Passada a emoção do dia em que a tragédia da morte de Dom e Bruno foi confirmada, é importante não perder de vista passos que ocorreram desde o desaparecimento até a confissão dos supostos assassinos. Não, esse caso não se encerra com a confissão, ainda que verdadeira. (1/n)
Acredito que o tal Pelado e seu irmão tinham, na cabeça deles, motivos para cometerem o crime. E acredito ser provável que tenham sido eles os algozes. Mas isso é só o começo da investigação. Existem estruturas de poder que sustentaram essa ação. (2/n)
Primeiro: por mais influente que fossem os assassinos confessos - líderes de movimentos de classe, ainda que informais, têm sim relação com esferas formais de poder político. Mas foi estranho o prefeito da cidade visitá-lo após o desaparecimento, quando já era suspeito. (3/n)
Dado que sabia-se que havia uma rixa deles e de outros pescadores com o Bruno. E também é fato notório que a região, gigante mas relativamente remota, era carente de estruturas formais de segurança e justiça. Onde falta Estado, alguém assume o papel. (4/n)
Outra coisa estranha foi a rapidez com que 2 procuradores municipais - de Atalaia e da cidade vizinha - se apresentaram como defensores do Pelado. Claro, acredito que sejam poucos advogados na região e o sujeito ter atuação privada á margem do trabalho público é possível. (5/n)
Mas logo dois de uma vez? Não consta que o Pelado fosse um sujeito rico, até o contrário. Daí que, se rico não é, o que atrairia a atenção de dois defensores - advogados de município ainda - seria o que? Que poder ele tem? Tem de investigar. (6/n)
Segundo: é sabido que há na região atuação do crime organizado, tanto no tráfico de drogas, armas e talvez pessoas, a garimpo, madeireiras, caça a pesca irregular. Há ligação do Pelado com esses grupos? Havia nesses grupos interessados nas mortes? (7/n)
O Pelado havia denunciado agressões pela polícia. Elas ocorreram mesmo? Há alguma relação entre as supostas agressões e as confissões. Embora não exclusivas do Brasil, confissões mediante excesso de força policial não são raras. Tem de apurar. (8/n)
Por fim, o mais importante: se foram mesmo os autores do crime, os dois agiram por conta própria? Houve mando? Não é incomum que se confesse um crime porque a vida atrás das grades, ainda que dura, pode ser mais segura pro indivíduo e família do que delatar alguém maior. (9/n)
Por essas e outras, que nós que pedimos #JusticaParaDomEBruno , precisamos de certeza de que as investigações vão continuar para trazer essas respostas e outras. E talvez desbaratar estruturas do crime organizado que assolam aquela região do país.
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Estatística, quando apurada de forma correta, não mente. A interpretação dos dados é que pode levar a conclusões erradas. IBGE acaba de divulgar a taxa de desemprego de maio. Subiu, mas menos do que o esperado. E o rendimento médio real teve mais uma alta. Então foi bom? (1/n)
Não, foi péssimo. Mercado ``errou'' por não ter conseguido captar o impacto do aumento do desalento - aquelas pessoas que por conta da crise nem procuram emprego - o que reduziu a taxa total de desempregados. Ao todo, 7,8 milhões de pessoas deixaram de trabalhar. (2/n)
Levando, pela primeira vez na história, a uma situação desoladora: temos hoje mais pessoas em idade de trabalhar que não estão trabalhando do que ocupadas. Sem contar que aumentaram números de desalentados, desocupados, subutilizados. A abertura dos números foi péssima. (3/n)
Especialistas em epidemiologia, pergunta honesta: faz algum sentido falar em imunidade de rebanho sem vacina? Estava aqui pensando sobre a teoria, vocalizada mais de uma vez pelo presidente, de que o vírus só será vencido quando 70% da população for contaminada (1/n)
Em tese, o patamar dos 70% pode fazer sentido. Mas uma coisa é fazê-lo via vacinação, inoculando uma carga viral baixa e atenuada, que permita que a imunidade do corpo reconheça, se prepare e vença a ameaça e daí se torne apto a enfrentar uma contaminação real (2/n)
Fazer via propagação de uma pandemia parece exatamente o oposto. Pensando aqui em termos de números: o Brasil precisaria que 140 milhões de pessoas fossem contaminadas para que o covid-19 não seja um problema. Em dois meses, o número atual se aproxima de 200 mil (3/n)
Respeito muito o Fabio, mas aqui o dado real acaba desinformando. Embora a comparação com bolsas famílias e Previdência possa ser possível em termos de grandeza, é como dizer que bananas e melões são a mesma coisa, já que são todas frutas. Ligeiro fio explicando (1/n)
A comparação do que podia ter sido feito com o pagamento de juros teria de usar as despesas primárias para ficar mais correta. Nesse caso, o orçamento da Previdência teve um déficit superior a R$ 200 bi no ano passado - isso foi o quanto a receita ficou abaixo da despesa. (2/n)
A despesa primária com juros foi, pelo quinto ano seguido, R$ 0. Isso porque o país tem déficits primários. Na prática, ele gasta mais do que arrecada e tem de ir a mercado pedir dinheiro emprestado - via emissão de títulos - para pagar suas despesas. (3/n)