemorou Lessa no mesmo dia em que a Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio decidiu libertar Rogério Andrade, em 2018. oglobo.globo.com/rio/noticia/20…
Lessa sempre negou relação com Andrade. Para o MP, os laços entre os dois têm mais de 10 anos. Em 2009, o PM foi alvo de atentado à bomba que culminou na amputação de sua perna. Meses depois, o bicheiro foi alvo de outro ataque com mesmo tipo de bomba; seu filho Diogo foi morto.
Sobre a relação Rogério Andrade e Ronnie Lessa, recomendo os eps 1 e 4 de #Pistoleiros, podcast do @globoplay lançado no ano passado. Nesses eps, reconstituo a trajetória de Lessa no mundo da pistolagem. open.spotify.com/show/2UxiteFB0…
Já para entender como chegamos até aqui e como bicheiros — com anuência e apoio da polícia — lotearam o Rio, recomendo a "Lei da Selva", série dirigida pelo @PedroAsbeg que tá no @globoplay. globoplay.globo.com/lei-da-selva-a…
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Analisei os acórdãos dos TJs do RJ, de SP e de MG que mencionam o decreto de Bolsonaro que aumentou os calibres permitidos no país: 351 condenados foram beneficiados e diminuíram penas. 201 deles integram facções do tráfico, milícias ou outras quadrilhas. oglobo.globo.com/brasil/decreto…
Alguns dos beneficiados pela mudança: ex-PM Carlos Eduardo Maleval Fernandes, preso com 895 cartuchos de calibres 9mm, .40 e 380 que seriam vendidos a traficantes na Zona Norte do Rio. Teve a pena reduzida de 8 para 6 anos de prisão após o decreto.
Felipe César dos Santos, o Pietro, apontado pelo MP como um dos chefes da milícia que domina Itaboraí, no Rio. Ele foi preso em 2019 com duas pistolas 9mm e acabou condenado a 6 anos de prisão. Teve a pena reduzida para 4 anos e 2 meses após o decreto do governo.
Dois homens mortos por PMs no Andaraí, Zona Norte do Rio, estavam com R$ 35 mil, afirmou um terceiro homem que foi preso na ação. Os agentes são suspeitos de executarem as vítimas já rendidas. A quantia em dinheiro não foi apresentada na delegacia. extra.globo.com/casos-de-polic…
No relato, o preso afirmou que os homens dormiam numa cabana numa área de mata da favela quando foram surpreendidos pelos PMs. Segundo ele, havia armas e drogas com o grupo, além do dinheiro, que ele afirma ser do chefe do chefe do tráfico da favela, Rodrigo Brasil, o Boneco.
O depoimento ainda descreve que os agentes renderam todo o grupo "sem efetuar nenhum tiro". Em seguida, os homens teriam sido levados para um outro acampamento, mais para dentro na mata, onde seus dois comparsas teriam sido mortos.
A turma de 2000 do Curso de Operações Especiais, aquele do "Pede pra sair!", é uma lenda no Bope. Os formados ganharam apelido de "galáticos", referência ao Real Madrid da época. Um dos "galáticos" acabou fazendo carreira no crime: Adriano da Nóbrega. No ep2 de #Pistoleiros 🧶👇
No início do curso, poucos acreditavam que Adriano conseguiria se formar. O então tenente era grande, desengonçado (seu apelido era "Maromba"), tinha um tipo diferente da maioria dos caveiras, que eram baixos e ágeis, características importantes em incursões em favelas.
Adriano se formou, mas — diferente da maioria dos oficiais que se forma no curso — não fez carreira no Bope. Ele foi expulso do batalhão por indisciplina. Colegas contam que ele fazia operações clandestinas, sem autorização do comando.
Hoje, no @JornalOGlobo: 35 notebooks foram furtados do QG da intervenção federal do Rio, dentro do Comando Militar do Leste, em 2019. Até hoje, o Exército não sabe como os aparelhos foram tirados de lá nem onde está a maioria deles: só 2 foram recuperados. oglobo.globo.com/rio/notebooks-…
O sumiço foi constatado em janeiro de 2019 por um tenente-coronel que precisava trocar o computador de um de seus subordinados, que havia apresentado defeito. Quando chegou à sala onde os notebooks ficavam guardados, ocupada por um general, o oficial encontrou só caixas vazias.
Os aparelhos — todos novos, comprados exclusivamente para os militares que trabalhavam na intervenção — custaram R$ 2,8 mil por unidade. Um soldado que fazia a faxina da sala foi o único militar responsabilizado pelo furto.
Em julho de 2020, apurando a trajetória na PM de Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle, me fiz a pergunta: como o Estado passou a formar mão de obra para o crime? Essa pergunta foi o ponto de partida de "Pistoleiros".
Ao longo de mais de 1 ano, fui a campo, fiz dezenas de entrevistas, fucei documentos antigos da PM e inquéritos arquivados para entender como homens formados para serem "heróis" viraram criminosos. O material deu origem ao primeiro podcast @globoplay produzido pelo @JornalOGlobo.
São 5 episódios, lançados diariamente, de hoje até quinta-feira. Cada um vai partir da trajetória de um matador de aluguel para traçar um panorama do mercado da pistolagem no Rio. A cada lançamento de ep, vou publicar uma reportagem no @JornalOGlobo. oglobo.globo.com/rio/serie-pist…
Munição da PM do Rio abastecia a milícia comandada por Ecko, um dos criminosos mais procurados do país morto pela Polícia Civil. Cartuchos de 15 lotes diferentes foram adquiridos pela corporação, mas acabaram nas mãos da quadrilha do miliciano. oglobo.globo.com/rio/milicia-de…
A maior apreensão que consegui levantar foi em março de 2018. Na ocasião, a Polícia Civil apreendeu, com um homem apontado como “soldado” da milícia, 119 projéteis de forças de segurança. 37 deles faziam parte de 10 lotes diferentes adquiridos pela PM.
Os cartuchos apreendidos eram de calibres 9mm, .40, e 5,56mm. Ao todo, 24 dos projéteis achados com o soldado de Ecko compunham 4 lotes comprados exclusivamente para treinamentos da PM: eles têm uma quantidade de pólvora menor do que os usados em serviço, porém ainda são letais.